XLI

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Alerta gatilho: o começo do capítulo a seguir contém cenas de violência contra a mulher. Denunciem sempre. 





Ela sentou para comer sem apetite algum. Joha não economizava nos comentários mais chulos possíveis, a destratando de todas as formas. Giovanna não desviava o olhar, ela não ia se intimidar. Pensava em coisas boas enquanto seu ouvido era jogado no esgoto. 

Pensava em Alexandre. Pensava em Atlas. Pensava em Diana. 

Era por eles, não era? 

— Vejo que não quer comer, podemos subir então? — ele perguntou, limpando a boca depois de um tempo. 

Ela largou o talher e se levantou. Sentia ele lhe seguindo pelas escadas até que ela parou na porta do quarto. Se voltou para ele e o fez parar com a mão. 

— Vou pedir para a empregada te avisar quando puder entrar. 

— Quero entrar agora, Giovanna. — ele tentou se impor, mas ela o empurrou com força. 

— Já vai me tomar contra minha vontade, o que mais quer de mim? — ela perguntou nervosa. 

Joha foi rápido em a segurar pelo pescoço, a empurrando contra a porta. Giovanna se surpreendeu com a atitude do homem, segurando o braço dele para tirá-lo dali. O rei inimigo apertava até o ar faltar. 

— Você tem sorte que eu só quero uma noite, Giovanna. Eu poderia querer muito mais, eu poderia te querer aqui junto com meu filho. 

— Compraria... compraria uma guerra. — ela falou com dificuldade, tentando se livrar do aperto. 

— Valeria a pena para te ver na lama. 

Quando ela achou que fosse perder a consciência, Joha a soltou. Giovanna caiu no chão, sem forças, tossindo enquanto tentava recuperar as forças. Ela ouviu a risada rouca dele e tremeu. 

— Vou te dar um tempo, estarei aqui fora, não demore. — ele falou antes de se afastar. 

Giovanna olhou para cima com ódio, queria ter sua adaga aqui mesmo para enfiar nas costas desse infeliz. Se levantou com dificuldade, abrindo a porta do quarto. Foi puxada para dentro do força. Antes que pudesse gritar que era um invasor, viu o rosto de Alexandre na sua frente. O homem fechou a porta com força e segurou o rosto dela, o levantando para expor o pescoço agora marcado. 

— O que você está fazendo aqui? — ela perguntou em tom baixo para não escutarem. 

— O que esse desgraçado fez com você? — Alexandre estava tão furioso que a voz mal saia. 

— Nero, pelos deuses, o que você faz aqui? 

— Acha mesmo que eu te deixaria sozinha? Ele já faz isso!

Os dois ouviram uma batida na porta e voz de Joha, mais alterada do que no jantar. Completamente bêbado. Giovanna empurrou Alexandre até uma cortina, mas ele a segurou pela cintura. 

— O que vai fazer? 

— O que acha? Estou seguindo o plano. Fica quieto, Nero, não estraga tudo. 

Giovanna se afastou e Nero se escondeu na escuridão. Ela apagou as velas daquele canto do quarto e foi tirando o vestido. Ouviu a reclamação de Alexandre e o olhou por cima do ombro com raiva. Se seriam um casal de assassinos, que fizessem direito ao menos. Giovanna terminou de tirar o vestido e ficou parada na frente da porta. 

— Pode entrar. — ela falou com certo tédio na voz. 

O olhar de Joha era como se nunca tivesse visto uma mulher nua em toda sua vida. Ele entrou no ambiente devagar, a olhando da cabeça aos pés. Quando a mão grossa tocou sua cintura, ela teve se controlar para não vomitar nos pés dele. 

— Posso me deitar? — ela perguntou, tentando usar a voz mais dócil. 

— É claro, rainha. 

Giovanna se colocou nua no meio da cama. Subiu as mãos até elas se enfiarem debaixo do travesseiro. Para quem olhasse de fora, pareceria que ela estava oferendo nenhuma resistência, mas o gelado da adaga em sua mão dizia o contrário. Ela só ele deitar sobre ela e estaria feito. 

O que era um homem movido pelo desejo. 

Nada se não desprovidos de qualquer inteligência. 

Foi isso que ela constatou quando ele se deitou sobre ela e beijou bem acima de seu seio, apertando o outro sem força alguma, de tão alterado. 

— Talvez eu devesse ficar por cima, o que acha? — ela perguntou calma e ele concordou. 

Quando inverteram posições e Giovanna ficou por cima, fez questão de jogar o cabelo de lado só para contribuir na hipnose. 

— Seu marido é um otário. — ela ouviu ele sussurrar e sorriu. 

Aos poucos ia tirando a mão que segurava a adaga debaixo do travesseiro. Se inclinou até a boca alcançar a orelha dele. 

— O que você quer, Joha? — ela perguntou devagar. 

— Só você, Antonelli. 

— Me encontre no inferno, então. — ela falou com um sorriso antes de ajeitar a postura. 

Joha não teve tempo hábil para reagir. Viu quando ela segurou a adaga com as duas mãos e antes que pudesse empurrá-la para longe, Giovanna fincou a arma em seu peito e girou. Nero saiu da escuridão e a tirou de cima do homem que gemia de dor, chamando a atenção dos empregados do castelo. 

Ele olhou para o rei uma última vez, satisfeito em vê-lo ter uma morte agonizante. 

Esperaram até ele dar seu último suspiro, com isso era hora de ir embora rapidamente. 

— Vamos, vamos, temos que ir embora. — ele falou logo, entregando o vestido para ela vestir. 

Nero já tinha descido as poucas coisas de Giovanna há tempos. Quando abriram a porta do quarto para saírem na escuridão, se depararam com uma empregada que segurava alguns lençóis. Se ela estava do lado de fora esse tempo todo, escutou o que tinha acontecido. Giovanna olhou para ela em um apelo silencioso. Nero apenas a puxou pela mão. 

— Ela ouviu, ela vai ver. 

— Akgun vai calar a boca dela com ouro, vamos embora antes que mais pessoas percebam o que aconteceu. 

Quando o reboliço começou a rodear o castelo, Akgun foi o primeiro a chegar no local. Foi o primeiro a entrar no quarto e ver a adaga enfiada em seu peito. Ninguém reconheceria o símbolo de Ártemis nela, por isso, devagar, foi tirando de dentro do homem e a cobrindo com um lençol. 

— Quem estava com ele? — ele perguntou para a mulher. 

A empregada tinha o olhar chocado, e ele sabia que ela tinha visto. 

— Quem estava com ele, Yagmur? — ele perguntou de novo, mais alto, para que todos ouvissem no quarto. 

— Uma cortesã qualquer. Não sei quem era. 

— Falaram que a rainha de Ártemis estava aqui. — um outro homem falou, um soldado do rei. 

— Está louco? O que ela estaria fazendo aqui? Ela acabou de ter um filho, respeite a mulher! — Akgun o corrigiu rudemente. 

A empregada concordou rapidamente. 

— Não, não era a rainha. — ela falou, e olhou para Akgun. — Ela nunca esteve aqui. 


Ouro de Ártemis Where stories live. Discover now