Capítulo 1

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Os pedais estavam indo rápido demais, percebi isso antes que ele pudesse colocar os pés no chão forçando a bicicleta a parar, fazendo com que ele fosse arremessado para frente e ao mesmo tempo caindo de lado. Na hora até que eu queria ter feito alguma coisa como correr até lá e segurá-lo, ou impedir tudo aquilo; mas sou do tipo de pessoa que sente medo de agir, de consertar as coisas achando que ela só irá se destruir mais ainda. Mas foi depois da queda, do choro, que veio minha ajuda; e foi como algo inconsciente e involuntário, corri e lá estava eu oferecendo minha mão, a mão que por fim quase foi ignorada pois o garoto me olhava estupefato e choroso de dores.

Coisas desse tipo nunca aconteceram comigo; deixei a bicicleta na minha casa que estaria isolada na rua se não fosse por mim, e ajudei o menino a chegar até minha casa pois precisava cuidar de seus ferimentos. Mas isso foi o começo de nossa amizade, não existiria nada de nossas conquistas ao longo desses anos se não fosse por essa queda.

Hoje em dia esse garoto está com 17 anos de idade, e mora a algumas ruas de distância da minha, tem uma irmã caçula de 10 anos e mora com a mãe divorciada. Nos vemos quase todos os dias da semana, e nossa amizade é um símbolo de algo verdadeiro e sincero, e estamos juntos na mesma escola há três anos consecutivos. Mas deixando de lado um pouco sobre nós, existe um "eu", e esse "eu" se modificou muito há cinco anos quando fui espancado na escola, um acontecimento que me deixou por consequência algumas sequelas e que acabou piorando meu problema de bipolaridade. E lembrando que mesmo mudando de tal maneira meu humor, Mathew continuou ao meu lado me apoiando sempre, me fazendo sorrir nos momentos difíceis, me contagiando com seus olhos castanhos e seus lábios serenos.

Fora o Mathew, tenho mais dois amigos que considero os meus verdadeiros: Amy Kleyn, de 18 anos; e Tony Martini, de 17 anos. E muitas vezes juntamos nós quatro pra irmos ao lugar que mais nos encontramos, e passamos a chamá-lo de 'Seleiro' que é um depósito abandonado de pilhagens e ferramentas que usariam na construção de uma antiga ferrovia, fica bem distante de minha casa, mas não é tão abandonado assim pois já conhecemos uma senhora que costumava a ir lá em alguns dias da semana, mas nunca explicou o motivo de suas aparições.

No Seleiro eu posso subir no lugar mais alto que tem ali pela escada de ferro, e ver grande parte do bairro e das casas, dos carros, as pessoas que passeiam em determinado rumo - às vezes penso se elas realmente se importam no investimento de seus rumos, se realmente sabem onde tudo acabará. Eu me preocupo com isso, me preocupo em como vou aproveitar durante o rumo até a felicidade - ou será que a felicidade se encontra durante este rumo até o fim - e o que se encontra no fim de minha caminhada?

Mathew aparece em casa muitas vezes quando começa a chover, mesmo que ele se molhe, sem estar agasalhado, eu tenho certeza que quando chove ele estará batendo em minha porta; ele diz que prefere aguardar que acabe a chuva junto de mim, aproveitando pra ver se estou bem. Creio que não tenho nenhum problema com os trovões, muito menos com a chuva, mas ainda assim não questiono sua presença em meu quarto, quando vemos filmes debaixo do cobertor, ou comendo chocolates e salgadinhos, e outras vezes dançando os hits que tocam na rádio (confesso que é a melhor coisa que fazemos).

S.L.M (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora