Ato II Emília- 1998

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1998 ( Quatro anos antes)

1998 - Quatro anos antes

Período de escola, uma das piores fases da minha vida. Claro que o que está acontecendo hoje também é horrível... Também teve o ano em que meus pais morreram. Ok, uma das piores. Isso parece até mentira, mas nem sempre fui uma mulher bonita como hoje. Era muito estranha, os cabelos enrolados com aqueles óculos quadrados, fora as roupas infantis. Resumindo, sofri bullying até dos nerds. Uma época difícil que prefiro não lembrar, sempre chorando sozinha, sem ninguém para me dar um simples abraço. Meu pai e minha mãe estavam com problemas na empresa, e Ana aproveitava sua fase pós-colegial. Não tinha ninguém, amigos, mãe, pai ou irmã.

Mas naquele dia as coisas mudaram. Foi quando eu percebi que o Patrick Boyne era um monstro para o mundo, mas não para mim.

Patrick era um dos garotos mais populares da escola, as meninas enlouqueciam com a presença dele, e todos os estudantes queriam ser amigos do filho do um dos homens mais ricos dos Estados Unidos. Ele podia ser o garoto mais bonito da escola, ou um dos mais ricos, mas por trás de toda essa beleza escondia-se a face de um monstro. Quase foi expulso tantas vezes, que até perdi a conta, ele se achava melhor que todos, batia nos mais fracos, colocava menores na lata do lixo, arrumava brigas com garotos que não tinham feito nada para ele, fazia maldades com os faxineiros. A tia da cantina foi demitida depois que ele colocou baratas na comida, e todos sabiam a verdade, até a diretora, mas claro que uma funcionária era menos valiosa do que o filho do dono das empresas Boyne.

Patrick Boyne era o capeta na forma de garoto, infernizava a vida de todos, até de seus amigos, menos comigo, ele nunca implicou com minhas roupas, nunca me chamou de infantil, nunca falou mal do meu cabelo enrolado. Existia uma implicância com o meu cabelo. Naquela escola de patricinhas, ter um cabelo liso era o normal, o preconceito estava por todo lugar.

Nossos pais são melhores amigos, e muitos dizem que é por causa disso que ele me respeita. Ele não era meu amigo, pelo contrário, ele sequer olhava para mim. Nossos pais no domingo quase sempre se reuniam, e Patrick sempre ficava calado em minha presença. Na verdade, nem sempre foi assim, quando crianças nós éramos muitos próximos, lembro que nossa brincadeira preferida era de cavaleiro que salvava a princesa de um monstro, e no final nos casaríamos e viveríamos felizes para sempre. Era aquela história bem clichê, mas que eu adoraria que se tornasse realidade. Só que com o Patrick é como se eu casasse com o monstro em vez do cavalheiro, mas acho que só hoje eu consigo pensar desse jeito.

Nós crescemos e ficamos cada vez mais distantes, e Patrick nunca mais olhou para mim. Todos me diziam que ele não implicava comigo só por respeito pela nossa antiga amizade, só que naquele dia percebi que existia algo mais. Era o dia da festa do herdeiro da família Boyne. Arthur Boyne completava dezoito anos de idade, lindo como o irmão, também deixava as meninas loucas, namorou Ana por dois anos, mas ela se separou dele, para desgosto de nossos pais, que sempre quiseram um casamento dos Clarkes com os Boynes.

As meninas só falavam da festa, de beijar garotos e fazer sexo, principalmente com Patrick, e claro que Patrick convidou todos os adolescentes da escola. O dia começou estranho quando Hilary, a filha do diretor, junto com Stephanie e Julie, apareceram para conversar comigo no corredor da escola.

– Emília linda, vai na festa hoje à noite? – Hilary perguntou, beijando minhas bochechas e passando a mão nos meus cabelos.

– Eu acho que sim – falei, dando um sorriso de lado.

– Menina, que bolsa linda. – Stephanie fez um comentário sobre minha mochila da Hello Kitty.

– Obriga...

Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Where stories live. Discover now