2. O retorno de Ying Kong Shi

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Nada de estranho aconteceu nas últimas horas antecedentes ao encontro de Yan Die e Li Fei — completos estranhos um para o outro.

Exceto pelo fato de que a empresária, e Shuang Mi, não conseguiram entrar em contato com o fornecedor tal qual deixara as duas plantadas no restaurante. Como também, não encontraram ninguém chamado Shao Gong na lista de nomes de fornecedores da China's Modeling Agency. Talvez, ele sequer existisse.

Entretanto, a empresária, muito menos sua assistente, perdera seu precioso tempo tentando entender o que de fato aconteceu. As evidências mostravam claramente, até onde as duas conseguiram enxergar, que se tratava de uma brincadeira de mal gosto de alguém que não tinha nada mais de útil para fazer. Não tinha porquê dar importância. Havia outras coisas com o que se preocupar.

Ou outro alguém em quem pensar.

O dia de trabalho de Yan Die, fora tranquilo, mesmo que ela não tenha conseguido parar de pensar no jovem rapaz que a salvara do pequeno incidente no corredor do banheiro do restaurante. Ele era tão lindo. Era a primeira vez em muito tempo que a empresária sorria ao lembrar de alguém. Aliás, não havia ninguém de quem se lembrar, apesar de sentir interiormente que existia sim, alguém, e que esse alguém lhe magoara muito. Desde sempre, ela se dedicara ao trabalho, e namorar nunca esteve em sua lista de prioridades. E era algo que nunca estaria, segundo ela.

Independentemente de terem trocado apenas algumas palavras, Yan Die sentira como se os dois fossem muito próximos um do outro, e isso a empresária nunca havia sentido com ninguém. Ela sequer sabia o nome dele, e nem ao menos tinha certeza de que o veria novamente — algo que, no fundo, ela gostaria muito que viesse a acontecer —, mas não conseguira parar de pensar nessa possibilidade. E nem esquecer seus olhos negros e profundos quando olharam para ela por alguns segundos.

Yan Die não queria pensar nele, nem ao menos sentir o que sentia quando pensava nele; sentia-se queimar por dentro e por fora, como se o fogo fosse de sua própria natureza; o coração disparava, como se, a qualquer momento, ele fosse parar de bater; suas mãos suavam ao pensar na possibilidade de ver aquele jovem novamente. Aquelas sensações eram perturbadoras e confusas. A mulher não sabia o que elas queriam dizer, e tinha medo do que poderia ser.

No entanto, por mais que ela tentasse se afastar seus pensamentos do rapaz e focar em seu trabalho, ela não conseguia. Era impossível não lembrar dele, e evitar que um sorriso bobo aparecesse em seus lábios.

***

Depois de uma longa e proveitosa tarde na companhia de Ji Chen, e de seus pais, Li Fei fora para casa — para o seu apartamento, na verdade, tal qual somente Ji Chen, tinha o endereço. Ele não aceitou ficar para o jantar, apesar de seus pais terem insistido muito, já que momentos como aquele entre os quatro, era raro. Não que Li Fei tivesse alguma coisa para fazer a noite, mas ele era bastante reservado, gostava de ter o seu espaço. Em outras palavras, ele gostava de ficar sozinho, e refletir sobre os seus tormentos internos. Era por esse, e outros motivos, que Ji Chen o considerava um cara estranho.

Li Fei não se considerava um cara estranho. E sim, apenas alguém com problemas como qualquer outro ser humano normal. E ele era mesmo. Porém, isso estava prestes a ser mudado.

Em seu quarto, o jovem abriu a porta de vidro que dava acesso a varanda, e saiu para admirar a paisagem de um ângulo melhor. Era noite, e ele estava usando um roupão de cor preta, pois havia acabado de tomar banho. Li Fei colocou as mãos no bolso do roupão, e ficou a sentir a brisa fria, mas suave, acariciar o seu rosto enquanto permanecia com os olhos fechados.

Quando fechou os olhos, a primeira imagem que viera a sua cabeça fora a da mulher que viu no corredor do banheiro do restaurante. Aliás, não tivera um momento, desde que a viu naquele corredor, que ele não tenha pensado nela. Ela tinha um rosto familiar e uma beleza tão incomparável quanto inesquecível. Porém, essa não era a principal razão pela qual ele não parava de pensar nela. Ele não sabia qual era a outra razão. Mas, não pensou muito sobre a questão.

Entre Fogo e Gelo ʸᵃⁿˢʰⁱWhere stories live. Discover now