XXXII

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"Um deus com um homem não se mistura, mas é através desse ser [Amor, que é um daimon] que se faz todo o convívio e diálogo dos deuses com os homens, tanto quando despertos como quando dormindo" O banquete, Platão.

Sua mãe tinha planejado realmente um belo banquete em tão pouco tempo. Esse cuidado todo, a urgência de organizar, nunca foi muito de sua personalidade. Ela era mais prática como seu pai foi, e se sabia diferenciar certos temperos é porque vez ou outra, quando sentia fome durante suas horas de caçada, entrava pela cozinha do palácio e via as pessoas trabalhando.

— Espero que gostem, aqui temos todas as iguarias de nossa terra. — Giovanna sorriu com o entusiasmo da mãe.

Mesmo não sendo mais a rainha, Felíccia jamais perderia o dom de receber.

— Tudo está uma delícia, Felíccia. — Ysac falou com um sorriso. — Exatamente como me lembro.

— Me surpreende se lembrar de algo que não te agradava na época. — Giovanna falou em tom calmo, bebendo seu vinho aos poucos.

Olhava para Nero do outro lado da mesa. Ele não tirava os olhos dela desde que ela saiu do quarto batendo o pé. Não, não falou nada do que ele queria ouvir, disse que não era momento para aquilo, não quando tinham visitas inesperadas para lidar. O jeito como ele não falou mais nada, como se fechou para ela, já disse muito sobre que pé estavam.

— Meus gostos mudaram, Rainha. Os seus certamente também. — ele falou, palavras que foram tomadas como provocação para quem os conhecia bem.

Não para Ysac, porém. Dizer que ele se arrependia de toda a provocação e desdém de sua juventude era eufemismo. Não tinha sido capaz de se casar ainda, jamais tinha encontrado alguém que lhe provocasse tanto, e que lhe desse propósito como Giovanna fazia. Podia certamente dizer que se tornou um bom rei por pura competição com ela.

Giovanna era única e ele nunca tinha sido capaz de esquecê-la. Mas ele era orgulhoso, ele nunca veio atrás, e quando soube do casamento com Rei Nero, aceitou.

A chance de vê-la de novo o pegou de surpresa, mas ele trouxe aqueles que Nero conhecia em segurança pessoalmente.

— Mudaram, mudaram bastante. — ela falou, olhando para Nero antes de olhar para seu prato.

Galatea observava toda aquela interação com o coração tremendo. Não conseguia acreditar que mesmo depois de todas as rejeições que ouvira de Nero no cativeiro, cá estavam eles em péssimas condições matrimoniais. Parecia um sonho. Quando falou ao rei de Syan que gostaria de agradecer Alexandre pessoalmente, sua intenção era genuína. Depois de tanto ouvir o quanto ele era apaixonado por sua esposa, que estava ansioso para voltar aos braços dela, Galatea conseguiu absorver a ideia.

A realidade que via era muito melhor.

Eles não estavam bem. Nero parecia furioso com algo, realmente incomodado. Ciúme de Ysac era óbvio, mas havia algo mais.

— E com vocês? — Ysac perguntou, olhando para o casal. — Confesso que o casamento me pegou de surpresa, principalmente pela questão de governança, mas também pela diferença de idade.

— Não sou tão mais velho assim. — Nero falou tentando aliviar o assunto, um tom mais humorado.

— Já foi casado e tem um filho. — Galatea falou, querendo participar.

Giovanna revirou os olhos de um jeito que fez Nero segurar o riso.

— Melhor ainda, eu diria. — a rainha falou. — É um homem que saber o que quer, que já tem suas responsabilidades e sabe como tratar uma esposa.

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