Ato II Emília - Loja de brinquedos

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                                          30/01/2004. 14:00 / 27/09/2003

Tantas coisas acontecem nessa vida. Às vezes eu penso se sou feliz, muitos me chamam de abestada, indecisa, burra e infantil. Mas sabe de uma coisa, eu me orgulho em ser infantil, as crianças são a única parte pura desse mundo, e também elas não têm as obrigações e as responsabilidades de uma pessoa adulta.

Agora estou com Sofia e seu marido, e o pequeno Enzo, apenas dois meses mais velho que o Jacob. Ah, meu pequeno, sempre que sentir sua falta olharei para essa foto nossa, quero sempre me lembrar de você, meu amor, de suas pequenas mechas douradas, de suas pequenas mãos, de seu sorriso lindo. Mesmo sabendo que ele se foi, eu sempre irei amá-lo. Uma lágrima atinge a foto. Quando percebo que quero chorar guardo a foto em minha bolsa. Agora já estamos chegando, não vejo a hora de ver Ana. Ficar longe dela me deixa mal, como se a estivesse traindo. Conto os minutos para vê-la, curtindo Backyardigans com Enzo, no DVD no carro do Josh.

— Desculpa, Emi, mas ele fica tão quietinho quando assiste Backyardigans — Sofia fala enquanto abre a janela do carro.

— Não precisa se desculpar, eu sei que sou uma mulher adulta, mas amo esses desenhos, meu pijama é das Meninas Superpoderosas e já assisti todos os episódios com o Jacob... — paro por um segundo ao lembrar de nossas maratonas. — Eu amo Backyardigans — falo fazendo um sorriso forçado.

— Emília, espero que não fique chateada, mas eu e o Joey vamos comprar um presente para a afilhada dele — Sofia diz, abrindo a cadeirinha do Enzo e o pegando no colo.

— Sem problemas — menti. Na verdade eu queria chegar o mais rápido possível no hospital.

— Quer ir conosco? — Joey pergunta.

— Se não for incômodo, prefiro ficar no carro — sugeri.

— Fique à vontade, querida — disse Sofia.

Eles saíram. Eu estava tão distraída que demorei a perceber onde estou. A mesma loja de brinquedos onde eu e o Patrick paramos naquele dia para comprarmos o presente do Jacob, a Boyne Toys. Nossa, quantas lembranças com essa loja, e elas não são nada boas.

Saímos do apartamento do Patrick e entramos no carro, onde Martin nos aguardava com o nosso almoço.

— Isso aqui... está uma... delícia — falo com a boca cheia.

— Nossa, você é linda até falando de boca cheia — Patrick diz passando o guardanapo em minha boca.

— Onde vamos, senhorita Emília? — Martin pergunta ligando seu carro.

Ah, Martin, como eu amo o Martin. Ele é um dos motoristas do Patrick, um senhor lindo de cinquenta anos, os cabelos brancos e sempre usando uma boina preta.

— Martin, nos leve para a loja de brinquedos mais próxima — pedi abrindo a janela do carro.

— Temos a Boyne Toys — ele sugeriu.

— Eu tenho uma empresa de brinquedos? — Patrick perguntou com um sorriso torto.

— Sim, senhor, ela tem seu nome pelo menos — Martin falou ligando o carro.

— Ótimo, não preciso pagar — falei me deitando no ombro do Patrick.

— Eu sou bilionário, mas não quero ficar pobre, mocinha — ele murmurou.

— É você mesmo que vai pagar — falei dando de ombros.

Entramos na loja, um paraíso na terra. Ela era linda, toda colorida e cheia de brinquedos. Olhamos toda a loja, que era bem grande. As bonecas, uma mais linda que a outra. Sem nenhuma ideia para o presente. Eu sou a madrinha dele, tenho que dar o melhor presente. Não é sempre que um bebê faz dois meses. Acabei pegando algumas coisas para mim, como essa tiara da Minnie.

— Olha que lindo, Patrick — falei colocando a tiara. — Como estou?

