2. A Praia

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Apesar de o dia anterior ter sido um tanto quanto conturbado, a noite havia sido melhor. Pelos dormitórios ao nosso redor estarem ocupados pelos alunos que já se preparavam para as aulas, vez ou outra era possível ouvir conversas aleatórias.

A sorte de ter ficado no mesmo quarto que Geovana deixava meu coração tranquilo. Algumas ligações para nossos pais foram feitas, apenas para informar se tinha dado tudo certo e como estávamos extremamente cansadas não demorou muito para dormirmos, em plena 20:07 da noite.

Mas o fato de dormirmos cedo contribuiu em muitos pontos positivos: além de estarmos com a energia renovada, acordamos às 6:00 da manhã para visitar alguns lugares legais do Rio de Janeiro, antes que as aulas começassem e nós não tivéssemos tempo de sequer respirar.

Após um banho, um novo look que não tinha nada a ver com as camisolas velhas do pijama e protetor solar, eu e Geo saímos do quarto, começando a sentir a temperatura do Rio aumentando gradativamente. O sol já estava brilhante sobre nossas cabeças e resolvemos que por aquele dia iríamos passear apenas a pé, e táxi ou carros por aplicativo apenas em emergências.

Com os óculos de sol e portando apenas uma garrafinha de água nós decidimos que íamos até a praia, então começamos a seguir um caminho que conhecíamos apenas pelos vlogs de canais na internet.

— Eu já estou derretendo e faz menos de 10 minutos que saímos de lá. — resmungo em tom reclamão enquanto passo a palma da mão pela testa, sentindo a pele úmida.

— O calor 'tá de matar, vai ser na praia da Barra que uma moda eu vou lançar. — Geo canta, e eu caio na gargalhada, balançando a cabeça em negação.

— Desde quando você escuta funk? — pergunto parando de rir, e respiro fundo, voltando a postura anterior.

— Desde que planejamos vir pra cá. É impossível não lembrar de funk quando se está no Rio de Janeiro, Cris. — ela diz com um sorriso no rosto, que acaba me contagiando também. Assinto em concordância, porque era verdade, pelo menos para nós.

A caminhada era um pouco longa e cansativa e vez ou outra me deparava com olhares curiosos sobre nós duas, mas em específico, sobre minha amiga. Geo sempre despertava esses olhares em todas as pessoas que colocavam os olhos sobre ela, e eu confesso que ficava orgulhosa por minha amiga ser tão linda, mas nós sabíamos que a única pessoa que desfrutava mesmo de tudo aquilo era Rafael, o namorado dela há 2 anos.

De minutos em minutos um gole era dado na garrafa de água e eu pensei que iríamos enfrentar aquelas caminhadas por longos anos devido nossa estadia na cidade, então era melhor acostumar.

Quando chegamos mais perto da praia, era como se eu sentisse meu peito ficar pequeno para o tamanho da alegria que eu sentia. Ao que fomos nos aproximando, eu sentia o ar ficar mais fresco e resquícios de areia baterem em minhas bochechas que faziam meus olhos lacrimejarem, e eu sabia bem que não era porque incomodavam, afinal eu estava de óculos.

Desde pequenas, eu e Geo sempre planejamos que se tudo desse certo, nós íamos fazer da nossa amizade um passaporte para uma vida juntas. Desde nossos 14 anos imaginávamos como seria viver em uma cidade grande, e apesar dos perigos, era o nosso sonho.

Quando completamos 16, ela em fevereiro e eu em agosto, nós tínhamos ideia do que queríamos seguir como profissão, e quando soubemos que a Universidade do Rio tinha nossos sonhados cursos, enlouquecemos.

E a partir daí cultivamos o pensamento de vir morar aqui, a contragosto de nossos pais protetores. Apesar da oposição aos nossos desejos, eles vieram nos apoiando desde então. No ano retrasado, com 18, nós tentamos o vestibular, mesmo despreparadas e com medo do que poderia acontecer. Não fomos aprovadas, e é engraçado imaginar que até nisso o destino deu conta.

Tentamos denovo no ano passado, agora com 19 anos e depois de estudar feito duas malucas, nós finalmente conseguimos. Os gritos de felicidade por termos realizado a primeira etapa dos nossos sonhos eram ensurdecedores.

