XXIV

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Atlas observava o jeito como Giovanna segurava a fecha de ouro. Apenas as pontas dos dedos se dedicavam ao objeto tão mortal, indicando também a paz de espírito e precisão que a mãe tinha de autoridade. Ela o mostrava como se fosse um prêmio. 

— Entende o significado dessa flecha, não é? — ela falou séria, mas ao mesmo tempo com bondade, e Atlas jamais seria capaz de entender como ela conseguia fazer isso. 

Tudo isso enquanto acariciava a barriga que carregava seu irmão, ou irmã. 

Sua mãe era uma força da natureza em todos os seus detalhes. 

— Acho que sim, mãe. 

— Você tem seis anos agora, Atlas. — ela falou, o olhando. — A cada dia que passa você fica maior. 

— Você também. — ele rebateu em tom de brincadeira e Giovanna riu. 

— Sim, eu também. 

Ela sentia estar chegando na metade da gestação pelas contas. Se sentia cada dia mais apreensiva, mais tensa, e ao mesmo tempo mais pronta para ser mãe. Mais forte. De alguma forma, porém, ela sentia que os dias de paz não durariam muito tempo, principalmente depois da carta recente enviada para os dois reinos amigos, Manés e Edime, do rei Khalil e do rei Bursin, respectivamente. A notícia de que ela esperava um herdeiro era a esperança que precisava de que o rei Bursin uniria seu exército ao dela caso fosse necessário. 

— Mãe... — Atlas chamou a atenção dela de volta. 

— Ah, sim... — ela olhou para a flecha de ouro novamente. — Isso aqui é capaz de matar alguém, Atlas. Eu sei que você é novo, mas você está sendo treinado para ser um rei, e nada pode nos garantir de que sua posse demore a chegar... veja seu pai. 

O menino abaixou o rosto, uma névoa de melancolia sobre eles. Vez ou outra Giovanna entrava em um estado de tristeza difícil de tirar, e por mais que hoje fosse um dia especial, aniversário de seu menino, 12 luas completas, ela não podia evitar pensar em Alexandre, em como ele iria gostar de estar aqui com eles, curtindo a gravidez e o jeito como essa criança chutava como louca dentro dela. 

— A senhora vai viver muito ainda. — Atlas falou com toda a firmeza de um menino de 6 anos. 

Quase um homem, ela riu. 

— É claro que vou, mas o seguro morreu de velho, e por isso eu quero que você entenda desde cedo o peso das flechas que carrega, que atira. Isso não é só sobre a caça de coelhos e cervos. 

Ele concordou com ela. 

— Eu sei, é uma vida. 

— É uma vida. 

Giovanna respirou fundo ao sentir mais um movimento. Ela se perguntava se isso era tão normal assim, não era possível se mexer tanto tão cedo assim. Atlas riu ao perceber o que acontecia, sentando ao lado dela no banco do jardim, pedindo autorização para colocar a mão em sua barriga. Giovanna deixou, o ajudando a achar. 

— Acho que vai ser um menino, deve participar de competições de corrida em Ártemis. — ela falou depois que os movimentos pararam. 

Ela observou Samir se aproximar deles junto de um homem da guarda. Felipo era um dos soldados responsáveis pela escolta da guarda real e pela proteção do perímetro do castelo. O fato dele estar junto de Samir chamava a atenção dela. Atlas percebeu a mudança de humor e se levantou do banco, ficando ao lado da rainha, ocupando seu lugar como príncipe herdeiro. 

O soldado lhe fez reverência, assim como Samir, e Giovanna esperou. 

— Majestade, tem uma visita no salão real. — o soldado falou. 

Ouro de Ártemis Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora