11 - A verdade

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O espelho d'água cumprira mesmo seu papel. As pessoas que por ele passaram realmente retornaram aos seus mundos. Palmer lembrava-se de todas as aventuras que vivera e das pessoas maravilhosas que havia conhecido. Em meio a um turbilhão de pensamentos, o rapaz começou a lembrar-se das palavras que lera no livro de Zira. Tentou repetí-las, mas para sua surpresa as palavras não saíram. Sentia-se muito confuso e cansado.
"Onde estou?", pensava ele. Estômago a rosnar desenfreadamente, não conseguia se lembrar da última vez que fizera um banquete. Aos poucos sua percepção foi sendo restaurada. Seus ouvidos captavam alguns sons ao longe, inicialmente sem muita nitidez, depois com uma resolução maior.

- Nem tudo é real - Tentou repetir as palavras do livro.

O rapaz não conseguia entender por qual motivo suas pernas e braços não lhe respondiam.

Naquele instante pôde ouvir duas pessoas conversando, uma das vozes soava-lhe familiar, embora ligeiramente modificada.

- Ele chegou há mais de uma semana - disse uma das vozes - algumas fraturas e escoriações, mas agora os sinais estão normais.

- Você o conhece?

- Sim , é um amigo de muitos anos.

Palmer ouvia a conversa e realmente não entendia. Não poderia referir-se a ele, que não tinha nenhum amigo daquela idade.

Minutos se passaram. Palmer sentiu alguém lhe tocar a cabeça, tratou de cerrar os punhos ainda encobertos, mas deteve-se assim que percebeu o toque profissional. Um inimigo não seria tão cuidadoso. Acalmou-se.

Retiradas as ataduras, a luz finalmente invadiu seus olhos. Sua visão ainda não fora restabelecida por completo, mas já era suficiente para perceber que aquele lugar era na verdade um quarto de hospital. Um médico estava ao seu lado.

- Não se esforce. Sofreu um trauma muito grande, felizmente está se recuperando bem.

- Victor é você? Porque estou aqui? O que houve contigo? Você está...

- Velho? - concluiu ele - descanse amigo, logo saberá de tudo.

O rapaz continuou naquele hospital por mais algumas semanas antes que pudesse ter alta. Neste tempo, Victor revelou tudo o que passara até encontrá-lo. Contava-lhe que após tocar a água do rio também havia acordado em um hospital. O avião em que estava fora atingido por outro enquanto este taxiava na pista. O acidente ocorreu em 17 de março de 1977 e ele era um dos mais de sessenta sobreviventes.

Dizia Victor que ao acordar no hospital não se lembrava de nada, mas que aos poucos havia recuperado a memória.

- Passei vinte anos à procura de respostas. - fez uma pausa, respirou profundamente e depois continuou - Certo dia fui convidado a assistir a uma palestra e pensei conhecer aquele palestrante. Ele carregava consigo uma bandeira, cujo desenho, era um fêmur humano. Terminada a palestra fui falar com ele e para minha surpresa ele me deu um grande abraço.

- Ulisses - concluiu Palmer.

- A partir dali começamos a procurar por pessoas que também tivessem feito uma viagem àquele mundo. O que descobrimos foi assustadoramente intrigante. De fato, milhares de pessoas já haviam estado lá por causas diversas, a mais comum delas infelizmente era trágica. Victor revelou a Palmer algumas formas que descobrira de se ir àquele mundo, dentre elas o coma profundo.

- Muitas delas não conseguem voltar.

Palmer pensou então nos motivos pelos quais também fora levado àquele mundo. O esclarecimento chegou como um raio à sua mente. Lembrou-se de uma festa muito animada cheia de amigos e familiares. Bebera bastante naquele dia...

Acesso IrrestritoWhere stories live. Discover now