— Bonita — ele respondeu olhando seu telefone.

— Ei, você nem olhou, deixa eu ver o que está fazendo. — Peguei o telefone dele.

— NÃO VAI VER NADA! — Ele pega meu braço com força. — Olha aqui, garota, me devolve o celular.

— Está me machucando, Patrick — falei olhando em seus olhos.

Ele me soltou e entreguei o celular para ele. Um funcionário da loja se aproximou.

— Algum problema aqui? — ouço uma voz masculina e muito familiar atrás de nós.

Quando eu olho para o homem, me surpreendo.

— Arthur? — perguntei.

— Emília? — Ele olhou para mim surpreso e depois viu Patrick. — Patrick, é você?

— Olha o que temos aqui, Arthur!? — Ele se aproximou de Arthur e colocou as mãos nos ombros do irmão. — Como é que está meu irmão mais velho?

— Eu estou bem, Patrick... — ele respondeu com a voz trêmula.

— Patrick, vamos embora. — Pego na mão dele. — Obrigada pela atenção, Arthur...

— Que isso, Emília, eu não vejo meu irmão há... Quanto tempo mesmo? — Patrick perguntou revirando os olhos para Arthur.

— Seis anos! — Arthur respondeu.

— Seis anos — ele assentiu. — E como está o meu cunhado?

— Ele...

— Meu Deus, então vocês ainda estão juntos? — Ele colocou a mão no crachá do Arthur. — Gerente da Boynes Toys... Quem diria que o herdeiro das empresas Boynes seria a merda de um gerente.

— Eu estou feliz aqui...

— E quem te perguntou? — Ele se aproximou do irmão e o prensou na parede. — Gosta de cheiro de macho, né, irmão?

— Patrick, pare com isso, deixa seu irmão em paz — falei, mas ele me ignorou, os outros funcionários perceberam a movimentação.

— Irmão? — Patrick olhou para mim com o semblante enojado. — Eu não sei se posso chamar essa bichinha de irmão.

— Quer que chame a Polícia, senhor Boyne? — uma funcionária de pele negra perguntou ao Arthur, que suava de medo, os olhos cheios de lágrimas.

— Se ele quer que ligue para a Polícia? — Patrick questionou. — Você sabe quem eu sou, mulher?

— Eu não sei quem é você, só sei que está sendo homofóbico, então eu peço que se retire ou ligarei para a Polícia. — Ela chamou os seguranças, que cercaram Patrick. Ele olhou para eles e depois para ela, parecia analisá-los. Depois pegou seu telefone e mostrou para eles.

— Sabem o que é isso? — ele perguntou.

— Está me chamando de burra, senhor? — ela questionou.

— Não, imagina, pela sua cor deve ter ao menos o ensino fundamental — ele riu ironicamente.

— Ah, seu filho... — Ela tentou dar um tapa, mas o segurança pega a mão dela, impedindo-a.

— Olha, temos alguém que soube reconhecer o chefe. — Ele mostra o telefone novamente. — Com uma ligação eu coloco todos na rua, e mais, eu faço de tudo para que seus nomes fiquem mais sujos que lixo. Nossa, que falta de educação a minha, meu nome é Patrick Boyne, dono não só dessa merda de loja, como desse prédio e das lojas de todos esses quarteirões por aqui. Se vocês não voltarem para a bosta dos seus medíocres trabalhos... Bem, é melhor vocês tentarem procurar um novo emprego. Bem longe daqui!

Não conseguia falar nada, apenas tremia, eu queria sair dali. Mas estava paralisada com tudo aquilo, o homem que eu escolhi para namorar era um monstro. Todos saíram dali, menos o Arthur, o coitado não conseguia falar nada, parecia reviver o pesadelo do ano de 1998.

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 Chegamos aos 4 k, tudo isso graças a você que estão lendo meu livro, muito obrigado aqueles que estão sendo leitores fieis. Obrigado por seus votos e comentários..

Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora