XXV

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aceitação.


O dia estava nublado, um pouco gelado, mas isso não a impediu de sair da cama para prestigiar  seu filho em uma de suas aulas. Ao longo de semanas e meses, ela sabia que Atlas estava se dedicando cada vez mais às suas habilidades de luta, por vontade própria. O seis anos e poucos meses, luas que passaram e ela mal percebeu, deram ao garoto um amadurecimento que a assustou de certa forma. Ascânio dizia que aquilo era natural, inerente ao processo de crescimento e educação para virar um rei, que ele se lembrava bem que Nero não demorou muito para se apegar ao destino e trabalhar nele para ser o melhor.

Atlas era uma cópia perfeita de Alexandre, em cada gesto, cada sorriso, cada cuidado que ele tinha com ela, que agora sentia chegar no final de sua gravidez, com uma barriga enorme e uma criança agitada dentro de si.

Estreitou os olhos ao ver o menino dar a volta no hipódromo, desviando dos obstáculos. Era nítido como até as habilidades de Kiraz melhoraram, tendo mais estabilidade e coordenação. O menino soltou a rédea, pegou o arco adaptado para seu tamanho nas costas e tirou as flechas da bolsa de couro atrelada a sela do cavalo. Posicionou de um jeito perfeito e atirou nos alvos com maestria, acertando bem no centro.

Giovanna ficou orgulhosa, bateu palmas, comemorou ao lado de Alessandra. Olhou para Rodrigo, que observava de pé, apoiando nas grandes que limitavam o espaço do hipódromo.

Em pé.

Seu amigo recuperava a força nas pernas aos poucos, tendo seus primeiro passos há dois dias, durante o jantar, como surpresa para ela e para Alessandra.

Não precisava falar como a artista estava feliz com essa evolução.

Giovanna viu o menino descer de Kiraz, vindo correndo na direção dela. Ele pulou a grade, mesmo com os pedidos dela para não fazer isso pois ele poderia se machucar. A alegria da criança de Atlas foi o suficiente para ela deixar de ser cuidadosa por um momento, e aceitar o abraço apertando que ele lhe dava. Giovanna o acolheu, o parabenizou.

— Você está se tornando um arqueiro de respeito, Atlas. Logo será o melhor de todos os reinos. — Giovanna falou, segurando o rosto do menino, que deixou o jeito sério de lado e sorria como uma criança devia sorrir.

Ele concorda, animado, e beija a enorme barriga de Giovanna, passando a mão com carinho logo em seguida. Ela aprendeu a se acostumar com esse gesto sem chorar todas as vezes que acontecia.

— Tudo para proteger você e meu irmão, mãe! Vou ser o melhor! — ele falou um pouco sério demais para o gosto dela.

Ascânio chamou o menino, que passou por Alessandra correndo. Giovanna o observou ir escutar as últimas orientações do velho. Sabia que cedo ou tarde Atlas teria que se acostumar com a ideia de deixar a infância de lado para se preparar para a sucessão, mas a simples ideia de que isso pudesse estar acontecendo cedo demais, que a carga nos ombros pequenos, de uma criança que até ontem era só um bebê, lhe dava arrepios.

Odiava a ideia de que isso pudesse ser um mecanismo de defesa.

Atlas sentia falta do pai todos os dias, e ela percebeu que devagar o menino foi parando de querer falar de Alexandre, isso o deixava tristeza. Ele preferia agir como o pai do que falar dele, do que se lembrar dele.


Ele começou a percebeu quando os guardas começaram a trocar. Entraram novos homens os quais ele nunca tinha visto, mais jovens, cuja a única ordem que tinham era vigiar Alexandre de uma quase impossível fuga. Ele percebeu também que aqueles rapazes não faziam ideia do que era ser militar, era como se Léo tivesse os pegado na vila e oferecido algumas moedas e ouro em troca de ficarem parados ali dia e noite.

Ouro de Ártemis Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt