Capítulo 5

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As batidas estridentes dos sapatos parcialmente limpos, e algumas vozes distantes, eram minha única distração, olhando os cantos da sala, as paredes dolorosamente brancas, e as macas de ferro que ficavam estacionadas num canto. Dependendo de apenas um pensamento, "Mathew sobreviverá?".

Mas isso era um pensamento futíl, por mais que eu soubesse que foi apenas um longo corte em seu antebraço, todo o desenvolvimento de culpa por eu tê-lo empurrado me perseguiu a ter esse pensamento. Enquanto eu aguardava impaciente respostas sobre Mathew, sentado num banco azul marinho com um estofado rasgado, sentia apenas minhas costas rígidas de tanto ficarem na mesma posição arcada por alguns minutos, e uma leve sensação de tontura causada pelo cômodo totalmente branco.

O relógio de parede marcava inconscientemente três e quarenta e oito da tarde, minha mãe debruçada sobre o balcão da recepcionista falava mais calma, ela havia carregado Mathew no colo com todas as suas forças até o carro, enquanto eu já esperava por ela no banco de trás. Eu estava absurdamente paralisado sem saber o que pensar naquele momento, vendo meu melhor amigo desacordado, e pra mim imaginei ter chegado no hospital de imediato.

Algo reluziu ao meu lado, uma porta se abrira e dela exacerbou-se uma luz quase divina, e uma pessoa surge de sua abertura, vestida com um jaleco e luvas claras, chamou nossa atenção pedindo para que entrássemos na sala em que a porta acabara de se abrir.

Vi Mathew deitado numa cama forrado por um lençol branco detalhado pelo nome do hospital, estava com seu antebraço enfaixado, e me veio uma dor no peito em pensar que por momentos em que estive descontrolado por pensamentos desfavoráveis acabei deixando meu melhor amigo deste jeito. Ele estava de olhos fechados, mas estava consciente, apenas descansando da cor estonteante do lugar, assim que me aproximei coloquei minha mão sobre a sua que descansava sobre a cama ao lado de seu corpo.

Ele despertou, e me olhou diretamente nos olhos. Por mais estranho que parecesse ele abriu seu sorriso de sempre, com as pálpebras pesadas sobre os olhos, me encarando.

- Você é forte, hein? - disse ironicamente me fazendo sorrir.

- Eu avisei sua mãe, Mathew - correspondeu minha mãe se aproximando de nós. - Ela não pôde comparecer, mas é importante para ela estar aqui se pudesse.

- Se fosse importante, ela estaria aqui. - concluiu ele num tom seco.

Permaneceu um silêncio sobre o recinto.

Logo aparece um rapaz de idade avançada, cerca de 47 anos ou mais, deveria ter cuidado de Mathew, entrou e se manifestou sobre o estado dele.

- Bem, senhora, vamos ver o quadro de Mathew Russel. - disse ele pegando uma prancheta que localizava-se ao lado da cama em que estava Mathew - Ele caiu da escada, certo?

Senti meu rosto ficar vermelho, a ardência tomou conta de mim e olhei para minha mãe, ela me devolveu o olhar e respondeu o médico com um aceno de cabeça, e ele prosseguiu lendo seu diagnóstico.

- Felizmente, ele levou apenas quatro pontos em seu antebraço no local do ferimento, não houve muita perda de sangue, então indico apenas que ele mantenha-se em repouso de dois a três dias até que o ferimento se feche. - Acenamos com a cabeça, e minha mãe apertou sua mão, ele saiu da sala.

- Você disse isso mesmo? - exclamei surpreso para minha mãe.

- Queria que eu dissesse que meu filho atacou o próprio amigo? Iriam te internar também. - disse ela sem pensar. - Sinto muito. Não foi isso que quis dizer...

- Tudo bem. Obrigado por não contar nada...

Eu realmente mereço todo esse tipo de intervenções? Parece que estive certo em não fazer nada em relação a beijar Mathew, se ele aceitasse ficar comigo, seria horrível conviver com alguém tão temperamental como eu.

- Sinto muito, Mathew. - falei por fim.

- Não se preocupe, está tudo bem agora. Fiquei inconsciente a maior parte do tempo, e nem senti tanta dor na hora que... me costuraram. - e fez uma careta de nojo que me fez rir. Ele riu junto. - Sinto muito, senhora Pratt. Não foi de minha intenção fazer Shawn te desobedecer. Eu só queria levá-lo para ver a migração dos morcegos-da-fruta.

- Tudo bem. - havia rido ela com o comentário, que até agora apenas eu sabia ser mentira. - Acho que fui um pouco... exagerada. - rimos - Bem, Mathew, acha que podemos ir agora?

- Acho que consigo carregar meu braço no corpo até chegarmos em casa - comentou irônico, e rimos novamente. Minha mãe ajudou-o a descer da cama e então caminhamos para fora do hospital.

A chuva parecia degradante, e parecia ficar cada vez mais forte, esperando que os para-brisas não dessem conta dela, em compensação minha mãe foi mais rápida e precisa ao levar Mathew para sua casa, nos despedimos apenas com um aperto de mão pois eu estava no banco da frente junto de minha mãe, e ele teve que descer do carro às pressas para não se molhar. Voltamos pra casa, e quando pensei que finalmente poderia descansar, minha mãe pega sua bolsa e veste seu sobre-tudo avermelhado, e diz:

- Coloque seu casaco. Vamos comprar umas coisas para a torta de amanhã.

Puxa vida. Eu estava realmente aos pedaços, minhas pernas estavam bambas, e minha cabeça doía um pouco, mas obedeci, peguei meu celular que havia deixado sobre a mesa de centro e agarrei algum agasalho que estava no cabide, que era o mesmo que Mathew me devolveu pela manhã. Peguei e saí junto com minha mãe, e entramos no carro.

Ela ligou o carro, e começou a dirigir, enquanto eu vestia o agasalho cinza e reluzente, e sentindo a delirante fragrância de que Mathew acabara deixando quando veio usando ele ao me entregá-lo. Eu não resisti em puxar a gola e aproveitar seu cheiro maravilhoso, lembrando de sua presença, um aroma tão doce que me fez arquejar sobre a roupa. Esquecendo completamente da presença de minha mãe ao lado, que me chamou a atenção ao notar que eu estava diferente.

- Tudo bem aí? - riu continuando a dirigir - Tem algo de errado com o agasalho?

- Sei lá. - falei repetindo o ato - Está com um cheiro diferente...

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S.L.M (Romance Gay)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora