Capítulo Cinquenta e Cinco.

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Luan narrando:

Abria minhas pálpebras lentamente, sentia o cheiro dela em mim, e aquilo me fez acordar com um sorriso nos lábios. Mano, fazia muito tempo que não acordava com um sorriso de satisfação nos lábios, e ainda por cima um sorriso causado por minha mina, minha fiel, minha mulher.

Maju dormia como um anjo bem em minha frente, o sol que adentrava o quarto iluminava os cabelos loiros dela e a deixavam mais linda ainda, puta que pariu!

Com a Maju na minha vida tudo tinha melhorado, era como se ela fosse minha paz, tenho vários problemas na minha vida mas sei que sempre ele vai estar do meu lado.

Tinha ficado com o sangue quente demais e ainda tinha ódio em minhas mãos, Douglas só não havia assassinado minha mãe, como meu pai, e destruído toda minha vida e a do meu irmão, estava com tanta raiva dele, sempre pensei que ele fosse amigo mas na verdade era meu inimigo, estava louco pra ter o sangue dele em minhas mãos e ouvir seu último suspiro.

Tava atrás dele, ofereci uma recompensa de cinco mil pra quem trouxesse a cabeça do Douglas pra mim, não sabia onde esse otário estava, mas não ia desistir até matar ele e despejar a raiva de ter meus pais mortos em cima dele.

Finalmente havia assumido o tráfico, era algo que estava em meu sangue, algo que me foi jurado desde quando estava na barriga e agora finalmente havia assumido o comando, agora toda a Rocinha era a minha e faria de tudo pra ver o sorriso em minha favela, e nos lábios da minha mulher também. Não queria mais colocar Maju nesse lance, queria deixar ela ter essa gestação em paz, ela já tinha passado muita coisa que nem deveria, e agora faria de tudo pra proteger ela e nossa princesa, era as duas mulheres da minha vida.

Observei com admiração aqueles olhos azuis serem abertos aos poucos, minha mão acariciava o rosto dela enquanto minha outra mão acariciava aquela barriga linda que cada dia crescia mais. Maju sorriu revelando seus dentes perfeitos e se aproximou de mim aconchegando-se em meus braços, a abracei com força e encostei meu nariz na testa dela inalando aquele cheiro gostoso que emanava dela.

─ Bom dia, amor ─ ela sussurrou e suspirei sorrindo.

─ Bom dia, meu anjo ─ respondi rouco.

─ Ainda nem acredito em ontem, você todo bonitinho no palco, e ainda mais se declarando.

─ Faço coisas inacreditáveis por tu, coisa chata.

─ Sou chata é?

─ A chata mais linda da minha vida, minha fiel, a mulher que mudou minha vida e a mulher que pra sempre quero viver junto, acordar do teu lado é a melhor coisa do mundo ─ eu falei e a ouvi sorrir baixinho.

─ O que aconteceu com você? Todo se declarando pra mim, onde está aquele Luan irônico? ─ ela indagou levantando seu rosto e me encarando com aqueles olhos que me tiravam o fôlego.

─ Esse Luan tá amando ─ selei nossos lábios.

─ Te amo, obrigada por tudo que fez em minha vida, em todas as lições ─ ela sussurrou e segurei no rosto dela desferindo um beijinho no queixo da mesma.

─ Eu também te amo muito minha patroa, e eu que agradeço, não me vejo mais sem tu, e prometo que nunca mais vou colocar tu ou nossa filha no perigo.

─ Luan, vamos esquecer isso, o quê importa é que você vai deixar o tráfico e vamos criar nossa filha e dar pra ela uma infância perfeita, só pra esquecer um pouco essa gestação conturbada.

Não havia dito ainda pra ela, mas não tinha como deixar o tráfico, minha ficha na polícia tava mais suja que esgoto, não podíamos ter uma vida normal ainda. Eu era procurado, tinha a ficha suja, era o herdeiro do tráfico, e não podia deixar de fazer aquilo por nada, era algo que já estava destinado.

