02 - Portais

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Quilômetros adiante, já quase nos limites do deserto de Zônia, outro grupo enfrentava perigo semelhante. Duplicadores de areia feios e furiosos emboscavam dois indivíduos que sofriam os mesmos efeitos amnésicos que nossos heróis do primeiro capítulo. Encontravam-se em uma situação desesperadora e deveras perigosa, suas vidas estavam por um fio.

Um deles levantou-se ainda meio cambaleante e desorientado, fez um esforço balançando a cabeça. Percebeu movimentos sorrateiros dignos de uma emboscada. O coração acelerou e a adrenalina trouxe à tona toda a lucidez que o momento requeria. Cercado pelas feras o único sentimento que pôde ter foi uma mistura insana de insatisfação e euforia, abrupta e desajeitadamente meteu a mão na algibeira e de lá tirou um pequeno apito, colocou-o na boca e soprou com todas as suas forças. Apenas um ser naquele planetóide poderia ouvir naquela frequência.

— Acorda pra cuspir Palmer — esgoelou ele enquanto esbofeteava o irmão e mantinha os olhos nos duplicadores ao mesmo tempo —, temos um probleminha aqui — completou.

— Para com isso, porra! Acordei! Vai me espancar até a morte mesmo?

— Foi mal, acho que dei uma surtada de leve!

— Beleza. Respira fundo. Agora vamos enfrentar o problema juntos?

— Canário!? Você acordou! Sempre que venho a esse lugar "merlins" acontecem.

— Porquê você sempre reprime os palavrões? Eu simplesmente não consigo entender. Tecnicamente merda nem é palavrão.

— O que não consigo entender é a razão de você sempre acordar primeiro, irmão.

— Falou o membro preguiçoso da família.

— Até parece, você que é como um morcego e nunca dorme.

— Tá, tá, tá, Asa Noturna, passo, elogia depois, por hora já vi que temos muitos obstáculos a superar. — disse o que estava no chão estendendo a mão.

— No problem, i already do the contact.

— Quê?!

— Tranquilo, já fiz contato.

— Aquilo foi você tentando falar em inglês?

— Que posso fazer se a língua está quase morta a mais meio milênio?

— Bom, quando Lúcia voltar peço a ela pra te dar umas aulas.

— Vou cobrar ouviu?

— Certo, mas agora vamos nos preocupar com o presente. Me dê notícias! Primeiro as más! E nossa carona?

— Certo, a má notícia é que o outro está com metade da força e você sabe muito bem que abrir portais não é necessariamente meu ponto forte — estendeu também a mão e o ajudou a se levantar.

— É nem tenta mesmo, me lembro que da última vez quase fomos cozidos a vapor por serpentes de fogo salosianas — deixou escapar uma risada —, a má notícia nem é tão má assim, maninho, já estou me acostumando. Há problemas também com minha contraparte temporal, posso sentir.

— Estão vindo, Palmer!

— Nossa ajuda também — retrucou Marcos.

— E essa nem é a melhor parte — fez uma pausa esperando por alguma reação e, assim que a obteve, continuou — Consegui sentir uma outra coisa.

O ataque começou. Primeiro estudaram as habilidades dos duplicadores, limitavam-se a esquivar, saltar para trás e correr. Era quase que um protocolo em se tratando de tais inimigos. Sempre que voltavam àquele mundo as criaturas estavam diferentes em algum aspecto. Entre uma esquiva e outra, Marcos olhou para o irmão e notou que este fazia um esforço demasiadamente alto para manter as criaturas afastadas. Rapidamente chegaram à mesma conclusão.

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