Capítulo Dez.

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Maju narrando:

Após DG descer e me lançar um sorriso branco e de lado, Neguinho me colocou atrás dele.

─ De coe, patrão ─ cumprimentou sorrindo Neguinho.

─ O que tá rolando aí? ─ DG olhou pra onde estava as meninas, já distante, e me fitou. ─ Aquelas putas arrumaram confusão com tu? Tá ligado que eu mando raspar a cabeça.

─ Tá tranquilo chefe, tô levando aqui a PATROA pra bater uma xepa, vou colar lá na 6 ─ Neguinho deu ênfase no ''patroa'', algo que eu ainda não sabia o que significava.

─ Deixa ela ir rapa, dá área pra mina.

─ O Luan me mandou ficar por perto, mandou eu dar um sapeco em quem quisesse encostar na patroa aqui.

─ Pode crê.

DG me olhou dos pés até a cabeça e sorriu com safadeza e maldade, o neguinho me puxou e me guiou pra sombra, tava fazendo muito sol e tava mega quente ali.

Eu tentava desvendar essas gírias de bandidos e não me vinha nada, esse vocabulário era completamente diferente do meu.

─ Tá ligada que DG não é boa pessoa, fica longe dele mina, ele é mó larica, mó comédia e só vai te usar...

Neguinho falava com sinceridade e sério, eu ainda não havia conseguido processar nada.

─ Onde está o Luan? E pra onde estamos indo?

─ Tamo indo na casa da Priscila né, e o meu patrão tá na boca.

─ Qual tua função aqui? O que você quer comigo? Por que me salvou daquelas meninas? E por que disse pra eu não me aproximar do DG? ─ o enchi de questionamentos.

─ Eu sou aviãozinho e faço parte do CV, tá ligada que as quebradas são perigosas né? Tu encontra cada tipo de larica na seca por aí, nem sempre os trutas tão pelos becos, e tu é a mina do Luan e eu tô aqui pra te salvar dessas empreitadas, tu ia apanhar feio da amante do Luan e esse DG só sabe encher linguiça.

Ele falava tanto em gírias que mal entendia, mal compreendia.

─ Eu não sou da favela, não fala em gíria comigo, e a propósito, não sou nada pro Luan.

─ Foi mal, é costume mona ─ se desculpou coçando o queixo. ─ Tô dizendo que aqui não é um conto de fadas, ninguém aqui é do bem, todo mundo aqui não vai te dar um beijo apaixonado e te salvar com papel de príncipe encantado, fica ligada porque aqui só tem é mercenário, DG é um deles.

Como assim DG? Ele aparentava ser até uma pessoa legal mas obscura, mesmo sendo bandido, mas mesmo assim.

O Neguinho foi conversando comigo até na casa de Priscila, ele era até uma pessoa legal, tinha vinte e um anos e tinha passagem limpa pela polícia, tava na vida do crime pra dar uma vida boa pra mãe dele adoentada e o filho pequeno.

─ O Luan é um bom patrão, uma boa pessoa, todo mundo aqui idolatra ele pelas coisas que ele já fez pra nós, ele sempre deu teco pra salvar a vida de todos, eu não sirvo nem pra Luan ou pra DG, eu sirvo pra toda rocinha e prefiro morrer na batalha do que viver numa sela ─ ele disse deixando-me na porta de Priscila.

Ele havia me falado que Luan havia tido os pais mortos e abriu mão de tudo pra cuidar do irmão recém-nascido dele, não teve pra onde ir e foi criado com uma mulher pobrezinha, todos ali ajudavam ele e aos poucos ele foi de vez pra vida do crime querendo vingança e querendo dar pro irmão dele o melhor.

Todos ali tinham uma história difícil, mas nem por isso sentia pena, tá que ele já se viu na minha mesma situação, sem ninguém e sozinha, mas ele era bandido e jamais aceitaria isso. Eu era filha de um magnata e nem sei como havia dado bola e aceitado a companhia daquele favelado do Neguinho.

─ Tá ─ eu disse ríspida e adentrei a casa de Priscila encontrando só o RL sentado lá.

─ Cadê a Priscila? ─ perguntei calma, RL parecia tranquilo, ele deu um sorriso metálico igual o do Neguinho e se levantou.

─ Escola né.

Merda! As aulas começaram hoje, havia tanta confusão em minha cabeça que mal havia lembrado-me das aulas. Como assim Priscila não havia me lembrado?!

─ Você pode me dar uma carona até lá na casa do Luan?

Eu perguntei aquilo e depois tampei minha boca, não acreditava que havia feito aquele pedido, ele sorriu pegando a chave...

─ Aqui não tem carro? ─  perguntei após ele tirar a moto da garagem pequena do lado do sobrado.

─ Não curto andar de carro, é um pouco ruim pra subir o morro.

Ele desceu e pegou no meu braço me ajudando a subir na moto enorme, ele sorria do meu jeito porque não conseguia colocar o pé no pedal traseiro, bufei da risadinha dele e subi de vez e logo em seguida ele.

─ E o capacete? ─ perguntei insegura.

─ Não é preciso, só te segura pra não cair e se lascar no chão.

Senti um frio na barriga e segurei no bermuda dele e só escutei o sorrisinho de ironia dele.

O RL andava muito rápido, mal conseguia respirar, o vento bagunçava meu cabelo e toda hora tava em meu rosto e quase caí quando fui tentar tirar as mechas loiras do meu rosto. Por onde passava todo mundo me olhava.

Chegamos em frente e o Gabriel brincava na porta de bola com alguns meninos, RL desceu e pegou em meu braço me descendo. Dei um murro fraco em seu ombro.

─ Amo cócegas ─ ele disse.

─ Eu quase caí, idiota.

Joguei meu cabelo e andei até o portão e os seguranças me barraram. Eles carregavam armas enormes e fiquei com medo de chegar tão perto.

─ Libera que essa daí é nossa patroa.

RL disse dando partida e eles liberaram.

─ Desculpa aí, patroa.

Patroa?! Sou patroa de ninguém, eu hein.

Eu entrei suspirando e escutei o grito alto.

─ De nada! ─ RL gritou já dobrando e abri a porta fechando-a.

Me sentei no sofá buscando uma solução para meus problemas, eu poderia ir embora, tinha os duzentos reais e daria pra alugar um hotel, eu sei que não iria viver ali, com o cara que havia acabado com minha vida e ainda por cima vivendo das custas dele. Não daria certo.

Fui até o quarto onde estava hospedada e arrumei minhas roupas em minha mala ainda apreensiva, peguei minha escova dental e minhas vestes sujas colocando tudo em um armazenamento. Meu celular estava descarregado e para minha infelicidade meu carregador não estava ali.

Minha vida só ia de mal à pior. Tudo estava ruim.

Eu desci os degraus segurando a pesada mala e senti meu estômago contrair, puta que pariu, essa gravidez só abriu meu apetite! Daqui à pouco estava obesa e horrível. A empregada não estava ali.

Meu plano já estava formado, eu iria sumir, assim não viveria ali e ninguém iria me encontrar. Eu iria me virar em diante, tentar falar com Rafael sobre o dinheiro e alugar um quarto no hotel cinco estrelas na Barra da Tijuca. Quando ia em direção da saída a porta abriu-se...

Apenas um TraficanteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora