XXX

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Nero a seguiu pela vila em silêncio. Ele sorria para as pessoas que o cumprimentavam e ofereciam melhoras, que pareciam surpresa em lhe ver vivo, mas se reservava o direito de ficar calado a observado. Giovanna tinha o ar soberano natural, sem precisar forçar isso. As palavras dela ainda lhe assombravam.

Ela tinha medo agora.

Ela era a pessoa receosa de continuar, e isso o deixava apavorado. Todas as possibilidade que ela teria, quem sabe acordar um dia e perceber que sua vida era muito melhor sem ele nela.

Quando ela acabou sua visita, quando viu que não tinha mais nada para olhar se não ele, finalmente deixou sua visão pousar nele. E era doloroso.

Giovanna se aproximou em silêncio, sinalizou ao seu empregado que já estavam indo embora. Caminharam em silêncio, lado a lado. Nero andava com as mãos nas costas para esconder sua própria agonia refletindo nos dedos e ela olhava para o chão tão fixamente que seria capaz de abrir um buraco se quisesse.

Na carruagem, o silêncio incomodava, dava ânsia, entretanto nem o filósofo mais sagaz, mais entendedor de tudo que existia saberia ter uma só palavra que começasse essa conversa da maneira certa. Tinha o temor.

— Será que a gente... — ele começou, deu o primeiro passo e deu sua flechada no escuro.

— Por favor, não. — a voz dela era suplicante como se estivesse na frente de seu maior castigo.

Não podia evitar ter medo.

Afinal ela teve medo todos esses meses enquanto esteve sozinha.

Não estava mais sozinha e era isso que precisava enfiar na sua mente.

— A gente precisa se entender, eu preciso te entender.

Giovanna respirou fundo, apoiando a cabeça no ombro dele. Alexandre envolveu o braço nos ombros dela, a puxando para ele. Beijou o topo de sua cabeça.

— Não sei se tem o que entender. Eu não sei... não sou a mesma.

— Você é a mesma. É a minha mulher, a mulher que eu amo, e eu não vou embora nunca mais.

— Não pode prometer isso. — ela o olhou finalmente. — Você nunca quis sumir em primeiro lugar. Vai me prometer que não vai mais entrar em campo de batalha?

— Eu não quero perder você. Eu não quero estar longe de você. Não vou arriscar perder a minha família de novo.

— Isso é quem você é, Nero. Você é um guerreiro, está no seu sangue.

Você está no meu sangue agora.

Ela estava morrendo para conseguir acreditar nele. Não porque duvidava dele, mas porque sabia que o destino não estava na mão de nenhum dos dois, a vida não era algo que podia ser controlado e seu curso estava nas mãos de algo maior do que eles. Desviou o olhar, não queria continuar com essa avalanche de angustia que tomava conta dela, a afogava como o oceano ao seu redor nunca conseguiu. 

Ela sempre achou que soubesse nadar muito bem. 

Quando chegaram no palácio, desceu primeiro. Entrou sem olhar para nenhum empregado, seus passos tentaram ser silenciosos pois não queria chamar a atenção de sua mãe e de Atlas. Foi direto para o quarto, respirando fundo ao ver sua filha com os olhos abertos, observando o que dava, completamente alheia de tudo que acontecia no mundo dos adultos. Sentou com ela na cama, desatou o nó do vestido e a parte de cima caiu. Diana parecia sempre faminta, querendo ter cada nutriente para crescer logo e se tornar uma grande guerreira e caçadora. 

Ouviu quando Alexandre entrou no quarto também, se aproximando do pé da cama. Não o olhou. 

— Vai ser assim então? — ele perguntou frustrado. — Ficamos em agonia por meses para agora você fechar as portas do seu coração para mim? 

Ouro de Ártemis Where stories live. Discover now