Capítulo Cinco.

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Maju narrando:

Fiquei nadando em pensamentos, discordando de mim mesma, não acreditando, vivendo um pesadelo, praguejando contra a criança que agora habitava minha barriga.

Um Santa Fé preto parou no acostamento e levantei meu olhar, era impossível enxergar pelos vidros fumê. Quem eu menos esperava ver surgiu, dentro de uma bermuda preta com detalhes brancos, um boné, uma camisa cinza de alguma marca de ladrão que desconhecia. Aquele rosto deve me causava um enjoou, era culpa daquele idiota, desgraçado, tudo culpa dele!

─ Entra ─ me deu um ordem e o fitei com desdém.

Quis levantar e soca-ló, mas sentia-me debilitada para qualquer ato de agressividade. Senti minhas pernas doloridas, meu rosto inchado assim como meus olhos, meu estômago contraindo. Cruzei meus braços e fechei o semblante, não sairia dali com ele, não sairia com o culpado da minha vida ter virado um inferno.

─ Tá fazendo marra é? Eu não tenho todo o tempo do mundo.

─ Não vou com você ─ sibilei.

─ Então fica aí e dorme no banco, só tem cuidado pra algum estuprador não se aproximar de você, as ruas daqui geralmente ficam bem vazias pela madrugada.

Ele ia entrando naquele carro quando me senti rendida, era tanto humilhação que não acreditava, eu não acreditava que estava me rendendo à um traficante mesquinha. Entrei naquele carro chorando pela humilhação.

Eu inalava o ar e sentia as lágrimas mornas serem secadas em meu rosto. O ar deixava meus olhos ardendo mais ainda e no rádio tocava ''Bruno Mars ─ When I was your man'', justamente para piorar minha situação de tristeza. Aquele cheiro do Luan me fazia querer abrir aquela porta e pular fora, eu estava caminhando em direção meu maior pesadelo, estava indo pra uma favela, um lugar absurdo.

Sentia muito nojo de mim naquele momento.

─ O que aconteceu? Você foi expulsa de casa por quê?

Ele perguntou calmamente e perdi o movimento dos dedos só de tão forte que os apertava, chorei mais ainda e sentia raiva, muita raiva, só pensava em quão mal filha havia sido, eu havia sido um monstro pra minha família, eu devia ser a boa menina e ser um orgulho, fazer uma faculdade na melhor do Rio de Janeiro, comandar a Arezzo e me casar com um menino rico dando aos meus pais filhos lindos e com futuros promissores.

─ A culpa é toda sua, seu favelado de merda, seu drogado, ladrão ─ disparei gritando e chorando. ─ A culpa é sua e da criança, dessa abominação que tá dentro da minha barriga.

Ele arregalou seus olhos e freou violentamente o carro no meio da pista, como estava sem sinto acabei dando um impulso pra frente e quase colidido com o vidro fumê da janela. Ele estava atônito e pensativo.

─ Você está grávida? Você está grávida de mim?!

Rolei os olhos e desferi um tapa na cara dele com toda minha força. Vi sua mão ser apertada contra o volante e seus olhos ficarem fumegantes.

─ Estou! Minha vida se transformou em um inferno por sua culpa, seu idiota, seu monstro, você me usou e colocou essa abominação dentro de mim, carrego agora um bastardo, uma monstro, a pior criatura filha de um monstro!

Eu gritava e ele sorriu. Não um sorriso sínico ou de mau gosto, mas sim um sorriso grande e extenso revelando as covas em suas bochechas. Abaixei minha cabeça e percebi que eu não tinha mais lágrimas e não havia como fazer mais nenhuma em meus olhos. Estavam secos e inchados. Logo o carro voltou em movimento e voltei na posição reta deitando levemente minha cabeça sobre o banco.

Apenas um TraficanteWhere stories live. Discover now