Capítulo Trinta e Nove.

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Maju narrando:

Já havia se passado um dia e nada de notícias sobre Luan, eu já estava coberta de aflição, estava nervosa e não parava nenhum segundo.

Não havia dormido e nem me alimentado direito, o Gabriel estava em casa com a Priscila enquanto eu e Neguinho esperávamos alguma notícia. Muitas pessoas foram em nossa procura para saber o estado de Luan, muitas pessoas ali na Rocinha se preocupavam com ele e todas perguntaram se precisávamos de algo.

Eu só precisava que Luan ficasse bem, só isso, ele já fez tanto por mim e eu só desejava poder retribuir esses favores.

O doador de sangue ainda não foi encontrado e aquilo só me deixava mais preocupada.

─ Maju te senta aí, já faz meia hora que tá pra lá e pra cá, eu já tô tonto aqui ─ Neguinho reclamou me tirando de meus pensamentos e rolei os olhos me sentando e suspirando. ─ Maju, vai pra casa dormir, eu fico aqui e não precisa tu se preocupar, tu precisa de um banho e dormir, se lembra que tem uma vidinha aí dentro de tu ─ ele bebericou o café e sorriu.

─ Não quero ir pra casa, quero ficar aqui até receber alguma notícia do Luan.

Eu cruzei meus braços na altura do peito e me encostei minha cabeça na parede, já era de manhã e o movimento no hospital tava tenso, só via enfermeiros pra lá e pra cá mas nenhum dava nenhuma notícia, eu acho que acabei cochilando e nem vi.

─ Acompanhantes de Luan Lima da Costa ─ uma mulher vestida de branco e com máscara chamou pela lista lá na sala de espera, eu me levantei rápida em direção à ela e Neguinho logo atrás. ─ Me acompanhem, por favor.

Nós seguimos pelo corredor extenso e entramos na penúltima sala do corredor, um médico baixinho e gordinho meio calvo nos esperava carregando uma ficha, assim que viu o Neguinho acenou com a cabeça e sorriu.

─ E aí chefia, como tá as parada? ─ Neguinho puxou a cadeira e se sentou, eu fiz o mesmo e encarei a cara gorda do médico bem vestido.

─ Nada bem, Neguinho ─ ele soltou um suspiro e colocou um óculos no rosto olhando pra ficha. ─ Conseguimos retirar a bala e foi o jeito levar ao coma induzido, ele está na UTI em estado gravíssimo, porque ele perdeu muito sangue e quase os movimentos dos membros superiores, quem baleou ele tava querendo era matar mesmo, porque sabemos que bem no ombro há uma ligação importantíssima e também uma veia que se furada pode levar à morte, então, o que mais me preocupa é o sangue, cada vez que passa as plaquetas abaixam mais e ele precisa até hoje receber o sangue.

─ Mas não tem como tu conseguir esse sangue não?

─ Já tentei, filho. Mas o tipo sanguíneo do Luan é muito difícil de se conseguir e ele só pode receber de uma pessoa que tenha o mesmo tipo sanguíneo que ele, se por acaso colocarmos outro, o organismo vai rejeitar completamente, sinceramente, estou com medo de Luan ter um convulsão porque ele está com uma febre muito alta.

Neguinho colocou a mão no rosto e a esfregou diversas vezes, meu peito doeu, eu já não tinha mais lágrimas para chorar então apenas engoli o seco e abaixei a cabeça.

Estávamos sem alternativas nenhuma.

─ Se ele tiver uma convulsão no estado dele, ele vai entrar em óbito.

Só de escutar a palavra óbito, eu senti meu estômago revirar, senti minha mente ser dopada e uma vontade imensa de chorar e não conseguir. Eu nunca havia sentido tanto medo em perder alguém em minha vida.

─ Se meu irmão entrar em óbito, eu juro que vou no inferno mas eu vou meter uma bala nesse miserável bem aí que meteu esse tiro nele ─ Neguinho se levantou batendo a mão na mesa do médico que suspirou. ─ Tu ainda tem essa bala aí, tio?

