05 - Primeiro Impacto

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A temperatura no substrato permanecia amena, embora os ânimos começassem a esquentar. Eulália havia distribuído missões pra geral, ficaram no castelo apenas folguistas da segurança, alguns oficiais de patente menor, e, é claro, aspiras e técnicos de campo. Três cadetes se valeram da situação para uma peripécia. Dos poucos que ficaram no castelo um deles, mais precisamente a tenente Waiewa, havia sido designada para uma missão diplomática no planeta biblioteca. Assim que o tecnotubo foi aberto os cadetes, que já estavam de prontidão, pularam dentro. Sabiam que as missões diplomáticas geralmente levam várias horas e, mesmo que fossem descobertos, como já aconteceu, seria tarde, alegariam que foi tudo em nome da ciência.

Waiewa, quando criança, metia-se com bastante frequência nesse tipo de situação, sua mente costumava sempre tratar o caso como uma brincadeira sadia.

Estudantes preguiçosos costumam fazer todo tipo de trapaça para se dar bem. Aqueles cadetes claramente usavam dessa artimanha para adquirir novos conhecimentos. Eles não tinham ideia de que Waiewa iria mencionar o fato em seu relatório, por essa razão continuaram.

Naquela tarde a peripécia estudantil não saiu exatamente como o esperado e eles não mais foram vistos.

Ao terminar seus afazeres Waiewa passou pelo salão de espera e procurou por eles, como não os viu imaginou que tomaram boléia com algum outro técnico em retorno ao substrato. Checou os nomes num terminal e descobriu que não se encontravam mais no planeta.

Eles simplesmente desapareceram. Eulália foi avisada e tratou logo de enviar os melhores investigadores do reino para elucidarem o caso. Até mesmo a Comissão de Crises fez sua contribuição. Durante as investigações uma única pista foi encontrada, foram vistos em companhia de um indivíduo deixando o planeta através de um vórtice toroidal de três pontas. Eulália prometeu que as investigações continuariam até que o paradeiro dos três jovens fosse descoberto. Seriam encontrados, preferivelmente vivos.

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SOFIA comparava-se a um projeto acadêmico quando Nara a descobriu em uma de suas viagens pelo multiverso. Algoritmos simples, mas muito bem escritos, qualquer aluno do primeiro período de magistério (da Terra 37 pelo menos) poderia ler e entender os fontes. Foi usada inicialmente como interface de comunicação com a máquina alienígena que mais tarde passou a responder pelo mesmo nome.

Nara acidentalmente descobriu a combinação de coordenadas para aquele universo ao conjurar um atalho com o brilho quântico 10 lúmens abaixo que o previsto. Erro bobo. No entanto, como o atalho estava cem por cento operacional, ela resolveu passar e estudar aquela Terra. Foi sua primeira aventura fora do substrato usando um vórtice de sua própria autoria. A viagem para ela foi como um ritual de passagem, última de sua fase aprendiz. Essa história merece ser contada em detalhes, mas em outro momento.

Por hora voltemos ao castelo de Eulália onde Dinousfry acabava de sair de um atalho, retornara de Degas E trazendo ninguém menos que o próprio diretor da colônia penal. Era um tipo meio sinistro, dizem que em sua juventude gostava de raptar criancinhas. Naquele tempo existia o ECA, um conjunto de normas destinadas à proteção de jovens, mas que só protegia com afinco aos que cometiam crimes.

Dinousfry mal teve tempo para descansar e Eulália já o designou para ajudar em outra missão, dessa vez deveria colaborar na investigação da anomalia geológica relatada por SOFIA. Vários oficiais se aglomeravam no grande salão. Apresentou-se a Ulisses, que o aguardava de posse um GFM de bolso, gadget tecnológico capaz de criar tecnofendas rastreáveis. A localidade a ser verificada era conhecida no substrato como Ravina das Correntes, uma estranha formação geológica onde o vento sopra mais e mais forte à medida em que emanadores de calor se aproximam do centro. Respiraram fundo e partiram.

Acesso IrrestritoWhere stories live. Discover now