Capítulo 11

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Dois dias apenas conversando por telefone e mensagens. Mathew não queria aparecer pra mim do jeito que ele estava, dizia estar muito mal pela morte de Mindy.

Uma calça que meus pais haviam comprado no shopping há quatro dias atrás me serviu muito bem, era uma social preta que não deixava muito espaço de sobra por dentro, minhas finas pernas finalmente completavam boa parte dela. O terno era comprado, a gravata era do meu primo, ambos eram pretos combinando com a calça.

O espelho era uma face adversa de minha expressão, um mundo interpretado por fantoches e atores, uma realidade mentirosa. Eu não estava ali dentro, e não podia me sentir ali dentro, eu apenas me sentia fora de tudo: fora de mim, fora da realidade, fora do jogo...

Minha mãe trajava um vestido curto e negro, usando seu cabelo preso por trás, com longos brincos prateados e um salto de couro preto - uma atração aos mortos. Não gostava de olhar para os caixões, eles representavam o fim e o que você perdeu, significavam o senso das coisas que você não poderia dizer, como: "eu te amo". Isso não existe para alguém que morreu.

Portanto, ao participar do funeral, fiquei apenas encarando Mathew do outro lado do caixão, que via Mindy em seu vestido amarelo aparentando-se até mais jovem, porém não mudaria de estado. Diferente de Mathew, que em muito aparentava mais velho, com enormes olheiras, seu rosto mais fino e pálido, mãos trêmulas e corpo arcado - mas o único detalhe que lhe continuava igual, era seu cabelo.

Então desceram-se as flores, acompanhando o corpo, fechando o caixão escuro e escondendo-o sobre uma camada de terra - a Sra. Russel jogara um punhado de terra de suas mãos - , Mathew deu a volta pelas pessoas e se juntou ao meu lado. Nossos olhares continuaram fixos sobre o monumento que cobria-se de terra, não virei o rosto, mas senti a ponta dos dedos de Mathew tocarem os meus que levemente se apossaram de minha mão. Ele a segurou com força, mas permanecemos olhando para frente.

Houve poucas palavras neste dia. Eu o convidei para ele ir em minha casa, mas dissera que não estava no clima, e por mais que eu compreendesse, me ofendi um pouco por sentir que evitava me beijar. Mas isso pareceu ser besteira da minha cabeça.

Em casa eu permaneci parado em minha cama observando a palma de minha mão direita, tentando sentir novamente a mão de Mathew que a segurava mais cedo, mas não a sentia mais. Tudo estava parecendo tão monótono e triste, Mathew não se importava em se distrair com outras coisas, ele não queria mais contato comigo, muito menos com sua mãe. Meu celular parecia não haver serventia alguma naquele momento, mas logo vibrou em lembrete de alguma mensagem.

"Hoje foi um dia realmente triste", era Amy novamente.

"Com certeza", respondi. Apenas olhava as palavras que pareciam se embaraçar em minha mente.

"Encontrei aquela senhora. E ela topou conversar com nós", enviou ela se referindo à velha que frequentava o Seleiro.

"Mesmo?", escrevi, pensei se isso acabaria distraindo Mathew, talvez pudesse mostrar algo de diferente a nós.

"Que tal daqui a dois dias? Assim que passar toda essa melancolia...", completou Amy.

"Creio que será melhor... Esperarei até lá. Até mais", me despedi e coloquei o celular sobre a mesinha ao lado. Já estava na hora de dormir pra mim.

Tudo continuava escuro, como começou a ser desde que Mathew me deixou um pouco de lado, tudo estava caindo aos pedaços, e parecia cair sobre mim como folhas secas do outono sobre a calçada. A porta se abrira e alguém surge, se aproximando e acendendo as luzes do quarto - o que me causou náusea - continuei deitado com os olhos serrados, observei meu pai se aproximar e sentar na ponta de minha cama. Ele me encarava sério.

- Já estava deitado?

- Não estou muito bem... - falei - Quero dormir logo.

- Eu acho que você gostaria de saber que amanhã estarei te levando cedo para meu trabalho. - sim, ele diria aquilo... - Para que não precise caminhar até a clínica.

Minhas terapias começariam amanhã. Isso era uma péssima notícia, e de longe eu gostaria de saber sobre ela. Não disse nada.

- Espero que fique bem... - completou ele - Será apenas duas vezes por semana. Tudo bem, querido?

Acenei levemente com a cabeça. Ele piscou lentamente como um gato, e abaixou-se sobre mim para um beijo em minha testa. Eu queria que fosse Mathew em seu lugar.

Saiu e fechou a porta me deixando novamente na escuridão. Eu estava começando a me acostumar com as coisas ruins que estavam acontecendo, talvez pudessem piorar dali por diante, ou simplesmente acabassem. Mas eu ainda não sabia que rumo eu estaria seguindo ao acordar naquela cama no dia seguinte.

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S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now