─ Eu posso conseguir a bala pra você ─ o médico diz se levantando e Neguinho assente.

Neguinho saiu da sala do médico e eu o acompanhei puxando-o pelo braço.

─ O que você vai fazer, Neguinho?!

─ Eu vou descobrir quem deu um tiro no Luan!

─ Mas como você vai fazer isso?

Neguinho me puxou pelo braço até uma janela enorme que havia no final do corredor que dava vista pro morro.

─ Os vermes usam balas com um código, se por acaso essa bala não tiver esse código, eu sei quem atirou nele ─ Neguinho sussurra e eu engulo o seco. ─ Confia em mim que Luan vai ter a justiça dele, agora por favor, vai pra casa e dorme um pouquinho!

Eu assenti e senti Neguinho beijar o alto da minha cabeça.

Com o coração na mão eu fui até a saída, pedi um táxi e paguei pra me deixar até na casa do Luan, estava cansada e com muito sono, mas não conseguia dormir direto tendo o meu amor na UTI em estado grave, eu só queria que esse miserável que atirou em Luan pagasse por toda essa desgraça que causou.

Luan não merecia e nunca mereceu passar por essa situação, e muito menos o Gabriel que não parava de chorar.

Eu cheguei em casa e encontrei Priscila no sofá e Gabriel com o rosto avermelhado deitado no colo dela, ele dormia e o rosto inchado dele fazia meu coração doer.

─ E então, amiga?

─ Luan está na UTI em estado grave, eles tiraram a bala mas ele precisa do sangue. Como está o RL?

─ Ele nem apareceu em casa hoje, ele saiu desde ontem com a arma dele e com os olhos vermelhos, ele foi em busca de quem atirou no Luan ─ Priscila suspirou fundo e eu também. ─ Gabriel está muito ruim, só consegui fazer ele dormir agora, ele chorou muito falando que não podia perder Luan.

─ O Gabriel é forte, mais forte que eu, e também entendo o lado dele, Luan é a única família que ele tem, Gabriel nunca teve um pai ou uma mãe mas ele teve o irmão e se por acaso ele perder Luan ele estará perdendo toda a família dele.

─ Essa situação tá muito complicada, mas creio em Deus que Luan vai sair dessa, Luan é uma boa pessoa e nunca fez mal pra ninguém.

─ Eu sei amiga, mas estou com medo de perder ele, quando eu não tinha nada ele cuidou de mim e quando eu fui perceber o quê sentia por ele já era tarde para confessar ─ disse de cabeça baixa e sentindo o choro tomar conta de mim novamente.

─ Maju, seja forte, agora coma algo e suba pra dormir.

Eu assenti cabisbaixa e fui até a cozinha, abracei Julieta que perguntou se precisava de algo e comi um pouco subindo, fui até no quarto de Luan e peguei sua camisa que estava jogada em um canto, o seu cheiro ainda estava nela e eu inalei aquele cheiro sentindo meus olhos transbordarem, aquele mesmo cheiro de Luan, aquele cheiro que me acalmava e me deixava louca ao mesmo tempo. Segurei firme naquela camisa e a coloquei sobre a cama me despindo e indo até o banheiro, tomei um banho demorado e lavei meu rosto me livrando daquelas lágrimas secas, terminei e saí me enxugando e me olhando no espelho, encarando aquela Maria Júlia que agora estava em mim, olhos fundos e avermelhados, rosto inchado e as olheiras fundas.

Nem me reconhecia, estava acabada.

Fitei aquele cordão de ouro que estava em volta de meu pescoço e o toquei com amor, o toquei sentindo Luan junto comigo, eu sabia que ele nunca me abandonaria e que ele era forte, ele era simplesmente Luan!

Guerreiro, vagabundo, bandido, traficante, irônico, respeitado, amado e meu, somente meu!

Me vesti em um pijama e me deitei na cama agarrando a camisa de Luan e inalando o cheiro dele enquanto descansei minhas pálpebras pesadas e cansadas.

Luan, você vai sair dessa!

Apenas um TraficanteWhere stories live. Discover now