Ato I Christian - Heróis

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Herois     

 Desde criança sonhava em ser um super-herói. Pegava a cortina da minha mãe e fingia ser o Super-Homem, o que a deixava muito nervosa. Ainda bem que meu pai sempre a acalmava. Passava o dia inteiro lendo as histórias em quadrinhos de heróis e tinha uma coleção inteira delas.

Sempre quis ser como eles, derrotando os caras maus, salvando a donzela em perigo e o dia. Queria ser forte como o Hulk, inteligente como o Batman e sábio como o Mestre Yoda. Mas meu herói preferido tinha todas essas qualidades, e ele se chama Christopher Jacob Blake, meu pai. Christopher Blake era um ótimo marido, um homem bom, leal, honrado, justo e principalmente, um bom pai.

Quando eu tinha medo do escuro, ele me dizia o seguinte: filho, onde há trevas, existe uma luz diante dela. Enfrente seus medos e encontre a luz. Nunca entendia o que ele queria dizer, mas as suas palavras me deixavam mais fortes para enfrentar meus medos.

Em 1987, meu pai e outros mil funcionários perderam o emprego, consequência da crise que os Estados Unidos enfrentaram na época. Naqueles tempos, meu pai e minha mãe brigavam muito. Eles se pareciam muito comigo e com a Ana.

As contas aumentavam cada vez mais, e o tratamento da minha irmã não ajudava. Quando Sofia tinha 4 anos, ela foi diagnosticada com câncer e meu pai estava desesperado em busca de um emprego, quando finalmente encontrou uma saída: um velho amigo lhe ofereceu uma proposta de emprego no Exército.

Lembro daquele dia como se fosse ontem. Minha mãe e minha irmã chorando e eu só sentia orgulho. Meu pai me disse para ser o homem da casa e proteger minha mãe, minha irmã e todos que eu amasse. Ele me prometeu mandar cartas sempre que pudesse, e o abracei muito forte. Queria ir com ele, gostaria de ser seu parceiro, como Batman e Robin.

Vi as flores desabrocharem na primavera, o calor intenso no verão, as folhas caírem no outono, mas quando chegou o inverno e o frio, a esperança veio junto com ela. A carta que eu tanto esperava chegou, porém nela estava escrito "MORTO EM COMBATE".

Uma vez perguntei ao meu pai se algum dia ele iria morrer, e ele me respondeu que tudo nessa vida tem um começo e um fim e que todos nós um dia iríamos morrer. Eu simplesmente chorei, pois não queria que meu herói morresse. Ele, um dia, me abraçou e disse para não pensarmos em nossas mortes e sim nas escolhas que fazemos na vida.

Passaram dias para o corpo de meu pai retornar e durante esse período, minha mãe e Sofia choravam. Consegui ser forte por elas, não derramando uma làgrima sequer, cumprindo a promessa que fizera ao meu pai de ser o homem da casa. Só não conseguia entender como meu pai não cumpriu sua promessa de me enviar cartas.

O dia que os guerreiros da América iriam receber as honras merecidas não se mostrava glorioso, pois estava frio e chuvoso, como se a Terra estivesse se lamentando das diversas mortes no campo de batalha. Foi incrível como o ciclo da água entrou em harmonia com a corrente de vento para caracterizar um dos dias mais tristes que eu vivi. Os soldados ergueram suas armas para o alto, após um belo discurso do comandante diante dos caixões com as bandeiras de nosso país. O som dos choros das mulheres, mães, pais e filhos era entristecedor. Não tive coragem de ver o corpo do meu pai... quero me lembrar de como ele era forte e destemido. A vontade de chorar aumentava a cada palavra que aquele estúpido comandante, que não deveria ter sobrevivido, pronunciava. Meu pai morreu em combate e esse militar está aqui, gozando das glórias prestadas aos valentes soldados. Esse oficial era um covarde! Bom...era isso que eu pensava.

Depois do funeral, um homem de cadeira de rodas foi à minha casa. Ele usava uma camisa xadrez e um chapéu estilo Willy Wonka. Minha mãe fez um café para sua visita, que não parava de me encarar.

Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora