XXXIX

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Foi com muito custo que Giovanna conseguiu levar Alexandre para dentro. Tirou a roupa molhada do corpo dele, o secando rapidamente e fechando as janelas para evitar o vento. O vestiu com uma camisa branca e secou os cabelos bagunçados. O deitou na cama e beijou seu rosto.

Nero estava com o olhar perdido.

Giovanna saiu do quarto para se trocar e secar os cabelos de novo, trançando os fios. Resolveu fazer uma sopa com os legumes que tinham enquanto ele estava deitado. O choro dele tinha parado e agora estavam em silêncio.

Era pesado.

Depois que a sopa ficou pronta, Giovanna voltou para o quarto com a tigela. Nero tinha os olhos fechados e a respiração profunda. Ele tinha caído no sono.

Sentou ao lado dele na cama, tocando o braço dele devagar. Ele foi abrindo os olhos aos poucos, voltando para a realidade.

— Você tem que comer. — ela falou.

Ele se apoiou na cabeceira e respirou fundo.

— Desde quando sabe disso?

Giovanna abaixou a cabeça, mexendo no lençol.

— Quando chegamos aqui me entregaram as cartas.

— Mas você veio aqui antes, não te entregaram isso antes.

— Não, ficou nos arquivos até que chegaram as novas.

— E você não ia me contar. — ele perguntou a olhando. — Olha para mim, Giovanna. Você não ia me contar.

— Não ia. — ela falou logo, o olhando com sinceridade. — Eu preferia me jogar no inferno do que te ver nesse estado. Eu preferia morrer do que ver esse segredo revelado.

— Preferia me trair.

— Você acha que ia ser fácil pra mim, Alexandre? Quando meu corpo só responde ao seu, quando minha alma só chama pela sua, acha que ia ser fácil pra mim? Acha que eu ia gostar de me deitar com ele?

— Não, Giovanna... eu sei que... inferno. — ele levou as mãos ao rosto.

Giovanna balançou a cabeça, levantando para pegar a tigela.

— Não vamos mais falar nisso. — ela pediu. — Come.

Ele pegou a tigela e colocou no colo. Pegou a colher mas a largou de novo.

— Ele é meu filho, Giovanna. Ele é a minha cara.

— Eu... ele me mandou as cartas de Karen, ela parecia tão convencida de que era de Joha. — Giovanna respirou fundo. — Houve algum momento onde estiveram afastados de alguma forma?

Sim, teve. Ele pensou, mas não queria falar isso em voz alta e jogar no universo a incerteza. Atlas era seu filho e ponto final.

— Não importa, ele é meu filho. Giovanna, eu não tenho dúvidas disso.

— Nem eu! — ela falou rapidamente. — Ele é seu, ele é nosso! Por isso eu tenho medo do que ele possa fazer, ele sabe onde nos afetar.

— Você tem as cartas... 

— Tenho, em Ártemis. Todas organizadas, eu te mostro todas quando voltarmos. 

Nero deixou a tigela no chão ao lado da cama. Se aproximou dela de novo, colando seu rosto no dela. Os últimos momentos repassando em sua mente,  cada palavra dela fazendo raiz em seu peito. 

— Você ia se sacrificar. — ele falou, tocando seu rosto devagar. — Como pode que você ia se sacrificar por nós? 

Ela sentiu o corpo tremer. 

Ouro de Ártemis Where stories live. Discover now