Capítulo Sessenta e Dois.

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Maju narrando:

Penúltimo Capítulo.

Lá em baixo se encontrava várias viaturas, não digo várias, umas três ou quatro, digo várias tipo vinte, trinta... havia vários caminhões do BOPE e até mesmo tanques, os policias subiam a escadaria e entravam na favela, nesse momento senti um nervosismo tomar conta de mim, e quando ouvi o primeiro tiro ser disparado contra um dos traficantes que surgiu, senti uma surdez me alcançar.

Várias pessoas gritavam se escondendo dentro de suas casas, e a polícia avançava, era a PM, PC, BOPE e UPP, sem mencionar o exército, todos eles entravam na Rocinha atirando contra os traficantes que defendiam, eu já chorava com desespero.

─ Maju? Maju? ─ Luan me sacudia, meus olhos estavam arregalados, ele estava gélido mas com um semblante firme. RL do lado dele já falava algo no rádio e preparava a sua fuzil. ─ Me escuta, vai com RL pro abrigo, cê precisa sair daqui agora!

─ Não! ─ eu gritei chorando, quase minha voz não saiu. ─ Luan você não pode... não pode me deixar... por favor... vem comigo, por favor, você disse que ia deixar o tráfico ─ eu segurava na mão dele apavorada, um helicóptero sobrevoava a Rocinha, com certeza eles queriam pacificar.

─ Olha, me escuta ─ ele pegou meu rosto em suas mãos. ─ Tu precisa ir, eu vou ficar bem tá? Eu tô desde criança nisso, desde quando tava no ventre, mas tu tá com nossa filha e precisa se proteger, vai com o RL que eu vou ficar bem, logo a gente vai se ver... ─ ele selou nosso lábios demoradamente, aquilo parecia mais uma despedida, as lágrimas caiam freneticamente de meus olhos, sentia meu peito arder, eu estava muito nervosa, não conseguia controlar. ─ Eu te amo...

─ Não, não Luan, não vou deixar você aqui, não posso, vem comigo por favor, vem comigo eu te imploro, Luan não me deixa, por favor Luan ─ eu chorava compulsivamente, Luan soltou minha mão e se agachou rápido beijando minha barriga.

─ Maju, eu te prometo que vou sair de tráfico, eu te juro que a gente vai se ver tá? Tudo vai ficar bem e no final eu vou deixar o tráfico pra sempre, então a gente vai criar nossa filha em paz, mas pra isso acontecer tu tem que ir, tu tem que se proteger, eu vou ficar bem, amor ─ ele gaguejava mas tentava se manter firme.

Senti RL me puxar e Luan me lançar um olhar firme e confiante, meu coração doía demais, aqueles disparos diversos me deixavam atordoada, eu sentia medo, muito medo, nunca havia sentido tanto medo assim em minha vida.

Sentia medo de perder Luan...

RL foi me puxando pra um beco e tentava me soltar, via Luan se levantar e tirar a fuzil dele destravando-a.

─ Raylson? ─ Luan gritou e RL se virou rápido. ─ Cuida dela e da minha filha, por favor.

─ Pode deixar Luan, agora Fé e se cuida aí, vai pra laje.

─ A gente se encontra na boca, como os velhos tempos...

─ Como os velhos tempos... ─ RL repetiu e me puxou pelo braço correndo, ele também estava com os olhos arregalados e bastante assustado, o mesmo tremia segurando a fuzil nas mãos.

Meu coração parecia escola de samba, pra onde olhava via tiro, era uma chuva de bala, e minha maior preocupação era com Luan, não conseguia controlar de jeito nenhum minhas lágrimas...

Neguinho chegou assustado, pela primeira vez o vi sério e perplexo, ele carregava um colete à prova de balas e jogou pro RL que vestiu o mesmo em mim rápido.

─ Mano, fodeu a porra toda ─ Neguinho comentou segurando uma arma enorme com as mãos trêmulas. ─ Tá o exército aí porra, eles vão pacificar o caralho todo.

Apenas um TraficanteWhere stories live. Discover now