Capítulo 22

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Uma superfície fina e esbranquiçada chacoalhava por baixo do copo d'água.

Era uma pequena folha de papel, e só depois de alguns minutos absorvendo a informação da morte de Gellenberg, que caminhei até mais próximo, e olhei o papel por cima do copo, e vendo do que se tratava retirei a folha tomando todo o cuidado para não encostar no corpo da idosa. Olhei para Mathew como uma expressão de tristeza, ele se aproximou e lemos juntos a carta.

"Tenho certeza de que quem encontrou esta mensagem foi um dos adolescentes que eu vim me interagindo nos últimos dias, com certeza vocês foram minhas únicas companhias, não tenho vizinhos ou parentes por perto, então aviso que eu finalmente descobri como resolver o fato de não poder ver meu falecido marido, decidi me render à vida após a morte, e assim vou poder entender melhor do porquê eu não conseguir vê-lo mais. Neste momento eu posso estar com ele, ou aqui mesmo na cozinha observando vocês. Agradeço por tentarem me ajudar nesse momento confuso pra mim, agradeço por ter sido alguém que contava histórias... Mas agora este conto se tornou lenda. Shawn, estarei sempre a disposição se um dia você quiser entrar em contato comigo. Não deixem que a polícia descubram esta carta, não quero envolvê-los mais em problemas, o número de telefone de meus sobrinhos está anotado num papel na geladeira, liguem para eles em anonimato e notifiquem de minha morte. Fico grata por tudo que fizeram, mas um dia as flores se desabrocham e encontram um lugar melhor para viver."

Minha mão permaneceu parada, apertando o pedaço de papel que se esmaecia embaixo de meus dedos úmidos de suor, e assim que dei conta de que era tudo verdade, me virei para Mathew e tirei as primeiras palavras da boca.

- Ela fez isso pelo Adam.

Mathew ainda encarava a carta, e a as palavras escritas a mão. Ele suspirou, fechou os olhos lentamente e voltou a abri-los. Voltei a observar o corpo da falecida e tentei imaginar quando ela havia se matado. Os comprimidos que haviam no frasco eram nada mais que cianureto, uma maneira bem eficaz e indolor de se matar, tendo apenas alguns minutos de consciência antes de cair em um sono profundo e eterno.

- Vamos sair logo daqui. - acrescentou Mathew.

- Eu tenho que ligar para os sobrinhos dela - falei - É o mínimo que devo fazer.

Ele me olhou com rapidez e voltou o rosto para a geladeira procurando a sequência de números que estava anotado em um pequeno pedaço de folha amarelada, ele caminhou até ela e o arrancou de debaixo do imã que o segurava.

- Bem, aqui está o número. Agora, vamos!

- Calma, amor! - exclamei. - Eu sei que é um pouco doloroso, por mais que não conhecia ela, já é a segunda pessoa que conhecemos que morre nesse mês. - respirei fundo, e tentei tirar palavras para descrever o que eu estava pensando no momento - Se quiser esperar lá fora eu entendo, mas eu acho que ainda preciso analisar um pouco mais isso.

Eu percebi que ele queria resistir e discutir, mas ele me olhou e apenas voltou para me beijar, saindo pelas cortinas que se movimentaram em sintonia.

Será que Carina havia pedido a Gellenberg que fizesse isso? Ou ela a havia feito por conta própria? Isto tudo parecia estar ficando mais confuso. Olhei para o rosto imóvel da idosa, e com movimentos compactados, passei os dedos por sua pálpebras, fechando-as para todo o sempre.

Imaginei se nesse momento ela estava ali me observando como disse na carta, ou estaria caminhando por aí com Adam. Não deveria tocar em mais nada ali, por mais que tenha sido um suicídio, os sobrinhos dela talvez gostariam de pedir uma procura de digitais pelo recinto. Lembro-me de ter tocado em algumas coisas na sala, e naquele momento eu apenas queria que eu não tivesse feito isso. E se ligassem para minha casa, e dissessem que encontraram minhas digitais na casa de uma idosa que foi morta por envenenamento, e que na verdade era tudo um assassinato que fizeram parecer suicídio?

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now