Capítulo Dezoito.

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Maju narrando:

RL e eu regressamos pra favela, eu já conseguia subir direitinho na moto e isso facilitava o serviço de RL, mas o mesmo ia igual um foguete em direção à favela, eu tinha muito medo de cair da moto.

─ RL, você pode me deixar na entrada da favela? Quero caminhar um pouco.

─ Se tu prometer tomar cuidado eu deixo.

─ Vou tomar cuidado.

Ele me deixou na ladeira e quando olhei aquela subida me arrependi totalmente, era muito grande, suspirei fundo e tirei minha sandália por conta do inchaço dos meus tornozelos. Pisei no chão de paralelepípedo e foi uma sensação estranha, se minha mãe me visse descalça até mesmo dentro do meu quarto ela me colocaria de castigo e mandaria eu ler alguns livros sobre ter modos como uma dama, mas eu via aquelas crianças, adultos, todos descalças e saudáveis e não via porquê não andar descalça por ali.

O sol estava muito quente ali, tocava samba e pagode em alguns sobrados e o cheiro de churrasco me fazia ter muita fome, desse jeito eu iria espocar só de comer.

Estava andando quando noto alguém se aproximar, era aquela menina que estava com o Neguinho no baile. Ela sorriu e se aproximou de mim caminhando ao meu lado, ela era mais bonita de perto, tinha alguns traços de Priscila, se não me engano elas eram primas. Ela estava vestida em um short jeans desfiadinho rosa e uma bata, carregava um menino dos olhos esverdeados no colo, ele parecia ter uns três à quatro anos e tinhas umas bochechas enormes.

─ Oi, você é a Maria Júlia né? ─ ela perguntou curiosa.

─ Só Maju mesmo.

─ Prazer, sou Carolina mas me chama de Carol...

Ela estendeu a mão e apertei forçando um sorrisinho.

─ Você pode me dizer como a Pri está? Tentei falar com titia mas ela não atende.

─ Acabei de vim de lá, ela está na sala de observação.

─ Ah, nossa, o RL deve está muito mal ─ ela fitou o chão e assenti, tentei apressar um pouco os passos mas ela continuou me acompanhando. ─ Então, o que tu é exatamente pro Luan?

─ Só estou hospedada na casa dele, e o que você é pro Neguinho?

─ Sou a fiel dele, amo demais meu galego.

─ Até hoje não entendi o porquê do Neguinho...

Ela sorriu alto e me fitou carinhosamente.

─ O pai dele era o Negão, e ele é o Neguinho.

─ O pai dele também era muito insistente? ─ perguntei e ela sorriu abertamente.

─ Acho isso uma qualidade do Neguinho, a insistência, você acredita que eu morava na zona sul e conheci ele em um baile e ele me pediu em casamento uma semana depois? De primeiro eu recusei, mas ele ficou me perturbando por meses até nós ficarmos e nos conhecermos melhor... Acabou rolando, sabe?!

Eu sorri suspirando, ainda faltava um pouco pra subir e cada vez mais meus pés latejavam.

─ Esse é o filho de vocês? ─ perguntei e ela assentiu.

─ Esse é o futuro Neguinho Júnior.

Ele sorriu revelando seus dois dentinhos dianteiros e achei ele uma fofura de criança, era todo gordinho e branquinho, o sorriso e os olhos me lembravam muito o pai dele e até mesmo o cabelo meio encaracolado. Instantaneamente segurei em sua mãozinha sentindo o cheiro de bebê grudar em minha mão.

─ Você e o Luan tem alguma coisa? Ele nunca leva ninguém na casa dele, ele é um pouco fechado com essas coisas e tal... ─ ela indagou curiosa.

Deslizei meu olhar até o chão e soltei um suspiro, um flash de tudo que acontecera desde o começo se passava em minha cabeça.

─ Pra falar a verdade, estou grávida, não me abro com todo mundo mas sei que posso confiar em você até porque Priscila é minha melhor amiga, eu morava também na zona sul e engravidei sem querer ─ mordi meus lábios aflita por me relembrar. ─ Fui expulsa de casa e bom, agora estou aqui...