Eu só queria que ela aceitasse esse jeito, eu amava muito ela e nossa filha, jamais queria ter ela longe de mim.

─ Sim, amor ─ concordei e beijei os cabelos dela inalando-os.

Me levantei depois de um tempo trocando carícias com minha mulher e fui no banheiro indo direto pro banho. Escovei os dentes, fiz a barba, saí vestindo uma bermuda jeans lavagem preta e uma camisa polo cor vermelha, calcei a kenner e passei perfume colocando meu cordão de ouro em volta do pescoço, penteei os cabelos e coloquei o boné na cabeça, Maju estava sentada na cama mexendo no celular, mesmo desarrumada ela ficava perfeita.

─ Vou indo pra luta, princesa ─ me apoiei na cama e admirei ela sorrindo enquanto beijava seus lábios docemente, envolvi ela em um abraço e desferi um beijo na barriga dela me despedindo da minha filha. ─ Papai te ama!

─ Vai vim pro almoço? ─ ela perguntou e assenti saindo do quarto e descendo as escadas, peguei a chave da moto, chiclete, meu rádio, minha carteira e saí de casa em direção à moto.

Encostei na pensão e tomei um café da manhã reforçado, hoje era mais um dia, cargas de drogas, cargas de drogas, contabilidade, a distribuição de tudo, porra, era muita coisa pra me ocupar.

Andava pelos becos e vielas tranquilamente, falava com todo mundo que sorria pra mim, finalmente a Rocinha estava em paz com a saída do Douglas, enquanto aquele diabo reinava aqui todo o pessoal tinha medo. Falava com os vapor, os aviõezinhos, e os trutas que ficavam fazendo guarda por lá, tava tudo tranquilo, se a favela tava bem, eu também estava bem.

Cheguei na boca cantando pneu.

─ Patrão é que manda, patrão vai foder, LL chegou aqui e ele é o poder! ─ um drogado cantarolou lá e todos sorriram, inclusive eu. Desci da moto e já fui entrando na boca falando com todo os moleques lá que riam pra mim, deviam estar surpresos por ontem, mas essa era a verdade, meus dias de cachorro no cio acabaram.

Cheguei na salinha onde RL empilhava as caixas com armamento e fechei a portinha suspirando.

─ Alguma notícia do paradeiro de Douglas? ─ eu indaguei e RL mastigou o chiclete se agachando e abrindo as caixas.

─ Ainda não, parece que o desgraçado sumiu do mapa mermo.

─ Ele pode fugir, mas não pode se esconder ─ me sentei em um banquinho lá e peguei uma fuzil dando uma olhada na mesma. ─ RL preciso de um conselho.

─ Solta a voz.

─ Maju quer pra eu sair do tráfico, ela pediu isso por nossa filha e por ela.

─ Tu sabe que isso é impossível, mesmo tu querendo.

─ Mas eu prometi pra ela, pô ─ ia desmontando a fuzil só pra passar tempo mesmo.

─ Tu prometeu algo que não pode cumprir mano, tu sabe que esse é teu destino e ninguém muda o destino, tá ligado? ─ ele sorriu revelando seu aparelho na cor verde. ─ Ela tem que te aceitar assim, se ela te ama ela aceita viver assim, tu cresceu no crime, cresceu vendo teu pai enrolando cigarro de maconha, e tu tá aqui hoje né?

─ Mas se fosse pra eu escolher outro caminho, eu escolheria, mas infelizmente no caminho do tráfico nós não pode voltar atrás. Eu amo ela demais RL, ela é a mina da minha vida.

─ Eu sei, até porque nunca te vi assim com mina nenhuma, mas tu realmente não vai poder cumprir o quê prometeu, tu não pode deixar o tráfico ─ ele afirma ajustando o boné na cabeça e agarrando as pistolas na mão.

Ele tinha razão, eu não podia criar minha filha como um homem normal, e isso me matava demais por dentro.

Apenas um TraficanteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora