Capítulo 17

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Tive que insistir bastante para que minha mãe me deixasse sair hoje, sendo que sua desculpa se rondava em torno do tempo frio, e de que eu vinha saindo muito ultimamente. Talvez ela estivesse desconfiando um pouco sobre a relação entre eu e Mathew, porém eu pude sair livre para o encontro no Seleiro, esperando que todos já estivessem lá.

Mathew já estava, sentado sobre um pedaço de concreto, carregando consigo debaixo do braço direito uma bela cesta coberta, e que cheirava muito bem. Lhe beijei de leve, mas devagar para desfrutar de seus finos lábios, que continham um gosto adocicado de pêssego. E realmente não era algo de minha cabeça, pois na cesta ele trouxera alguns pêssegos e maçãs extremamente avermelhadas, e tendo que esperar ele deveria ter comido algum deles, deixando esse sabor doce em sua boca.

Assim que Tony e Amy chegaram, quase havíamos tomado conta de todas as frutas, tendo deixado pouco mais de um terço das que continha inicialmente, e comeram algumas destas esperando a Sra. Gellenberg. Amy tentava explicar o motivo de seu atraso, mas eu realmente não me concentrei em suas palavras pois Mathew me puxava para si com a mão no meu pescoço, me dando delirantes beijos.

Por fim escutei os passos rasteiros e inconfundíveis da Gellenberg, e me separei de Mathew, vendo-á com um belo casaco roxo que de esticava dos ombros até as canelas, e as mesmas botas do dia que nos encontramos ali mesmo, e o cajado de madeira em sua mão. Parecia uma bruxa, e eu não duvidava muito.

- Olá, senhores. - balbuciou ela, respirando lentamente após - É uma alegria vê-los aqui novamente.

- Olá, Sra. Gellenberg. - disse Amy. Eu, Mathew e Tony dissemos um acolhedor "Oi".

- Eu só gostaria de anunciar que se vocês quiserem ir para algum lugar protegido deste vento frio, ou mais seguro assim que a noite chegasse, se for do gosto de vocês, poderemos ir para minha residência aqui perto. - dizia a senhora que permanecia a se segurar com o cajado.

Todos estavam olhando para ela, mas viravam os olhos entre si tentando perceber a reação de cada um em relação à pergunta. Por mais que fosse uma pessoa agradável, seu pedido parecia um pouco ameaçador no momento por não sermos tão íntimos. Mathew estava do meu lado direito, segurando minha mão, que senti apertá-la com um pouco de força.

- Adoraríamos. - respondi com um resplandecente sorriso.

Com minha visão periférica notei os rostos se voltarem um pouco pra mim surpresos, mas permaneci a encarar a velha que também parecia estar surpresa com a afirmação, e voltei a apertar a mão de Mathew como em resposta. Minha curiosidade poderia acabar ali.

- Mas a senhora poderia começar sua história aqui mesmo, logo mais tarde iremos para sua casa. - concluí.

Então nos sentamos por ali mesmo, esperando que a Sra. Gellenberg continuasse seu conto. Ela respirou fundo, olhou para cada um de nós, e com as duas mãos apoiadas sobre o cajado, começou:

- Depois que fui morar com Adam, aos 19 anos, pretendemos arrumar empregos para ambos. E como adorávamos ler e administrar coisas do tipo, nos candidatamos para secretários da biblioteca que antes nos conhecemos. - dizia ela serenamente - Por mais que eu evitasse, eu não conseguia deixar de ver alguns espíritos, ou ouvir. Eram espíritos que até antes não eram de minha conta, mas eu não podia retirar os meus conhecimentos sobre o plano espiritual que adquirí, não havia como esquecer, e eles sabiam disso. Eles notavam em cada lugar que eu era uma médium, e me procuravam para conseguir respostas ou até mesmo enviarem mensagens.

Permanecemos silenciados.

- Me desabafei com Adam, ele já sabia dessa minha capacidade, mas a pressão que eu tinha naquela biblioteca era muito grande. Encontrei espíritos que morreram ali há séculos antes de ser construída a biblioteca, e agora procuravam uma saída. - continuou ela um pouco ofegante por ter apressado a fala - Tive que arranjar outro emprego. Em um lugar mais calmo e purificado, longe de energias negativas e entidades. Abri uma floricultura. Isso foi mais uma das melhores coisas que me aconteceu, pois além de me livrar de vozes e visões, eu estive presente com milhares de flores lindas e aromatizadas.

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now