Então logo tratamos de começar a planejar nossa vinda para o Rio. E lá estávamos nós, em frente à praia que tanto víamos por fotografias e vídeos.

Como duas crianças nós corremos em direção a areia e o contato do material com meus pés fez as lágrimas desabarem dos meus olhos, e eu acabo abraçando minha amiga. Depois dos minutos de emoção, nós procuramos um cantinho para ficar naquele espaço, colocamos os chinelos para marcar e começamos a revezar quem entraria no mar. E assim passamos algumas horas ali.

Na hora de sairmos, Geo resolve dar mais um mergulho no mar, e eu fico ali esperando ela voltar, quando de repente eu sinto uma bola bater no meu pé, automaticamente eu desço meu olhar para o objeto, franzindo o cenho.

O tempo de analisar a bola colorida é suficiente até que sou interrompida por um rapaz moreno. Ele possuía um sorriso feliz estampado na boca, e coçava a nuca, como se estivesse envergonhado.

— Hm... Desculpa! Te machucou? — ele pergunta preocupado, e só então percebo seus trajes: um shorts de tecido branco que destacava sua pele avermelhada. Apenas isso. E seu corpo era levemente malhado. Ok, para de olhar, para de olhar, para de... — Moça, eu falei com você. — ele adverte e naquele momento eu queria enfiar minha cabeça naquela areia quente tamanha era a vergonha que eu sentia por encarar o homem daquele jeito.

— Desculpa... Não, não me machucou, não se preocupe. — eu asseguro, oferecendo um sorriso sem graça, ao contrário dele que parecia de divertir com a situação.

— Tudo bem. Eu sou o Lucas, e você, quem é? — ele pergunta e eu arqueio a sobrancelha por sua curiosidade.

— Me chamo Cristina, legal te conhecer Lucas. — digo tentando ser gentil, mas qual é, eu não conhecia ele, e um estranho bonitão perguntando meu nome no meio do sol quente era um tanto estranho para mim.

— Prazer em te conhecer Cristina. A gente se vê por aí. — ele brinca, ainda com um sorriso no rosto e percebo que a pele do seu rosto e ombros estava úmida, provavelmente do suor. Engulo em seco com meus pensamentos eróticos sobre aquela situação. Ele pega a bola dos meus pés e se distancia, me deixando levemente ofegante.

— Me diz que você pegou o número desse cara lindo. — Geovana se pronuncia, me assustando. A olho incrédula.

— Não, não peguei o número de um estranho Geo. — digo quase mal humorada, fechando a cara.

— Ah! Que pena, vocês fariam um belo casal. — ela diz como se aquela informação fosse a mais comum do mundo.

— Doida. — resmungo, escutando sua risada enquanto nós caminhávamos para a orla da praia.

Eu estava calorenta, suada e com fome, por isso resolvemos parar em uma lanchonete mais afastada dali, que não parecia tão cara, e fizemos nossa refeição que consistia em um misto quente e refrigerante bem gelado. Ótimo alimento para as 11 horas da manhã.

Eu sentia que aquele passeio já estava finalizado quando senti meu estômago cheio e a preguiça começando a me dominar.

— É melhor que a gente volte pra uni, Cris. Estou cansada e as aulas já começam amanhã, não quero estar morta no primeiro dia. — Geovana, como quem lê meus pensamentos, diz num tom baixo e eu apenas concordo com um murmúrio positivo.

Pagamos a conta, e como a emergência da preguiça havia sido ativada, nós pedidmos um carro pelo aplicativo.

Alguns bons minutos depois ele já parava em frente ao estabelecimento que nós estávamos, e ao nos desperdimos do senhor gentil que supostamente era o dono da lanchonete, embarcamos no veículo que nos levaria até em casa.

Ao finalizar a corrida e pagar por ela, eu e minha amiga trilhamos o caminho até o quarto e depois de um novo banho geladinho, caímos na cama, dando por final o passeio que acabou se resumindo a ir até a praia, e mentalmente eu anoto que da próxima deveríamos levar um guarda sol e uma cadeira, mas sequer me dou conta do meu subconsciente me puxando para um sono que duraria a tarde inteira.

E De Repente, Era Amor - T3ddyWhere stories live. Discover now