Ato II Cody- Jogando xadrez com os anjos.

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  Já se passaram uns três dias desde que eu e o Christian tentamos consertar o localizador. Sem sucesso, esperamos agora por um milagre. Nesse tempo, já jogamos Poker e vários outros jogos de cartas, não consegui vencer nenhuma partida, agora já estamos há mais ou menos duas horas jogando xadrez, e eu já perdi umas três vezes.

— Xeque-mate — E Christian ganha novamente.

— Ah, desisto, eu não consigo ganhar nada de você. — Jacob solta um riso. — Ei, eu pensei que você estava torcendo por mim.

— Vamos jogar de novo. — Christian redistribui as peças no tabuleiro.

— Para perder de novo? Não, obrigado. — Nunca fui bom em xadrez. A quem eu estou querendo enganar? Eu não sou bom em nada.

— Então o que sugere? Não temos nada a fazer além de jogar. — Christian pega o Jacob no colo e começa a levantá-lo para o alto.

— Sei lá, já pescamos, já jogamos, aprendi a trocar fraldas e essa parte não foi tão legal, e até lemos os contos infantis, conversamos sobre sua vida, aliás, a história do seu pai é muito triste, daria um belo livro.

— Isso mesmo, conversamos sobre a minha vida, mas não da sua, e isso não é justo. — Disse Christian.

— Minha vida é sem graça, não é como a sua. — O que eu poderia contar? As histórias de Christian são emocionantes. Se a minha vida fosse um livro as pessoas entrariam em depressão.

— Todos têm algo a dizer, e com certeza um garoto que se arrisca a salvar um bebê deve ter uma bela história.

— Desculpe te decepcionar, mas minha vida se resume a torcer para o meu pai não me bater quando eu voltasse para casa. Enquanto o seu pai te dava orgulho, o meu me batia e muito, tenho até hoje as cicatrizes. — Olho para cima, perdido em meio às lembranças.

— Desculpe se eu toquei nas feridas, mas todos temos os nossos fantasmas do passado, e às vezes é bom colocar para fora o que sentimos. — Ele coloca as mãos em meus ombros, quando uma lágrima rola em minha face. — Às vezes chorar também faz bem.

— Mas nem tudo na minha vida foi ruim. Até os oito anos de idade tinha uma mãe que me amava, mesmo com o pouco tempo que tínhamos juntos. São as únicas lembranças boas que eu tenho. Como ela trabalhava muito como enfermeira, só a via à noite. Enquanto ela esteve viva, ela me chamava de anjinho. — Coloco a mão em meus olhos, tentando esconder o meu choro, quando Christian se aproxima e diz:

— Mesmo não acreditando em anjos, de uma coisa eu tenho certeza, você é o anjo da guarda do Jacob, você é um grande homem, Cody, nunca se esqueça disso. — Ele me abraça, começo a chorar como uma criança, nunca ninguém fizera isso comigo antes, nunca senti o calor de um abraço amigo. — Pode chorar, garoto.



Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Where stories live. Discover now