31 - Dose dupla

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Os textos do livro pareciam escritos periódicos. Lúcia destacou os que achou mais importantes e começou a traduzir.

(...)

Ao chegar, minha memória estava em frangalhos, pior do que quando Lord Quartzon começou a envenenar os portais.

Após algumas semanas consegui um emprego na biblioteca local, fiz amizade com os escribas e de tempos em tempos me dão um papiro e deixam eu usar a pena para escrever. Eles se divertem pois acham que os símbolos pré-mizulsílicos que uso para compor este relato são meros rabiscos de um analfabeto. Poderia ser outra língua, mas dei preferência a esta por medidas de segurança, minha e deles. Coincidência ou não também não me lembro onde aprendi esse idioma.

Não sei como vim parar neste lugar, mas a presença de quatro luas no céu me dizem que essa não é a Terra. Apelidei-as carinhosamente de Star Light, Homelander, T-Train e Black-noir.

Levei algum tempo para aprender o idioma local. Tive que usar pergaminhos duros e grossos pra confeccionar este livro, o material é muito durável e com sorte vai aguentar algumas centenas de anos.

Construí um telescópio rudimentar e, em noites com boa visibilidade, vasculho os céus em busca de um posicionamento, encontrei uma estrela que me parece Alpha Orionis, me obriguei a crer que este é o Universo Prime, já que é sabido que essa mesma estrela já virou Nova em outros Universos. Estimo que ela esteja a uns 450 anos luz daqui. Tenho fé em meus amigos. Vou reunir mais informações sobre minha localização pra facilitar a busca.

Talvez o livro dure tempo suficiente para que o encontrem, talvez não, mas tenho esperança. Aliás é tudo que tenho no momento. Acreditem, não tem sido fácil me adaptar a este lugar, frequentemente chegam alienígenas, sei que é a mim que procuram, pois da mesma forma que chegam se vão, em buracos de minhoca. E deixam para trás mortos e feridos. No início não foi difícil a aproximação.

Tive que me misturar com os nativos, ensinar técnicas de ataque e defesa. Sorte este ser um mundo com vasta diversidade senciente.

Estou me arriscando demais, preciso sair daqui. Preciso encontrar Kaline. Em algum lugar desse Universo ou de outro, não sei, ela espera por mim. Sinto demais a sua falta. Temo pelo pior. Acho que o que me mantém vivo é a convicção de que um dia nos veremos novamente.

Encontrei alguém que com alguma tendência ao toroidismo, mas em um nível muito inferior ao de Tinamus, Nara ou Zira, levará anos, talvez décadas para que ele consiga a plenitude, vejo nele uma saída. Ele está disposto e me ajudar. Passei a ele tudo que sei sobre a Torus.

A tristeza me invade, fomos atacados durante o treinamento e Nautilus foi ferido. Ele está em choque, me disse que nunca mais iria praticar. Não é justo ele se pôr em perigo por minha causa. Outro problema é que neste mundo a Torus é considerada magia impura. Ele treina em segredo, mas vive em fuga. Ele seria de grande ajuda ao ADM.

Me lembrei das explicações de Caipora sobre o Perímetro. Já perdi a conta de quantas vezes tentei, não consigo despertar, acho que essa técnica nunca vai funcionar comigo. Estou desesperado.

A cada dia surgem mais alienígenas nas aldeias, estão chegando mais perto. Estão fortemente armados. Vez por outra atacam com armas congeladoras, mas a preferência maior, pelo que pude notar, são os pulsares. Sozinho não tenho como fazer muito.

Minhas habilidades como engenheiro e arquiteto estão sendo úteis, aos poucos vou introduzindo armas e materiais de construção mais resistentes e tentando ajudar os nativos a se defender.

Acesso IrrestritoWhere stories live. Discover now