XXVII

485 59 57
                                    

Ela abriu os olhos devagar quando sentiu o cheiro de mar e o balanço da maré. O barulho do barco a acordava e a embalava ao mesmo tempo. A primeira visão que teve parecia um verdadeiro sonho. Seu marido segurava sua filha nos braços, cantava para ela. Queria guardar para sempre essa imagem. Fechou os olhos de novo, repetia a imagem em sua mente até ter certeza que ela não iria esquecer mais. 

Voltou para a realidade devagar. 

Foi quando percebeu o que tinha visto. 

Seu marido. 

Sua filha. 

Os dois em um mesmo plano, junto com ela. Abriu os olhos mais rápido dessa vez, se mexeu na cama, tentando se sentar, tentando falar o nome dele. O barulho chamou a atenção de Nero, que a olhou tão surpreso quanto ela o olhava. Ele se aproximou dela rapidamente, sentando ao lado na cama. Giovanna olhava entre ele e sua filha. Sua menina perfeita. Sua Diana, sua Ártemis. Olhou para ele de novo, não conseguia falar. 

— Pelos Deuses! Que bom você acordou! — ele falou, segurando Diana em um braço só, tocando o rosto de Giovanna. 

O calor de seus dedos era real, o cheiro dele, os sons ao redor. Tinha algo nesse momento que a colocava e tirava da realidade. O olhar dele, definitivamente aquele castanho, estava sendo capaz de a puxar para o mundo do Olimpo. Os sons que sua filha fazia a faziam ficar na terra, a faziam se lembrar dos últimos acontecimentos. Da invasão, da guerra, das dores insuportáveis que sentiu, de Léo, de Atlas, de Alexandre chamando seu nome. 

— O que foi? — ele perguntou baixo. 

Giovanna o olhou nos olhos, procurou algo que fosse falso e não encontrou. 

Puxou o rosto dele com as mãos, colando seus lábios. Nero correspondeu no mesmo instante. Ele não tinha ideia do tamanho de sua saudade até esse momento. Parecia que seu coração havia voltado a bater no instante em que ela o olhou. A terra voltou a girar, o sol parecia que finalmente iria nascer para ele. 

Se afastaram quando Diana resmungou. Nero olhou para a esposa e viu que ela tinha o rosto molhado das lágrimas. Giovanna cobriu o rosto com as duas mãos. Parecia tão vergonhoso chorar na frente do homem que voltou dos mortos. A deixava fraca. 

— Gio... — ele suspirou o nome dela, procurando seus olhos de novo, afastando suas mãos. — Olhe para mim... la mia luna. 

Ela abriu os olhos surpresa por vê-lo usando o idioma raiz de seu reino. Estava particularmente calada, logo ela, sempre tão falante. 

— Está mesmo aqui? Não é mais um sonho, é? — ela perguntou assustada. 

— Não, não é. Estamos aqui, finalmente. 

— Alexandre... 

— Eu, você, e nossos filhos. — o olhar dele desceu até Diana, que olhava atenta para Giovanna. 

Sorrindo emocionada, a rainha abriu os braços para que ele lhe desse a menina. Nero a colocou ali, e Giovanna abriu o decote da roupa. Seu seio cheio de leite estava dolorido, ela massageou devagar antes de oferecer o bico a Diana, faminta, procurava já o seu alimento. Nero sentiu uma lágrima escorrer. Giovanna fez uma rápida expressão de dor antes de se acostumar com a sensação que era alimentar sua filha. Olhou para Nero novamente, vendo como ele observava tudo com atenção. 

— Faz sentido ela estar tão irritada comigo, isso eu não poderia dar. — ele falou com um leve sorriso. 

Giovanna ficou séria. 

— O que aconteceu? Eu... me lembro da guerra, de Léo... do Atlas... — ela olhou ao redor do quarto do navio. — Onde ele está? 

— Aprendendo a comandar um navio. — Alexandre falou, tocando a perna dela. — Léo está morto. 

Ouro de Ártemis Onde histórias criam vida. Descubra agora