39 - Efeito colateral

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Se alguém era capaz de burlar a segurança montada para o conjunto de cavernas esse alguém seria Quartzon. Aquele teatro despertou nele sentimentos sobre sua própria gente que imaginou ter perdido a anos, ele preferiu não se ocultar, dessa vez iria fazer do modo mais claro e direto possível. Conjecturou, com ressalvas, que todo aquele faz de conta poderia ser um esforço para proteger a semente.

Os túneis apresentavam um brilho azulado, bonito de se ver, mas trazia a ele algumas lembranças que preferia não ter. Fragmentos de uma de suas batalhas com a jovem Nara, as sabotagens em Turíngia, a guerra civil em Bradária, até mesmo uma derrota para alguns humanos sem poder na Terra. Na maior parte dos eventos lembrava-se de ter tentado, de alguma forma, alertá-los.

— Foco Quartzon, foco! — Dizia ele a si enquanto balançava a cabeça. — Malegolt não tem mais nenhum controle sobre você.

De tempos em tempos lembranças que sabia não serem suas também lhe povoavam a mente, como se parte da entidade ainda vivesse dentro de si. Numa delas ele e Tirak desembarcavam em Terceiro e atacavam violentamente um vilarejo enquanto abandonado. Balançou a cabeça novamente. Nesse instante um soldado em ronda o avista, pensou em atacá-lo. Conteve-se. Não deixaria que nenhum sentimento o controlasse. Precisava ter acesso à semente e seria muito difícil atacando a todos que cruzassem seu caminho, sua personalidade bipolar não afetaria seu julgamento ou suas ações.

— Alto! — grita o soldado à meia distância. — Deixe as mãos onde eu possa ver.

— Estou desarmado!

— Com dois trabucos? — Retrucou o soldado. — Me engana que eu gosto!

Quartzon manteve a calma e seguiu todas as orientações, sua mente estava tão ocupada que se esqueceu completamente das armas.

— Conheço você — revelou ao ver o soldado mais de perto —, não foi
quem idealizou os hidro captores?

— Não, aquele era meu pai.

— E onde está ele agora?

— Em descanso na fornalha dos heróis. — fez uma pausa, quando enfim continuou seus olhos lacrimejavam. — Também conheço você, é Arauto de Malegolt.

— Entendo suas lágrimas, deve estar se questionando se vale a pena resistir à tentação de puxar esse gatilho aqui e agora, em seu lugar estaria fazendo o mesmo.

— Isso não traria nenhum dos meus amigos de volta — fez pontaria —, entendo também sua parcela de culpa na história. O que quer aqui?

— Quero apenas me comunicar — pensou por alguns instantes —, e respondendo à pergunta, busco redenção.

— É isso que a classe dominante precisa entender também. Se um fato novo não ocorrer o império todo ruirá.

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Uma nova sessão Torre estava sendo instalada na Estação, para isso o antigo castelo foi colocado em uma órbita geo estacionária implementada sobre o substrato A. Argon e Nautilus acompanharam parte desse processo e conversavam em um dos níveis inferiores.

— Acho que cometi um grave engano, velho amigo, esse não é o universo do qual me referia. O Argon deles possui dois filhos vivos — pequena pausa para tirar um cisco do olho —, já eu ...

— Como assim? Não entendo.

— Um viajante vai sempre se referir a seu universo natal como prime, acho que deveríamos rever essas nomenclaturas, quero dizer, todo universo deve ter algo único que o diferencie de todos os outros.

— De alguma forma a super biblioteca deles conseguiu seu manuscrito.

— Tem razão, podemos começar determinando o que tem neste universo que não exista no meu.

Acesso IrrestritoWhere stories live. Discover now