─ E tu tem quantos anos?

─ Quatorze.

Carol ficou boquiaberta e me olhou surpresa.

─ Nossa, nem sei o que dizer... você não acha que... ah, sei lá, eu não sou ninguém pra dizer nada, engravidei com dezesseis anos, mas então, o que você pretende fazer com sua vida?

─ Eu só sei que não vou ficar muito tempo aqui na favela, só estou aqui contra minha vontade mesmo.

─ Aqui é um lugar bom, acredite, desde quando DG assumiu a liderança com o Luan, nunca mais os vermes invadiram, aqui todos são humildes e tenho que admitir que algumas putas vão ficar com inveja, mas tudo passa, eu gosto de morar aqui, na favela acima de tudo vem o amor e a felicidade ─ ela disse sincera e sorriu. ─ Vou indo, a gente se vê mona, toma cuidado viu.

Ela me deu um beijo no rosto e entrou em um beco, sorri com sua simpatia, era igual Priscila. Percebi que já estava chegando ao meu destino e desapressei os passos, dentro de alguns minutos cheguei na casa do Luan e os seguranças nem me barraram, e Luan estava lá...

Eu mereço!

Quando adentrei a sala vi Luan sentado no sofá um pouco machucado, tinha um corte pequeno no supercílio e seu nariz sangrava, do seu lado estava sua arma enorme, meu corpo gelou quando o vi. Lá vem ele me lançar aquele olhar de lado sério e raivoso.

─ O que aconteceu? ─ perguntei encostada na porta de saída.

─ Vai entrar ou quer que eu busque tu aí? ─ ele perguntou com toda sua arrogância e rolei os olhos fechando a porta e sentindo minhas pernas tremerem, era só vê-lo que começava a me tremer e ficar gélida, puta merda!

Me sentei no sofá desconfiada e ele suspirou pegando um algodão e limpando seu machucado do supercílio. Minha curiosidade desejava saber o que havia ocorrido, ele bem devia ter se metido em uma briga, do jeito que eu conhecia que ele era.

─ Não quero você perto do DG ─ ele disse sério me fitando.

─ Desde quando você manda em mim?

─ Desde quando eu quis.

─ Eu ando com quem eu quiser, você não pode me prender aqui, eu saio na hora que eu bem entender e com eu bem querer.

Ele se levantou furioso e ficou bem pertinho de mim, senti uma tensão caminhar por todo meu corpo. Seu nariz quase que tocava no meu, estava de cara a cara com Luan furioso, esse brutamontes! Empinei meu nariz e revirei os olhos, mas por dentro estava nervosa e com muito frio na barriga.

─ Se eu ver tu falando ou perto do DG, eu juro por Deus que mato ele bem na tua frente ─ ele disse desafiador e soltei uma risada irônica empurrando o peitoral dele, o mesmo nem se mexeu.

─ Quero só ver ─ sorri irônica mas nervosa ao mesmo tempo, sabia que Luan tinha coragem.

─ Me provoca pra você ver ─ ele sibilou e senti seu hálito quente em meu rosto.

Olhei cada detalhe de seu rosto quadrado e pude analisar bem, seu olhar malvado, seus olhos cintilantes e profundos, sua boca rosada, sua barba que crescia, eita que calor!

Eu estava olhando profundamente agora nos olhos de Luan, ele me encarava com raiva, eu gostava de provocar ele, e ele odiava ser provocado.

Luan segurou em meu rosto e senti o toque que sua mão enorme contra minha pele gélida, com o polegar passou levemente por cima do meu lábio inferior, fechei os olhos e suspirei fundo com meu coração quase sacando, Luan acariciou meu rosto e suspirou quente próximo da minha boca, seu nariz se encostou no meu e abri meus olhos encarando ainda aqueles olhos leves e esverdeados que me encaravam, nossas bocas estavam centímetros de distância...

Apenas um TraficanteWhere stories live. Discover now