22 - Liberdade

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Mesmo com a proteção de SOFIA, algo acometia todos a bordo. Um mal que não podiam evitar, seus corpos começaram a ficar translúcidos. SOFIA perdia velocidade e gastava suas últimas reservas de energia para manter a temperatura amena e uma atmosfera respirável em seu interior. Quinino e os outros arbóreos se esforçavam ao máximo na conversão do gás carbônico em oxigênio, mas eram milhares a bordo e não aguentariam por muito tempo.

Antony ordenou a todos de sua espécie que hibernassem, sua espécie desenvolveu mecanismos internos para controlar com razoável precisão seu tempo de descanso. Isso foi necessário pois estavam em maior número na nave. Precisavam poupar o pouco oxigênio que tinham, isso daria a todos a bordo de SOFIA alguns dias a mais de vida.

SOFIA fazia bilhões de cálculos para determinar o quanto suportaria e os dados de sua última auto análise mostravam-se desanimadores. Era quase como se ela pudesse sentir o desespero de todos. Em uma de suas diretrizes havia instruções para que protegesse seus eventuais ocupantes de quaisquer situações hostis, mesmo que para isso precisasse desligar parte de seus sistemas. Ela executou esse comando da forma mais lógica que pôde computar. Primeiramente comunicações externas. Sem quem pudesse receber transmissões subespaciais seria ilógico manter esse recurso disponível. Em seguida atalhos internos, também inativou todos. E assim, recurso a recurso, ela o fez, até que restassem apenas os essenciais e suficientes para manter vida senciente a bordo. Propulsão e escudos térmicos não sofreram sanções, pois, sem este último, seria inundada pelo zero absoluto do vácuo. Para cada esforço alguns itens de sua lista de tarefas eram concluídos e, algumas vezes, outros incluídos. Era como se seus construtores estivessem ali por perto, incluindo e atualizando sua base de dados segundo a segundo. Como não podia sentir, calculava que suas ações, de alguma forma, a transformassem em algo melhor. Talvez um dia estivesse pronta para tornar-se um ser vivo de verdade.

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A alguns universos de distância, um vórtice acabara de se fechar, dele saíram dois indivíduos, seguravam-se um no outro, sim, eram Tinamus e Tirak. O primeiro contato com aquela atmosfera fez Tinamus quase perder os sentidos enquanto que Tirak sentia náuseas devido à natureza do transporte, o uso daqueles tecnotubos latentes nunca haviam lhe causado desconforto similar, contudo, pensou consigo mesmo, poderia se acostumar.

- Me sinto um lutador de sumô.

- Eu te avisei, formas de vida baseadas em carbono dificilmente conseguem se adaptar a essa atmosfera.

- Cara você é aficionado por isso.

- Isso o quê, como assim?

- Em falar sobre vidas baseadas em carbono. Você também não é?

- Na verdade não, neste universo a vida seguiu outro caminho, nossa estrutura é baseada em silício.

- Entendo. Bom, isso explica bastante, Mas temos um trabalho a fazer, e o tempo urge.

- Antes que prossigamos, tenho que lhe explicar algumas coisinhas.

- Do que se trata?

- Regras de sobrevivência!

- Parece razoável. Qual a primeira?

- O forte manda, o fraco obedece!

- Muito conveniente, qual a segunda?

- Se te atacarem, ataque de volta. Nunca recue?

- Boas regras, vou me lembrar delas.

- Eu não acabei!

- Certo, qual é a terceira?

- Nunca atrapalhe uma luta. É sempre é um contra um.

- Cara, vai ser demais, é só isso?

Acesso IrrestritoWhere stories live. Discover now