Capítulo 29

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Mathew puxava meu cabelo para trás, evitando que ele caísse sobre a testa impedindo minha visão, enquanto eu agarrava com as duas mãos a beirada do vaso sanitário e forçava minha cabeça pra dentro dele, sentindo meu estômago se contrair e empurrar o que estivesse dentro de mim pela minha garganta que já estava em chamas. Nunca tinha passado por isso com Mathew, e agora eu estava sem camisa, sentindo o odor de vômito que me deixava mais enjoado, e sentindo a mão macia dele que percorria pelas minhas costas.

- Devagar, Shawn. - dizia ele - Não force muito.

Vomitava.

- Isso. Agora respira.

Ânsia. Refluxo. Vomito. Respira. Refluxo.

- Ai... Tá... Doendo muito. - falava.

- Eu sei. Fica calmo.

Mathew pegou um pano úmido que estava do seu lado e passou em meu rosto e em minha boca, abaixou a tampa do vaso e deu descarga. Me fez encostar a cabeça em suas pernas e me deitar no chão, enquanto assoprava de leve meu rosto.

- Está melhor? - perguntou ele. Assenti com a cabeça.

Respirei fundo e encarei os olhos caramelados dele.

Algumas horas antes, estávamos no meu quarto, sentados no carpete, encarando um ao outro.

Ele tinha trazido uma caixa de donuts com cobertura de chocolate e morango, junto com um sorriso. E comemos metade deles, enquanto falávamos sobre a escola, sobre as matérias, sobre Mike que encarava Mathew às vezes no intervalo, e sobre o que meu pai havia dito de manhã. Ele tentou me passar alguns ensinamentos da semana que acabara, e o que ainda estava fresco em sua memória.

- Sobre matemática... Estamos revisando os conceitos sobre progressão aritmética, você sabe, a gente já viu isso. Lembra?

- Tem a ver com semelhança entre triângulos? - questionei, com um certo tom de desafio na voz.

- Pelo jeito você não lembra. - zombou ele. - É conhecida como P.A., querido. Vamos pesquisar algumas coisas aqui na internet pra relembrar.

Ficamos um bom tempo falando sobre números, genética, álgebra, e tudo que eu havia perdido na sexta-feira. Minha mente começou a difundir-se entre a escola e os deveres, e o momento em que eu não poderia evitar de voltar para lá, comecei a pensar na morte de Gellenberg, na alma do Sr. Adam Gellenberg, e minha cabeça começou a latejar.

- Shawn, você está bem? - indagou Mathew.

Não respondi, apenas me levantei e apertei minha têmporas com o polegar e o indicador numa tentativa de massageá-las. Mathew se levantou junto comigo, preocupado.

- Shawn?

Eu o ignorei. Sua voz era uma pontada em meu cérebro.

- Me responde. O que houve?

- Fique quieto! - gritei, me afastando alguns passos, ainda com as mãos em meu rosto, me curvando levemente para baixo.

Ele calou-se.

- Eu não quero voltar pra aquela escola. Não quero ter que olhar para a cara do Mike. - exclamava eu. - Não quero mais sofrer.

- Você não precisa voltar... - tentava acalmar-me, se aproximando.

- Não minta pra mim! - me ajoelhei no chão e comecei a chorar. - Eu não aguento mais, Mathew.

Ele se abaixou, e passou a mão em meus cabelos.

- Vai ficar tudo bem.

Meu choro não parou. Pelo contrário, ficou mais forte, e veio com soluços e pontadas, que me fizeram contrair o diafragma, perdendo a fala e um pouco do ar.

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now