Ato I Christian- Escolhas e mudanças

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Enquanto Ana aproveita o spa (sem a minha presença), tento não pensar na conversa que ela teve com a irmã (sem muito sucesso) e vou a um restaurante de frutos do mar para almoçar. Até pensei em almoçar no quarto, mas Ana poderia ficar com ciúmes da Valentina.

O restaurante era muito agradável, com a parede coberta por um aquário com várias espécies de peixes. Peço um risoto de camarão com um suco de laranja para acompanhar. Enquanto termino de almoçar, ouço uma voz familiar:

— Ali, papai, é ele.

Vejo a garota que ajudei, acompanhada por um homem de estatura mediana, pele escura, com roupas de praia, provavelmente o pai dela. Eles vêm em minha direção.

— Boa tarde, senhor, quero agradecer o que você fez pela minha filha – disse o pai da garota, apertando a minha mão.

— Apenas fiz o que acho certo, como policial. Se quiserem me acompanhar, podem se sentar.

— Muito obrigado. Aceito seu convite, mas minha família já está almoçando em outra mesa. Filha, vá com a com sua mãe e suas irmãs, quero conversar com ele a sós. — E ele senta em uma das cadeiras de minha mesa.

- Prazer, meu nome é Christian Blake.

— Eu me chamo Carlos Magno. Pelo que percebi, você é um homem honrado e justo. É uma coisa rara hoje em dia — Magno estica sua mão para o garçom e pede duas xícaras de café.

— Hoje em dia não se pode deixar crianças e garotas sozinhas. Já vi casos horríveis envolvendo garotas da idade de sua filha.

— Aqui está o café de vocês – diz o garçom, servindo-nos.

Obrigado. Mas garotas dessa idade também acham que ficar perto dos pais é vergonhoso.

— Mas é melhor ter vergonha dos pais, do que perder a vida, não é mesmo?

— Com certeza. Mas me conte mais de você, está viajando sozinho? — Magno pergunta enquanto bebe seu café.

— Na verdade, estou viajando com minha mulher e meu filho. Enquanto eu falo, aparece uma garotinha ao lado da nossa mesa.

— Ei, fugiu da mamãe, né, danada? - Magno pega a garota no colo. — Essa é a minha caçula. Vamos, Michelle, diz para o moço quantos anos você tem.

— Tenho quato. – Michelle fala com a linguagem peculiar das crianças pequenas.

— Você é linda, Michelle! Meu filho se chama Jacob, tem seis meses.

— Mas onde eles estão? Desculpa a intromissão.

— Minha mulher quer ficar um pouco sozinha. Acho que meu casamento não está indo muito bem, e o meu filho está com a babá. E você, tem quantos filhos?

— Tenho quatro. Juliet, a garota que você ajudou, tem quatorze anos. A Sheila tem dez, a Sophia cinco, e a Michelle, que você acabou de conhecer. Minha mulher está grávida de mais uma menina. Acho que se eu quiser um filho terei que adotar.

— Nossa, vocês têm uma babá, não?

— Não, eu e minha esposa preferimos cuidar delas sozinhos. Desde criança eu fui criado por treze babás diferentes. Não tive um amor de mãe e muito menos de pai. Por toda a minha vida, jurei nunca fazer o que meus pais fizeram comigo.

— Como Ana e eu não temos tempo por causa do trabalho, fica difícil cuidar do Jacob sem a ajuda de uma babá.

— Você me desculpe o meu jeito sincero, mas vocês estão em férias, hein? Com tempo de sobra para cuidar do seu filho, e mesmo assim contrataram uma babá? Perdendo o tempo em que vocês podiam curtir o seu filho? Você realmente quer perde os primeiros passos dele? Já pensou se a primeira palavra dele for o nome da babá, em vez de papai ou mamãe? Quando o Jacob crescer, ele não vai se importar com roupas de marca, em qual escola vai estudar ou qual será o tema da próxima festa de aniversário. Ele só vai se importar com o amor que vocês dão. Então, um conselho de pai: não jogue fora a oportunidade que você tem de cuidar do seu filho. – Magno fala olhando nos meus olhos, tentando me convencer, enquanto ouço, boquiaberto pelo estilo direto do homem.

Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Where stories live. Discover now