Capítulo 7

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Por dezenas de minutos eu fiquei encarando abismado a face de meu celular, a tela havia trincado bem no meio, e continha desprezíveis marcas na sua lateral. Assim que chegamos em casa, conversei com Mathew e disse que precisava de um tempo para descansar também, mas eu apenas fiquei revirando os olhos, fixando-os no teto azulado.

O silêncio era extremo em meu quarto, fazia meus ouvidos chiarem, mas eu não queria mais do que isso, não queria escutar música alguma nem ver programa algum. Eu queria parar de pensar por um momento.

Pois nesse silêncio, foi possível ouvir a chegada de meu pai, a porta de entrada se chocando contra a parede atrás de si, os passos pesados sobre os degraus da escada, e a voz serena de minha mãe. Ambos conversavam no corredor. A respeito de mim.

- O quê houve? - disse meu pai. - Outra vez ele surtou?

- Ele não surtou! - respondeu minha mãe - Ele apenas passou mal no mercado. Acabei deixando-o sozinho por um tempo e...

- Isso é demais! O garoto sofrendo de seus colapsos e você se preocupando mais em suas malditas tortas.

Meu coração batia forte no mesmo ritmo que minha cabeça começou a latejar novamente.

- Ele estava bem! Ele está bem. - disse ela.

- Não sei por quê concordei em parar com os exames psiquiátricos...

- Ele melhorou, Carl. Isso foi apenas...

- Isso não foi um "apenas". Ele precisa voltar com os tratamentos. - continuava ele - Uma doença como essa deve se seguir à risca para finalmente ele ter um estilo de vida normal.

Ouvi apenas um choro recolhido.

- Desculpa por ter gritado... - respondeu meu pai.

- Eu quero que ele fique bem.

- Sim, claro que queremos. - e tudo silênciou-se.

Virei-me de lado na cama e esperei que entrassem para finalmente contar o que eu tanto temia. A porta se abriu e os pés tocaram o chão de madeira.

- Shawn? - era minha mãe.

Me virei devagar, e vi os dois um do lado do outro, ambos com uma expressão descuidada, me encararam.

- Digam... - falei deixando o medo exalar - Eu sei que querem me internar novamente.

- Não é assim, meu filho. - disse meu pai. Odiava esse tom de voz.

- Primeiro vamos tratá-lo com as consultas com seu psiquiatra. Lembra do Sr. Jerry? - disse minha mãe.

- Depois vão me colocar numa cadeira para me dar choques! - gritei. - Eu tomo meus remédios corretamente, não é mais necessário as terapias!

- Shawn... - dizia meu pai - Faça isso por você ou por nós. Isso vai ser bom pra você.

Silêncio.

- Colocaremos você de volta na psicoterapia na próxima semana. - completou meu pai. E saíram.

Apenas me deitei e cobri minha face no travesseiro, abafando os gritos e tentando me sufocar com todas aquelas mágoas. Logo levantei o rosto para respirar. Precisava ficar com Mathew.

Peguei meu celular, me mordendo por dentro pelo estrago, e digitei.

"Mat, preciso te ver. Meus pais querem começar com as terapias de novo!", e esperei pela resposta, que instantes depois ele me deu.

"Eu vou até sua casa. Minha mãe não está aqui"

"Mas você está com o braço machucado!" respondi.

S.L.M (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora