Foi instantâneo. Voltei minha atenção para a muvuca que tinha dentro do estabelecimento, e virei a cabeça em todos os cantos procurando pela mesma faceta feia e desajeitada de Mike.
Isso não devia estar acontecendo.
Mike, o garoto mais preconceituoso e homofóbico que conheço estava ali.
Minha respiração ficou ofegante e meus batimentos cardíacos aceleraram, me virei para Mathew que tomava sua bebida despreocupadamente e falei:
- Mathew, a gente precisa ir.
Ele se virou pra mim, e com uma feição de incompreensão exclamou:
- Quê?!
- Eu disse: a gente precisa ir!
- Por quê?! - perguntou ele.
Eu me levantei do banco e me posicionei bem a sua frente de costas para a multidão.
- O Mike viu a gente! Vamos! Eu não quero mais ficar aqui! - falei, pegando em sua mão.
- Como assim?! - gritou ele, enquanto se levantava e se dirigia comigo até a porta de saída. - Shawn!
- Já vou explicar!
Finalmente conseguimos passar pela pessoas que se espremiam e pulavam entre nós, e passamos pelo corredor de saída chegando até a sala de recepção onde compramos as pulseiras. O som havia diminuído mas parecia que eu estava debaixo d'água, e que meus ouvidos não funcionavam direito, ouvindo fortemente um zumbido.
Me dirigi ao banco estofado onde já haviam umas três pessoas sentadas conversando, e acabei tendo que me guiar pela parede com a palma de minha mão, quase me arrastando pela parede, enquanto ouvia o tocar incessante do zumbido em minha cabeça. No mesmo instante veio uma dor de cabeça, e minha visão falhou por um momento, me fazendo perder a noção de espaço e desabar no chão.
Uma dor horrenda percorreu pelo meu braço direito, mas eu forçava os olhos e não descobri de onde veio a dor. Mas era algo fervendo dentro de mim, que me apertava o local perto do meu cotovelo.
Senti que alguns braços me ergueram, e a visão veio aos poucos, com grande parte dela produzida como se eu estivesse olhando diretamente para o sol. A dor na cabeça e no braço ainda não haviam passado, nem o zumbido agudo.
Mathew estava me levantando. Agora pude ver seu rosto e sua expressão de terror.
Consegui virar levemente o olhar para meu lado direito, e vi o banco incrivelmente próximo de meu rosto. Eu devia ter caído e batido com o braço nele.
Ele tentou me erguer, colocando sentado no banco estofado, e avistei alguns borrões se movimentando atrás dele.
- Amor?... Você está bem? - pronunciava lentamente ele. E quase não conseguia entender de tão baixo que os sons chegavam aos meus ouvidos. Não escutava nem sequer a música.
- Minha cabeça dói. Não consigo te escutar direito...
- Tudo bem, meu amor. Fique sem se mover um pouco! - dizia ele. Os sons voltavam a surgir com mais intensidade.
- Mat... - murmurei - meu braço dói.
- Você caiu em cima do banco. Tá tudo bem agora. Nós já vamos embora.
Foi bom escutar isso.
Eu fechei os olhos e esperei que as dores cessassem, e o murmúrio na minha cabeça parasse. Mas as vozes vinham dali mesmo. Algumas pessoas sussurravam e me encaravam, estavam assustadas.
Vi Mathew se aproximando com um copo plástico com água. Ele me ofereceu e tomei um pouco, me sentindo levemente melhor.
Depois de cerca de cinco minutos, um tumulto que havia feito ali na área da recepção já havia sumido, e minha dor de cabeça melhorara grandiosamente. Então pude me levantar e sair com Mathew, desviando dos olhares curiosos.
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S.L.M (Romance Gay)
Teen FictionInseguro e temeroso de que poderia ser atingido por diversas situações, em que sua mente pode se tornar cada vez mais abalada, Shawn decide passar por cima de sua bipolaridade para tentar uma mudança maior na relação que tem com seu velho amigo de i...