09 - Fogo Negro

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O grupo masculino aproveitou-se da calma de uma clareira para fazer uma pequena reunião, afastando-se o necessário para que Kaline não os pudesse ouvir.

Victor os convocou para discutirem a cegueira parcial de Palmer.

Ulisses foi o primeiro a examiná-lo e depois de vários minutos encarando-o, balançou a cabeça.

— Homem-ave, ele é todo seu — brincou.

Após alguns minutos Tinamus já havia estudado os olhos de Palmer com sua visão excepcional e defendia que o amigo não sofrera nenhum tipo de lesão. Ao ser questionado por Victor se tinha certeza do que dizia o pele-rosada afirmou que com um esforço maior poderia ver as células de um carrapato mais nitidamente que ele usando um microscópio.

— Posso vê-los, — disse Palmer, interrompendo-os — tudo que preciso no momento é dos meus amigos. Além do mais, antes do livro se fechar ele nos disse que toda magia tem um preço, certo? Bom, queríamos saber como salvar minha mãe, ao invés disso ele a curou. Acham injusto perder tão pouco para salvar alguém?

— Eu faria o mesmo por ela — disse Marcos.

— Não acredito que faria diferente meu filho — disse Argon emocionado.

Longe dali, Kaline comentava com Nara sobre um sonho que tivera enquanto sofria os efeitos daquele veneno fórmico.

— Pensei que não sabia de nada — comentou ela.

— Um passarinho me contou.

— Tinamus?

— Não meu amor — riu Dona Kaline, depois continuou —, de onde venho usamos essa expressão quando percebemos que nos escondem alguma coisa.

— Seria como um sexto sentido?

— Isso mesmo. Vejo que entendeu... — Nara balançou a cabeça.

— Há mais sobre este mundo que vocês devem saber.

— Quer me contar?

— Não posso Dona Kaline, tenho medo. O que posso dizer é que devem encontrar a saída sozinhos. Posso ajudar na busca, nada mais.

— O que penso é que esteve aqui por tanto tempo que perdeu as esperanças.

Nara começou a chorar.

Dona Kaline abraçou-a como fazia com seus próprios filhos.

— Nos ajude! Por favor.

A garota explicou que chegara naquele mundo bem antes deles e que vira pessoas de várias nações, planetas, luas e universos diferentes. Algumas com olhos puxados carregando espadas, corcundas arrastando mulheres pelos cabelos, usando chapéus engraçados, outros com uniformes de bombeiros, mulheres sentadas em vassouras, humanoides de orelhas pontudas carregando armas laser, cientistas, pironitas, arbóreos e mais uma infinidade de outros que não me atrevo a citar.

Nara tomou fôlego e recomeçou sua narrativa. Dona Kaline ouvia a menina com o entusiasmo de uma professora recém formada.

— O que acontece a você se me disser algo que não possa contar?

— Provavelmente nada. — disse olhando nos olhos da amiga com tristeza admitida. — Tudo que posso dizer é que, até este dia, nada do que respondi se manteve na mente de quem ouviu. Eu mesma não conseguia me lembrar de tê-las respondido, vocês são os únicos com quem falei a quebrarem essa constante.

Kaline pareceu entender, já lera relatos de pessoas que afirmavam terem ficado presas num lugar onde viviam as mesmas experiência dia após dia repetidamente. Decidiu que nem mesmo tocaria no assunto dali por diante. Faltava apenas definir se a verdade naquele caso era benéfica a ambos ou somente aos recém chegados.

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