Capítulo Sete.

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Maju narrando:

Acordei com o estômago doendo e uma dor de cabeça horrível, abri as pálpebras com dificuldade encarando o teto branco.

Não, não, não! Aquilo não foi um pesadelo, aquilo foi real!

Me levantei rápida com o coração quase sacando do peito, cocei os olhos ligeiro e olhei tudo ao redor. Estava tudo calmo e apenas o vento balançando as cortinas cor cinza era o barulho do quarto. Fazia muito calor ali. Me levantei devagar e meus pés estavam inchados demais.

Ao me olhar no espelho do banheiro nem me reconheci, estava horrível, olhos inchados e vermelhos e rosto com uma marca roxa por conta dos tapas desferidos pela minha mãe. Só de lembrar de ontem sentia minha cabeça doer mais ainda. Olhando pela janela olhei toda a favela, toda a imensa favela, nem parecia ser tão grande mas era imensa completamente. Estava na casa do responsável por toda a desgraçada que acontecera em minha vida, estava prontificada à dar um surto mas lembrei-me que hoje sairia dali.

Meu irmão como sempre daria um jeito, eu tiraria aquela criatura, meus pais me perdoariam e voltaria pra minha vida rica esquecendo que um dia acontecera essa humilhação toda em minha vida.

Tomei uma ducha quente, pelo menos água quente tinha que ter naquele inferno, vesti um simples vestido florido destinada à ligar para Rafael e saber se já se encontrava no Rio de Janeiro, arrumei minha mala sorridente, estava ansiosa para voltar pra casa, definitivamente. Desci as escadas devagar e senti o cheiro de café no ar fazendo meu estômago revirar e o bolor subir minha garganta. A empregada estava na cozinha e preparava a mesa, o Gabriel estava sentado na mesa inquieto.

─ Eu queria que Luan tomasse café comigo hoje, Julieta, sem falar que tem a reunião dos pais mais tarde.

A mulher sorriu docemente e bagunçou a cabeleira loura do garoto.

─ Você sabe que Luan tem que estar cedo na boca, e com certeza vai na sua reunião.

O Gabriel mordeu o pão cabisbaixo e desci então tomando sua atenção.

─ Onde tem um telefone por aqui?

***

Luan narrando:

─ E aí chefe ─ um dos drogados aproximou-se de mim com as mãos no bolso da bermuda velha.

─ Fala aí.

─ Tem o que aí hoje? ─ ele perguntou tirando uma nota de vinte do bolso. Cocei a mandíbula e enxuguei o suor da testa com a costa da mão.

─ Loló, pedra, pó... ─ disse e ele me entregou a nota na mão.

─ Quanto tá o cigarro?

─ Cinco conto, promoção hoje.

Ele sorriu e encolheu os ombros olhando pros lados e estendeu a mão.

─ Quero quatro ─ lhe dei os produtos e ele saiu rápido.

Não gostava muito de ficar na venda, sentia-me culpado por cada pessoa na qual entregava drogas. Muitos viciados tinham famílias, imaginava as pessoas que amava no lugar deles e aquilo me machucava. RL chegou estacionando sua moto na garagem e acendendo um cigarro, ele me olhou e mandou um beijou no ar e dei dedo.

─ E a mina? ─ ele questionou e dei um pulo vasculhando meu bolso na procura da chave. Puta merda! Tinha esquecido completamente da patricinha.

Peguei minha moto e saí dali em alta velocidade, cheguei em casa em torno dos cinco minutos e desci abrindo a porta.

─ Cadê ela?

Julieta deu ombros e sorriu.

─ Ela saiu pra casa da Priscila ─ disse calmamente e entrei em pânico.

Ela não conhecia nada por ali, ia acabar sendo roubada, ia acabar apanhando ou outras coisas piores. Essa menina tava brincando com fogo, ela ia se queimar com certeza, saí disparado na procura daquela doida e grávida andando pelas vielas e becos sozinha.

***

Beatriz narrando:

Gabriel, meu cunhadinho lindinho, andava pelo calçadão de skate e distraído. O parei lhe dando um abraço e o mesmo fez cara de nojo, esse menino era igual o Luan, talvez bem pior.

─ Oi cunhadinho ─ beijei seu rosto e ele esfregou a mão na bochecha com raiva.

─ Essa sua boca já passou por quantas bocas e paus hoje? Vou ter que passar água sanitária!

Ele falou irônico, esse menino era um perigo, mas tinha que ser calma, eu era praticamente a fiel do Luan e quando fosse morar com o Luan esse pivete ia se ver comigo.

─ Você não vai pra escola, cunhadinho? ─ perguntei calma, me segurando pra não dar uns tapas naquele moleque respondão.

─ Não me chame de cunhado, você só é a biscate que meu irmão come e nada mais, ele nunca se interessou por você e você só tem interesse nele, ele tem uma nova namorada e ela tá morando lá em casa ─ ele disse zangado e alto.

Minha boca abriu-se e meu sangue ferveu, quem era essa puta que estava roubando o MEU Luan de mim?! Ela ia se ver comigo!

O Luan era somente meu, e seria para sempre.

Apenas um TraficanteWhere stories live. Discover now