Ato III Christian - O que eu me tornei?

106 22 27
                                    


O que eu me tornei?

Observei todos os passos deles. Daniel, um físico, poderia ser uma pessoa boa. Jorge, um homem alto com uma AK-47, não para um minuto de fumar seu charuto. Ele tem alguma coisa com a Bruna, uma mulher loira que fica tirando e colocando o pente de sua arma. O Jorge não para de olhar para ela. Também tem o gordo do Bob, ele não para de comer e beber cerveja. Também tem o Graveto, não sei o seu nome, mas eles o chamam assim, com certeza pelo fato de ser muito magro. E tem a Sarah, a líder, ela me dá arrepios, mas o que me chama a atenção é que ela tem um rosto familiar.

O Jorge pega a Bruna e a coloca em seu colo, eles começam a se beijar e Jorge coloca a mão nos seios dela.

— Merda, Jorge, leva ela para o mato, essa praia não é motel — diz Sarah, que estava lendo um livro.

Agora é a minha chance. Jorge e Bruna entram na mata.

— Tem certeza de que é seguro aqui? Não é melhor irmos para o barco? — pergunta Bruna, nitidamente preocupada.

— Ei, amor, fica tranquila, o papai aqui vai te proteger. — E eles começam a se beijar, já um pouco longe do acampamento. Bruna tira sua roupa e eles começam a fazer sexo. Eles deixaram suas armas de lado, um grande erro.

— Como você é gostosa, Bruna, eu vou...

"Vai morrer, filho da puta", completo mentalmente e pego um pedaço de pau. Lentamente me aproximo deles e acerto a cabeça de Jorge, matando-o de um só golpe. Antes dela conseguir gritar, coloco minha mão em sua boca.

— Não adianta gritar. — Peguei seu pescoço e girei sem piedade. Deu para ouvir o barulho do seu pescoço quebrando.

Deito do lado os corpos. Tomo um ar, olho para o céu e observo as nuvens, pensando no que eu fiz.

— Merda, no que eu me tornei?

Naquele momento não sei o que senti. Matei os dois sem chance de defesa a eles, o que faz de mim um covarde, mas tinha que ser assim. Escondi seus corpos, e acabei vendo uma foto dos dois com seus filhos. Eles eram casados, meus sentimentos estavam confusos, o sentimento de culpa me consome, mas o sabor de vitória também está presente. Agora, com duas armas, terminarei o serviço e sairei de uma vez por todas dessa ilha, e finalmente meu filho terá um futuro ao lado de sua mãe e do seu irmão.

Mas ainda encaro aquela foto, eles pareciam tão felizes. Caí de joelhos. Dois filhos que nunca mais verão seus pais.

— Muito bem, soldado. — Uma mulher surge atrás de mim.

— Naomi? — Meus olhos se enchem de lágrimas, o efeito das rosas ainda não cessou.

— Não chore, soldado, isso te faz parecer fraco, e isso você não é, então levante sua bunda daí e termine o que começou. — Ela se vira de costas e posso ver o buraco na nuca dela.

Quando ia atrás dela, outra voz surge.

— Isso mesmo, filho, sua missão ainda não terminou. — Meu pai reaparece, mas não consigo encará-lo. Estava com muita vergonha do que fiz.

— Mas eu...

— Christian, você fez o que tinha que ser feito, não pense no passado. Pense em Ana, no seu pequeno Jacob e até naquele idiota do Cody. Dê-me orgulho, filho.

Quando olho para trás, ele não estava mais lá. Merda, quando esse efeito vai passar? Deito no chão me lamentando, ouvindo todas as vozes entrando em minha cabeça. Choro, implorando pelo fim dessa dor.

— Ei, moço, não chore — diz uma voz infantil.

Ergo os olhos e lá estava ela, uma menina tão linda. Ela segura meu braço e me levanta, chego a sentir o toque de nossas mãos.

Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Where stories live. Discover now