XX

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raiva

O silêncio reinava no acampamento. Giovanna se enfiou na tenda real e não saiu mais de lá. Estava sentada na cama improvisada desde então, olhando para cada canto. Ele deixou um copo meio cheio de vinho, pão pela metade, em uma clara esperança de voltar e terminar a refeição.

Sentia que não tinha mais lágrimas para chorar e que seu corpo estava pedindo socorro de tanta dor que sentia. Dor que não teria remédio, não teria erva para curar.

A tenda se abriu levemente e Romulo entrou segurando um prato de comida. Giovanna o olhava atenta, mas não falava. Ele colocou o prato na mesinha e se afastou.

— Precisa comer, majestade.

Ela fechou os olhos e respirou fundo.

— Eu quero que você se levante com o sol e vá até o palácio para organizar a volta desses homens feridos. — ela usou uma voz de comando. — Organize com Samir uma área do castelo que sirva de reabilitação para esses homens, converse com Finar.

— Sim, majestade. Mais alguma coisa?

— Peça que coloquem Rodrigo nessa tenda.

— Sim, majestade.

— Romulo? — ela o chamou antes dele sair. — Eu esperava mais de vocês para proteger o meu marido.

O homem saiu de cabeça baixa. Ela se levantou e foi até uma prateleira improvisada. A lâmina e a tesoura que ele gostava de usar para aparar a barba, corta o cabelo. Ele era tão vaidoso.

Não conseguia compreender.

Odiava pensar que ele não foi cuidadoso logo agora.

Que fez ela se apaixonar por ele só para ir embora.

Irritada, tomada por uma fúria, Giovanna começou a derrubar todas as coisas que via pela frente. Chorava junto, porque só extravasar nos objetos ao redor não parecia o suficiente. 

Tinha plena consciência de que sua explosão era escutada por todos os outros, mas não se importava nem um pouco. Quando Rodrigo entrou na tenda, carregado por outros homens que seguravam sua maca. Giovanna apontou o local onde ele deveria ficar. 

Quando saíram os homens, Rodrigo olhava tudo ao redor. 

— Eu sinto muito, Giovanna. — ele falou depois de um instante longo de silêncio. 

Ela se voltou para o amigo, a mão na cintura, a outra no pescoço, tudo para controlar  a vontade de terminar de quebrar aquela tenda por inteiro. Tinha vontade de incendiar esse acampamento, incendiar um reino todo. 

Queria queimar nas chamas junto só pela ausência de Alexandre. 

— Sente muito? — ela falou baixo. — Sentem muito por ter deixado o rei se arriscar desse jeito? 

Rodrigo usou a força de seu tronco para sentar na cama. A dor era lancinante, mas ele precisava olhar para ela direito. Apoiou os braços na maca, puxando o corpo para trás até conseguir apoiar as costas em algo. 

— Ele era um guerreiro acima de tudo. 

— Ele era um pai acima de tudo! — ela exclamou. — Como eu vou contar isso para o Atlas? 

Ouro de Ártemis Where stories live. Discover now