Capítulo Trinta e Quatro.

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Maju narrando:

Acordei com Luan enchendo meu rosto de beijos molhados e empurrei ele.

─ Aí, como você é chato! Eu estou grávida, tenho que dormir bastante.

Me virei pro outro lado me embrulhando e ele se jogou em cima de mim, me envolveu em um abraço de urso e ficou suspirando forte em meu pescoço me fazendo sentir cócegas ao ter sua barba roçando minha mandíbula. Ele selou meus lábios e se deitou do meu lado, ouvi o som do bloqueio de celular mas já estava de olhos fechados e mal percebi que era o som do bloqueio do meu celular.

Saltei da cama agarrando meu celular de suas mãos e nervosamente guardando-o em outro lugar. Visei Luan que agora estava sentado na cama no quarto onde estava hospedada e que mantinha um semblante desconfiado. 

─ O que tu tá escondendo? ─ indagou com curiosidade e neguei com a cabeça.

Não queria contar e nem deixar Luan ver as ameaças de Beatriz, não sabia o quê exatamente Luan poderia fazer. Ele cruzou os braços e arqueou a sobrancelha, ele ficou mais lindo ainda do que já era.

─ Eu quero ver o que tu tá escondendo aí, Maria Júlia ─ ele falou rígido e meu corpo ficou tenso.

─ Nada! Só não quero que você mexa nas minhas coisas pessoais.

─ Tu não acha que eu já mexi em muitas coisas pessoais não? Um celular não é nada.

─ Não gosto de ninguém mexer, encerrou o assunto Luan.

Ele se levantou sério e deixou o quarto, suspirei indo até o banheiro e me despindo, tomei um banho e coloquei um short jeans florido e uma bata de seda cor azul bebê, penteei os cabelos e fui até a cortina, abri a cortina do quarto deixando o sol adentrar pela janela e iluminar todo o quarto, abri a janela e o vento alcançou meu rosto fazendo meus cabelos voarem e bagunçarem por completo. Acho que ainda eram sete ou oito da manhã e estava morrendo de fome, o rodízio de ontem não deu pra nada, antes de adormecer fiquei pensando na minha mãe, não só nela como em toda minha família, ou aqueles que diziam que eram minha família.

Acho que quando se tem tudo em relação aos bens, falta uma coisa, sentimentos. Minha mãe não tinha sentimentos, ela não sabia o quanto esses sentimentos estavam me afetando, porque a favela é cheia de sentimentos...

Olhei pra descida do morro e fiquei admirando um pouco da paisagem até meu estômago roncar de fome, arrumei o cabelo de novo e desci descalça, Luan tomava café e me juntei à ele na mesa realizando o desjejum, Julieta cortava o bolo.

─ Cadê o Gabriel? ─ perguntei sentindo falta do mesmo.

─ Ele já foi, nem ficou pro café e disse que comeria no caminho, hoje ele tem treino de futebol e por isso ficou igual louco.

Julieta sorriu e eu também, ela se ausentou da copa e foi pra cozinha e fitei Luan que estava sério e rígido, fiquei encarando-o até ele levantar o olhar pro meu, seus olhos esverdeados se encontraram com os meus e me senti arrepiar, aqueles olhos, aqueles olhos que confessavam vários sentimentos.

Ele se levantou pegando o boné, a arma e as suas chaves vindo até mim e desferindo um beijo na minha cabeça, ele então se foi e senti a tensão se aliviar do meu corpo, não sei exatamente como Luan tinha aquele poder sobre mim.

Terminei de tomar café e fui pro sofá me sentando lá e ligando a televisão, fiquei vasculhando o Facebook e vendo as indiretas da Beatriz pra mim, coitada dela, eu não estava nem aí pra essa vadia encubada. Aceitei algumas pessoas e umas solicitações de perfis lá da Rocinha, só aceitei por aceitar mesmo e fiquei vendo as publicações...

''Beatriz, ou simplesmente a ex-amante de LL, tá toda nervosinha ao ver que perdeu LL pra nova patricinha que está arrasando por toda a comunidade, eita que LL gosta mesmo é de uma carne nova, talvez tenha cansado de foder uma piranha, vadia e escrota que é Bia. Agora nossa patroa é a loirinha da ostentação, a Barbie da Rocinha.''

Só pra debochar comentei um sorriso e logo veio várias pessoas curtir meu comentário, inclusive a Beatriz.

Fiquei mexendo nas redes sociais sem ter a noção do tempo, só vi que já era uma hora da tarde quando recebi uma mensagem da Priscila.

Priscila às 13:21 ─ Ei, vem aqui em casa, tô sozinha e aluguei alguns filmes pra gente assistir.

Maju às 13:23 ─ Tá bom, me espera no canto da rua.

Me levantei e fui comer alguma coisa, tomei água e fui escovar os dentes, peguei meu celular e dinheiro que ainda havia em minha carteira e saí de casa um pouco aflita, não queria encontrar a Bia por aí...

Luan narrando:

Eu tava mó amarrado na Maju, esse jeitinho dela me deixa muito louco, bem mais louco do que quando fumo uma erva. Nenhuma mina me prendeu assim como ela havia me prendido.

Tava tudo mó bacana, essa nossa relação, mesmo ela tentando resistir às vezes.

Cheguei na boca e fiquei na venda meio pensativo, eu sabia que Maju tava me escondendo alguma coisa, mas eu ia descobrir ela querendo ou não.

DG chegou com os trutas dele e convocou todos pra salinha lá de trás, peguei minha fuzil e me reuni no grupo me encostando na parede.

─ Seguinte, tô querendo atacar a base da PM, um infiltrado meu me disse que eles têm planos de uma futura invasão e quero apagar o chefe dessa operação ─ ele disse explicando tudo e sorri com ironia. ─ Quero Luan e RL na posição da frente pra dar cobertura, Piteco e

Canela do outro lado e eu e Dani atrás de Luan e RL pra ataque.

─ Pra quê atacar mesmo? Nós temos a paz aqui na Rocinha, atacar a PM só vai trazer revolta pra gente nessa merda, não tô de acordo nesse plano não ─ eu disse alto e os moleques concordaram.

─ Quem é o chefe aqui sou eu, então eu que mando aqui nessa porra e eu tô dizendo que vamos atacar e esse ataque vai ser daqui à um mês.

─ Pode crê, mas tá ligado que vai dar merda ─ eu disse pegando minha fuzil e saindo dali em passos firmes.

Douglas é muito é fodido, e tá querendo foder todo mundo daqui. Se ele tá pensando que vou deixar ele foder minha favela e colocar as pessoas que amo em perigo, ele tá enganado.

Maju narrando:

As ruas estavam bastante movimentadas, então não vi perigo em andar sozinha por ali, mas meu coração batia forte e minhas mãos suavam, estava com medo de acontecer alguma coisa comigo.

Avistei longe Priscila parada mexendo no celular, mas na hora que fui dar um passo senti puxarem meu cabelo com força e me jogarem no chão. Quando olhei quem era gelei, ainda mais por ela ter uma arma apontada pra mim, tudo em mim ficou em nervosismo, Beatriz segurava aquela arma com firmeza e me fitava com raiva.

Aí meu Deus, essa menina é doida!

Apenas um TraficanteWhere stories live. Discover now