19 - Heróis e vilões

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O não plano de Nara deu certo por pouco, mas nem tudo eram flores. O substrato B já havia sofrido a espaguetificação quando SOFIA os resgatou. Todo o complexo situava-se em uma dimensão compacta e, apenas no interior de uma como aquela, era possível chegar tão perto de um buraco negro sem ser completamente esmagado. Mesmo para uma dimensão compacta, suportar o ambiente extremo de um buraco negro era inconcebível, em algum momento ela entraria em colapso. A caixa do nada provou ser uma solução menos salvadora que o previsto. Aos poucos o que restava do asteroplanetóide deixava de existir capturado pela atração gravitacional do buraco negro.

SOFIA poderia ir a qualquer parte do universo em um piscar de olhos, mas não poderia fazer isso com todos os visitantes a bordo. Sua tecnologia superava com anos luz de folga a mais avançada tecnologia da Terra Prime, contudo, não estava equipada com supressores de inércia, para salvar todos e sair daquele campo gravitacional seria necessária uma aceleração constante e velocidades diversas vezes superiores às da luz e cada minuto singularidade adentro esses números aumentavam. Não é preciso dizer que qualquer humano a bordo estaria morto antes que a velocidade de escape fosse atingida. As formigas certamente aguentariam um pouco mais, mas, e quanto aos outros?

Essa pergunta com certeza pairava sobre os pensamentos de Nara, mas a garota manteve-se quieta. Zira caminhou até ela e a abraçou. As duas ficaram ali abraçadas e pela primeira vez Zira pôde ver Nara chorar.

— Eu falhei amiga, falhei com todos aqui.

— Não é verdade, todos travamos a mesma guerra e aquilo que não nos mata só nos torna mais fortes. — fez uma pausa escolhendo as palavras certas para continuar — a não ser que o problema em questão seja uma dor de barriga.

— Sabe? — Soluços e um riso tímido — Eu gostaria de ter um senso de humor apurado como você, mas simplesmente não consigo.

Continuaram abraçadas e aos poucos os amigos foram se ajuntado em um abraço cada vez maior formado por todos ao redor e o silêncio fez-se presente.

SOFIA poderia aguentar aquela pressão por um longo período, nenhuma de suas diretriz de programação incluíam instruções de como lidar com a situação eminente. Na verdade o assunto era pouco explorado em sua base de dados. Mas ela pensava rápido, analogamente, um humano levaria algumas centenas de anos pra calcular o mesmo que ela gastaria apenas um segundo. Ser esmagada por uma singularidade sem fazer nada, não estava em sua lista de missões. Sim, sua base de dados incluía uma lista com alguns milhões de missões a cumprir antes de retornar a seu mundo, mas essa é uma outra história e deverá ser contada em outra ocasião.

SOFIA detectou o artefato com formato de caixa ganhando uma tonalidade vermelha enquanto era sugada pela singularidade e usou seus famosos leds vermelhos, azuis e verdes para alertar nossos amigos e tirá-los daquele abraço meloso e necessário, materializou uma janela no meio deles.

— Não está ajudando, SOFIA — disse Victor.

— Esta sim — disse Ulisses olhando pela janela — vocês podem até não ver, posso não poder explicar como, mas eu vejo.

— Vendo o quê?

— A caixa do nada. Ela ainda está ativa.

Zira e Nara voltaram seus olhos para a janela completamente negra. Nem preciso comentar o tamanho da frustração de ambas quando não conseguiram ver o que poderia salvar a vida de todos.

— Estimo que nossas chances estejam em cinquenta por cento, estou certo SOFIA?

— Pelos meus cálculos a oito minutos seriam vinte por cento, essa taxa no momento se assemelha à sua estimativa.

— Vai ser turbulento pessoal, se agarrem no que puderem. SOFIA, quando sentir o campo enfraquecer retome a aceleração e se puder, pode nos fornecer algo para que possamos segurar?

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