XXXVI

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A primeira coisa que Giovanna aprendeu na infância com os grandes filósofos era que o sol sempre chegava, e chegava para todos. Não importava se você tinha tido uma noite ruim, a pior notícia, se estava morrendo ou se algum ente querido morreu. O dia sempre nascia novamente.

E enganava-se quem dizia que tudo isso era sobre renovação, chance de fazer o novo. Giovanna entendeu cedo que o sol significava tempo, significava clarear algo que ela não via. As coisas permaneceriam lá, expostas e queimando.

E nela estavam queimando há alguns dias.

Evitava contato com a sua mãe, e passava a maior parte dos dias no jardim que tinha vista para o mar. Esperava um milagre talvez.

Diana crescia mais rápido do que ela imaginava ser possível, e o tempo passando na sua frente em formato de gente lhe dava agonia, por saber que logo a lua cheia chegaria e não demoraria para Joha vir até Ártemis.

— Querida? — ouviu  a voz de sua mãe atrás dela.

Felíccia tinha Diana nos braços, a menina cada dia mais esperta, com os bracinhos para o alto e tudo, envolta de um vestido branco e um colar de ouro de Ártemis para proteção.

Ela sentou ao seu lado e Giovanna ficou olhando para a filha.

— Temos que batizar a menina, não podemos demorar muito.

— Eu sei, mãe. Mê de mais tempo para pensar, eu realmente queria que Alexandre estivesse presente, mas ele não respondeu nenhum das minhas cartas perguntando como ia Atlas e como iam as coisas.

— Alessandra?

— Disse que eles estavam bem, mas brigou comigo pelo o que eu estava fazendo. Eu entendo, ela não sabe.

— Não seria prudente contar?

— E se as cartas caírem nas mãos erradas? Não, de jeito nenhum.

As duas voltaram o olhar para o oceano.

— Vai mesmo fazer isso?

— Pelo meu filho? Pelo meu marido? É óbvio, mãe, eu não consigo nem pensar em não fazer. Me dá arrepio de imaginar estar na cama com esse monstro, mas por eles eu faria qualquer coisa.

— Minha menina... eu nunca... pelos céus, não quero nem pensar nisso, tem que ter outra alternativa.

Felíccia viu a lágrima escorrer dos olhos escuros. Giovanna balançou a cabeça, secando logo. Não tinha porque chorar sobre o inevitável.

— Vamos esquecer isso por enquanto, me dá minha filha. — ela falou com a voz mais suave.

Giovanna colocou a menina deitadas em suas pernas, o rosto voltado para ela. Abri o vestidinho para que ela pudesse pegar um pouco de sol. A menina pareceu sorrir ao sentir o calor em sua pele e Giovanna sorriu junto.

— Vê se pode, é realmente filha do Nero. Feliz com o banho de sol.

Felíccia sorriu, arrumando os cabelos da menina.

— E descabelada como o pai também.

Giovanna riu. Diana era a única coisa que lhe dava alegria nos últimos dias. Fez carinho nos pezinhos que pareciam os pães de Myriad.

— Ela me lembra ele, todos os dias. Gosto de dormir com ela na minha cama, mãe. Ela fica tão confortável.

— Você é uma boa mãe, querida. Tenho muito orgulho de você, por mais que eu tenha medo dos seus próximos passos.

— Mãe...

— Não toma nenhuma atitude precipitada, não vá para Otto. Tire uns dias, vá para ilha de Gaia.

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