Ato I Christian- Felizes para sempre?

358 73 126
                                    

  Toda semana, nas malditas terças-feiras, Ana insistia em irmos ao consultório do Doutor Linderberg, para uma terapia de casal, o que acabou por gerar mais um motivo para brigas. Devido ao trabalho, perdi inúmeras sessões, o que era bom, já que não suportava ouvir aquele velho com bigode de Hitler. Eu entrava em seu consultório pensando em perguntar se ele se casaria com uma judia, mas mantinha a compostura.

Em nossa última consulta, o bigodu..., digo, o doutor disse que uma viagem seria uma ótima ideia para reconciliar nosso casamento, e como sempre soube, essas consultas serviam apenas para torrar o meu dinheiro. Agora estamos aqui, minha mulher e eu, brigados. Ela com muita raiva por eu usar o notebook dela, o que me faz pensar se a bendita frase "até que a morte nos separe" é viável. Ana nunca deixa eu mexer no notebook dela e diz que trata seus livros como se fossem filhos em período de gestação, e que as pessoas só poderão ler suas obras quando der à luz a elas.

Ana sempre foi uma mulher determinada no que faz, escritora famosa e premiada pelos seus best-sellers. Mas antes disso, ela era uma patricinha, filha de um empresário bem-sucedido falecido há alguns anos.

Após o desagradável momento, reconduzi Jacob ao berço e fui verificar o motivo da demora de Ana em se arrumar quando, de repente, ouço uma voz dentro do quarto. Provavelmente Ana está no telefone, o que me deixa curioso a ponto de tentar escutar atrás da porta.

— Aqui como sempre, Emi, Christian e eu brigamos novamente.

Tinha que ser a Emília Clarke, a irmã mais nova de Ana. Nem esse maldito cruzeiro as separa.

Não, ainda não contei pra ele. — Diz Ana com alguma angústia no tom de voz.

Não contou o quê? O que ela está escondendo algo de mim?

— Mas me fale de você, como está sua viagem ao Brasil com o Patrick?

Patrick Boyne, o namorado de Emília. Não vou com a cara dele, um filhinho de papai arrogante que herdou uma das maiores empresas do mundo.

— Emi, você sabe que ele é doente de amor por você.

O que será que Ana esconde de mim? Será que ela pretende pedir o divórcio?

Enquanto eu ouvia a conversa de Ana com a irmã, escuto alguém batendo na porta logo nesse momento crucial.

— Christian, abre a porta! Deve ser a babá do Cruzeiro! – grita Ana.

Vou em direção à porta mas, antes de abri-la, observo pelo olho mágico e vejo uma bela garota com cabelos vermelhos e sardas por todo o rosto, vestida de branco. Com certeza é a babá.

— Olá, meu nome é Valentina, sou a babá do cruzeiro — diz a jovem, apertando minha mão.

— Prazer, Valentina, meu nome é Christian e sou o pai do bebê. Por favor, entre e venha conhecer o Jacob.

Meu Deus, essa é a suíte presidencial? Essa sala é linda! – exclamou, colocando a mão na bancada da cozinha — olha essa cozinha! Nossa, isso é um bar... NO QUARTO? Que demais! Essa televisão é maior que o meu quarto no navio — diz a embevecida garota.

— Ainda bem que gostou, pois você vai dormir aqui na sala junto com o Jacob e poderá desfrutar de quase tudo o que tem na sala — me sentei no sofá e continuei — dormirá no sofá, mas preste atenção: não use o bar em hipótese alguma.

Não ia querer uma adolescente bêbada cuidando do meu filho.

— Eu amei, senhor. Essa sala é mil vezes melhor do que a minha casa e, é claro, senhor, não usarei o bar — diz a jovem, com um sorriso encantador.

Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Where stories live. Discover now