Capítulo Sessenta.

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Maju narrando:

No arpoador estava cheio de gente, todas vestidas de branco e esperando os fogos de artifício que seriam jogados no céu da praia quando o relógio marcasse meia noite.

Dentre todas aquelas pessoas felizes e sorridentes estava eu, segurava na mão de Luan observando a maré sentada na areia fria, era ano novo, era um recomeço, uma nova vida.

Nesse ano havia acontecido muita coisa, nem existe palavras suficientes pra descrever esse ano, mas estava feliz, estava ao lado de uma pessoa que realmente me amava, que se importava e que me protegia. Eu havia mudado pra melhor, e mesmo as coisas acontecendo de forma precoce na minha vida, eu estava muito feliz e realizada.

Às vezes caminhos diferentes dão no mesmo castelo, e isso havia acontecido comigo e Luan.

Acontecia uma festa na praia do arpoador, os turistas tiravam fotos da típicas comidas espalhadas pela mesa longa lotada de pratos típicos da data comemorativa e do Rio de Janeiro, eu não estava com fome, pela primeira vez. Havia comido uma travessa com lasanha e torta de frango todinha nessa tarde, estava completamente cheia.

Na praia estava todos, Carol, Neguinho, RL, Priscila, Rafael, Gabriel, Julieta, e até mesmo Lívia, e ainda havia mais algumas pessoas da favela por lá.

Todos de branco, todos felizes, todos sorridentes. Eu usava um vestido branco soltinho, uma rasteirinha baixa e branca, os cabelos em um coque mal feito, e uma simples maquiagem noturna pra virada de ano. Luan já usava uma bermuda branca da lacoste, uma camisa social branca com as mangas levantadas até os cotovelos, os pés dele estavam descalças e seus cabelos bagunçados, ele não desgrudava de mim instante nenhum.

Caminhávamos agora pela orla da praia, sentia a água tocar meus pés e me fazer ter calafrios, estava muito gelada. Os dedos quentes de Luan estavam entrelaçados nos meus me passando conforto e calor, eu sorria caminhando ao seu lado pela parte pouca movimentada da praia, sentia o vento bagunçar meus cabelos por completo.

Na água algumas pessoas jogavam flores e luzes que brilhavam, estava lindo, Luan também comprou um barquinho com flores e luzes e jogamos junto no mar. A mulher que vendia disse que aquele era um símbolo de sorte, e ela havia lido minha mão dizendo que no ano de 2014 coisas ótimas aconteceriam na minha vida, e que devia aproveitar o tempo o quanto pudesse.

Luan me puxou e me inclinou beijando meus lábios e mordiscando os mesmos, eu retribui agarrando em sua nuca e passando meus dedos por dentro de seus cabelos lisos e bagunçados, sentia sua boca gostosa na minha, sentia seu gosto refrescante de encontro com minha língua que explorava sua boca.

Sentimos alguém jogando água na gente e viramos, Gabriel tava água na gente, seus olhos estavam brilhantes e ele sorria abertamente.

─ Já vai começar a contagem regressiva! Larguem desse namoro e vamos logo! ─ ele tacou mais água na gente e saiu correndo pela areia, Luan sorriu e me abraçou me guiando pra onde o pessoal se reunia. Abracei a cintura de Luan e fitei o céu estrelado que ocupava o céu da praia do arpoador, as estrelas brilhavam e estavam realçadas naquela noite, assim como os olhos de Luan.

Começaram a contagem regressiva, Priscila se aproximou da gente agarrada em RL toda animadinha e Carol fez o mesmo, Neguinho carregava o filho nos braços e sorria pra nós.

Estava em família, estava renascendo, era uma nova Maria Júlia, deixaria todo meu passado para trás e renasceria sendo uma nova pessoa com um novo caráter.

Rafael se aproximou e me abraçou beijando a lateral da minha cabeça, seria difícil me despedir do mesmo amanhã. Gabriel também se aproximou e abraçou o irmão com força.

─ CINCO, QUATRO, TRÊS, DOIS, UM! ─ todos contavam juntos e de repente os fogos foram lançados no céu.

