Ato III- Christian - Irmãozinho caçula

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Irmãozinho caçula

Nossa, como minha vida mudou! Quer dizer, eu dizia para mim mesmo que ela mudaria, mas para melhor. Não que ela esteja ruim, porque conhecer o Cody foi muito bom, ganhei um irmãozinho caçula. Sempre quis ter um irmão menor para brincar, aí ganhei uma irmã.

O ruim é que, além de ter que cuidar do Jacob, tenho que tomar conta do Cody. Ele tem um senso de humor exagerado, às vezes se acha engraçado, algumas piadas até tem graça, mas outras fracassam miseravelmente. Ele tem um grande coração, com uma enorme carência paterna, mas uma coisa que ele não sabe é que nunca me esquecerei do que ele fez pelo Jacob, e que agora ele faz parte da minha família.

E será hoje que sairemos dessa ilha. Não sei se o Cody gostou da ideia, achei ele estranho a semana toda. Primeiro achei que estava doente. Esse é o meu maior medo em ficar nessa ilha. Não sabemos até quando estaremos bem, talvez até uma simples gripe possa levar um de nós a óbito. Minha maior preocupação é o Jacob, não sei o que aconteceria comigo se ele adoecer e morrer em meus braços, por isso vamos enfrentar o mar novamente. Teremos mais chances de sermos regatados, não vejo a hora de ter notícias de Ana.

A maioria dos meus pensamentos se relaciona à sobrevivência de Jacob. Prometi à Ana que salvaria o nosso filho, mesmo que fosse a última coisa que eu fizesse, mesmo que isso signifique matar alguém. Não posso dizer que matei aquele garoto, mas poderia ter evitado a morte dele. No entanto, eu quis assim, pois sua presença no bote colocaria a vida de Jacob ou até mesmo a minha em risco. Aquele garoto era um drogado.

Às vezes acho que fui duro demais com Cody, principalmente quando discutimos a existência de Deus. Sempre culpei Deus pela morte do meu pai, eu era o único de minha família que acreditava nele, mas parei de culpá-lo, já que não posso culpar alguém que não existe. E se ele realmente existe, espero que tenha poupado a vida de Ana.

Ana, como eu sinto a sua falta, de nossos beijos, de nossos abraços demorados, de receber um carinho na cabeça, de acordar ao seu lado e dizer em seu ouvido como é importante para mim, até mesmo de nossas brigas, e pensar que daqui a nove meses você me dará outro filho ou uma filha. Sempre quis ter um casal, será que é uma menina? Se for, com certeza será tão bela quanto a mãe. Se for um menino será amado da mesma forma, mas espero estar vivo para ver isso acontecer.

— Bom dia, dorminhoco! O café está pronto. — Abro meus olhos e vejo Cody cozinhando algo, isso não é possível, devo estar em mais um dos meus pesadelos.

Ele estava sorridente e assobiando. Muito estranho, já que o Cody passou a semana toda pra baixo. Levanto-me e vejo Jacob, ainda dormindo, agarrado com o Uni. O Uni era velho e encardido, era o velho ursinho de Emília. Ana dizia que ela era apaixonada por esse urso.

Saio da caverna, o dia está lindo. Ainda bem, já que sairemos ainda hoje. O Cody tem razão quando diz que dormir nessa caverna com o som da cachoeira é relaxante, bem melhor que aquele bote, porém ainda o considero mais seguro para passarmos a noite.

O cheiro estava muito bom, pela primeira vez o Cody faz algo assim. Ainda mais pela manhã, já que costuma acordar tarde. Parece muito com a irmã de Ana, que só acorda depois do meio-dia.

— Hum, que cheiro bom — comento sentando no chão.

— Ovos mexidos, espero que goste. – Cody coloca os ovos no coco vazio, que usamos como prato.

— Quem é você e o que fez com o Cody? — pergunto em tom de brincadeira, mas acho que ele quer algo de mim. Eu fazia muito isso com a minha mãe, principalmente quando queria brinquedos novos.

— O que foi, eu não posso nem fazer o café da manhã?

— Pode, mas fazer no nosso último dia nessa ilha? Bom, pelo menos será uma boa refeição antes de partimos — falo enquanto espero os ovos esfriarem. Sem talheres, usamos as mãos mesmo.

Vidas entrelaçadas - Uma luz diante das trevas Ato 1Where stories live. Discover now