Capítulo Trinta e Oito.

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Maju narrando:

Eu não andava, eu corria pelos corredores do hospital da Rocinha.

Meu peito batia tão forte e meus olhos inundados transbordavam lágrimas, sentia meu corpo todo se arrepiar e meu rosto arder. Eu chorava muito ao saber que Luan havia sido baleado e se encontrava na cirurgia pra retirar rapidamente a bala, havia acertado uma veia e por isso ele havia perdido duas bolsas de sangue e as plaquetas estavam baixas, o que mais preocupava era saber que o sangue de Luan era raro.

Neguinho me puxou com tudo e me envolveu em um abraço apertado, eu abracei ele e chorei em sua camisa, eu tinha medo de perder o Luan, era difícil dizer mas Luan já havia se tornado alguém tão importante para mim.

Eu já amava Luan, e só era orgulhosa demais para confessar isso.

Neguinho acariciou meus cabelos e me puxou pra sentar na sala de espera e me entregou um copo de água, minha mão estava trêmula.

─ Como isso aconteceu, Neguinho?! ─ eu indaguei, não sabia se a bala havia sido perdida ou proposital. 

─ Olha, eu não sei direito, pode pá?! ─ ele colocou seu braço em volta do meu pescoço tentando me acalmar, mas Neguinho também estava muito nervoso.

─ Neguinho, por favor, eu não posso perder Luan ─ encostei minha cabeça no ombro de Neguinho chorando muito.

─ Ainda não sei como contar isso pro Biel, ele tá pra escola ainda e num sabe de nada, Gabriel só tem o Luan na vida dele como família.

─ Aí meu Deus, como dizer que Luan foi baleado pro Gabriel?!

Eu entrei em desespero mais ainda, eu abaixei minha cabeça e senti a mão do Neguinho em minhas costas. Senti alguém se sentando do

meu lado e era a Priscila com o JL, o mesmo havia levado uma bala de raspão na panturrilha da polícia e soube que um dos meninos havia morrido.

─ Eu disse que ia dar merda, eu disse, agora meu irmão tá em estado grave e tudo culpa do filho da puta do Douglas, eu vou é matar ele ─ RL foi se levantando mas Priscila o puxou.

─ RL, me conta como foi isso, eu não sei de nada ainda!

─ Olha, eu tava do lado do Luan, aí nós tava vidrado no caveirão, ainda não tinha começado o tiroteio aí de repente eu olhei pro Luan e ele tava sangrando no chão, não sei de onde veio essa bala mas da polícia não foi ─ ele confessou e apertei meus dedos com raiva, estava com raiva dessa pessoa que disparou contra Luan.

─ Amiga, se acalma, você tá grávida e precisa manter a calma pra não fazer mal ao bebê ─ Priscila me envolveu em um abraço e eu suspirei pesado, ela tinha razão.

─ Alguma notícia do Luan? ─ Neguinho perguntou aflito e RL negou. ─ E o doador?

─ Doador com O negativo é difícil pô, já tentei mas se for em outro estado vai demorar três ou quatro dias pra chegar e ele precisa até amanhã por causa da cirurgia.

Meu coração acelerou mais ainda, só podia ser uma maldição! Justamente quando tudo estava dando certo, sempre aparecia um problema pra acabar com tudo. Estava com medo, estava com muito medo, não conseguia pensar em perder Luan, era tão pouco tempo junto à ele mas já havia se tornado tanto tempo, ele com aquelas brincadeiras dele, seu cheiro, seu toque, seus beijos, eu não me conseguia mais ver sem isso todos os dias.

Eu me levantei e fui chorando até lá fora, as pessoas me olhavam atônitas e já sabiam o quê se passava, a notícia já corria todo o morro.

Me sentei em uma calçada lá fora do hospital e quis ter meu momento sozinha, foi quando senti uma mão segurar em meu queixo e levantar minha cabeça. Era o Douglas.

─ Maju, eu sinto muito pelo Luan ─ ele disse e funguei. ─ Se precisar de alguma coisa tu pode me contatar, Luan é meu parceiro... 

─ Tudo bem, Douglas ─ disse tentando lhe lançar um meio sorriso, mas não saiu. Ele beijou minha bochecha e entrou no hospital.

Eu continuei ali fora relembrando meus momentos com Luan, relembrando tudo que já passamos e o quanto ele se importava comigo, mesmo eu já tendo o desprezado e o humilhado desde quando o conheci. Me lembro do nojo que sentia de Luan ao descobrir que ele era um traficante mesquinha, mas eu não sabia distinguir aonde estava esse nojo, ele não existia mais.

Só de pensar em perder Luan eu já sentia meu coração acelerar e as lágrimas descerem copiosamente pelo meu rosto.

Decidi comer alguma coisa, meu estômago roncava e mesmo sem apetite precisava ingerir algo, pelo meu bebê. Saí do estacionamento e entrada do hospital e fui até o outro lado em uma lanchonete, pedi um suco natural de acerola e um pastel de queijo e mesmo sendo um lanche nada light eu acabei comendo, a fome não pede o cardápio.

Fiquei ali nadando em pensamentos e lanchando quando avisto Gabriel caminhando até o hospital, ele estava com um semblante cabisbaixo e seu rosto estava vermelho, eu rapidamente me levantei e paguei a moça indo até Gabriel e o puxando pra um banquinho que havia ali.

─ O que aconteceu, Maju? ─ Gabriel me perguntou firme.

─ Gabriel... ─ as palavras estavam presas em minha garganta, eu não conseguiria falar, Gabriel me olhava tão intensamente que eu me afogava em minhas próprias palavras, queria ter pelo menos um pouco daquela firmeza que Gabriel possuía naquele instante.

─ Maju me conta logo!

─ Gabriel, o Luan... ele... Ele foi baleado, e agora está em cirurgia.

Vi os olhos esverdeados de Gabriel ficarem arregalados e aos poucos se inundarem, o rosto dele ficou vermelho e ele me olhou imóvel. Senti naquele momento meu coração apertar, senti a dor que aqueles olhos transmitiam, Gabriel olhou pro chão e deixou uma lágrima descer por sua bochecha vermelha, eu segurei no rosto dele e o fiz me encarar com firmamento.

─ Você precisa ser forte, pelo seu irmão, eu sei que você é forte!

─ Maju, você não entende, eu só tenho o Luan, eu só tenho ele, o único que restou foi ele! Por favor Maju, não deixa o Luan morrer, eu só tenho ele, eu só tenho meu irmão ─ Gabriel deixou as lágrimas tomarem conta dele e o puxei pra um abraço respirando fundo.

─ Você não tem só ele tá?! Você tem à mim, você tem ao bebê, você tem à todos do morro que amam você e seu irmão, o Luan vai ficar bem, em certos momentos devemos confiar em nós mesmos e devemos sempre manter a Fé, e seu irmão que me ensinou isso.

Eu acariciei os cabelos loiros de Gabriel enquanto ele chorava com medo de perder o irmão. Eu entendia ele perfeitamente, Luan também já significava muito para mim, ele já era minha família, mas minha verdadeira família.

Apenas um TraficanteWhere stories live. Discover now