Os fogos de artifício tomaram conta do céu do Rio de Janeiro, meus olhos contemplavam a variedade de cores com admiração, eu sorri e abracei o meu homem com força, ele me deu um abraço de urso e desejou um feliz ano novo, fui abraçar todos e desejar feliz ano novo, Priscila gritava pulando, todos ali gritavam comemorando, o som de gritos, sorriso, foguetes e fogos quase não me fizeram escutar a música de fundo que tocava.

Agora deixaria aquela Maria Júlia para trás e deixaria a nova Maria Júlia, deixaria a Maria Júlia que a favela havia criado, eu não era mais aquela patricinha mimada, eu era agora uma mulher, uma moradora de comunidade. Deixaria a dor e o sofrimento para trás, deixaria tudo isso para trás e seguiria minha vida, teria minha filha, veria ela crescer, e jamais deixaria minha filha ser igual à pessoa que eu era, eu ensinaria minha filha a beleza da favela e que o amor era habitante do nosso lar...

***

Todos começaram a beber, dançar e se divertir, alguns foguetes ainda eram lançados, Luan havia comprado comida para nós mas recusei e só tomei a água de coco, deixamos o pessoal dançando e bebendo pra trás e fomos caminhar juntos, Luan me pegou no colo e correu em direção ao mar, ele me abraçou quando já estávamos dentro da água, a mesma batia bem em minha cintura e Luan colocou minhas mãos em seu ombro pra me apoiar, ele passou seus dedos delicadamente pelo meu rosto e tirou o cabelo molhado que estava grudado no mesmo, senti seu polegar acariciar minhas bochechas e meus lábios.

─ Como tu é linda ─ ele selou nossos lábios com rapidez. ─ Será que nossa filha vai ser igual à você?

─ Quero que ela puxe pra você, principalmente seus olhos.

─ Ela tem que puxar pra mãe ─ ele sorri e encosta sua testa na minha fazendo a ponta do seu nariz se encostar no meu, meus pés tocavam a areia e sentia a água balançar nós dois, estava ensopada e quase tremendo de frio.

Luan soltou minha cintura e meteu a mão dentro do bolso e retirou de lá uma caixinha vermelha de veludo.

Abri minha boca em um ''O'' e quase soltei Luan, mas me lembrei que podia ser engolida pela água.

Luan abriu a caixinha e lá dentro havia um anel de ouro que cabia perfeitamente em meu dedo anelar, era de ouro branco e brilhava.

─ Ia te dar antes mas decidir agora, quero começar o ano assim, mas espera...

Ele guardou a caixinha molhada dentro do bolso de novo e me pegou no colo me levando de novo pra areia, eu ainda estava perplexa, quando ele me colocou no chão ele se ajoelhou bem na minha frente e pegou a caixinha abrindo e tirando o anel.

─ Tu quer casar comigo? ─ ele pegou na minha mão com delicadeza e levantou a caixinha, seu rosto estava vermelho e ele estava com vergonha.

Minha garganta secou, senti meus olhos marejados.

─ É claro que quero, eu te amo muito!

Ele se levantou e colocou o anel em meu dedo anelar da mão direita, em seguida pegou em meu rosto e beijou meus lábios com vontade, ele me abraçou me beijando com gosto e vontade, senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto e uma emoção se alarmar em meu peito, nem acreditava.

─ Te amo demais, Maju ─ ele disse entre o beijo e assenti segurando em sua nuca.

─ Eu também te amo ─ digo com toda a sinceridade do mundo.

Meu coração pulava de alegria, eu casaria com o homem da minha vida e viveria com ele para sempre. É até engraçado lembrar, nós, duas pessoas de classes diferentes, pessoas que se odiavam por ter modos diferentes e que no final estavam juntos e se amando, eu, Maria Júlia Arezzo, filha de empresários e rica, ele, Luan Lima, um traficante, bandido e humilde que jamais me vi junta do mesmo.

E de repente, um bebê surgiu na história e nos juntou, e essa foi a melhor coisa que já acontecera em minha vida.

Mas quem um dia irá dizer que existe razões nas coisas feitas pelo coração?! Ou melhor, por um bebê.

Apenas um TraficanteOnde as histórias ganham vida. Descobre agora