Capítulo 26

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Se algum deles ousasse falar baixo para me intimidar eu nem acabaria ouvindo, pois as batidas do meu coração pareciam soar por todo meu corpo, sentindo próximo ao ouvido como se ele surgisse da minha cabeça, e assim eu não escutava muita coisa.

Todos me encaravam. E meus olhares se espalhavam ao redor, tanto para descrever a expressão em suas faces, quanto para encontrar alguém ou alguma saída.

Haviam apenas nós quatro. E nenhum lugar onde eu pudesse me esconder.

- Oi, Shawn. - exclamou Mike, num tom bem audível. - Não precisa ficar assustado que eu só queria conversar com você antes que você fosse embora.

Fiquei quieto. Os outros o encaravam.

- Bem - continuou ele - Saiba que não adiantou nada ter fugido do banheiro hoje. Você não vai conseguir se esconder sempre de mim.

"Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come."

"Você pode correr, mas não vai se esconder."

Essas eram frases que não saíam da minha mente enquanto a voz grave de Mike soava ao meu redor.

- Entendeu, seu bichinha?! - gritou ele. Tentei acenar com a cabeça em afirmativo. Ele se aproximou bem devagar de mim. - Você vai fazer pra mim o que eu pedir?

Fiquei estático.

Seus punhos haviam se fechado, e seus olhos estavam penetrando os meus. Cheguei a sentir sua respiração forte de tão perto que ele estava.

- Não. - falei por fim.

Ele riu, lambendo os lábios e olhando ao redor para seus amigos. E então ele se voltou pra mim, mas desta vez com um dos punhos acertando minha barriga, bem na região do estômago, o que me causou uma dor horrenda me fazendo dobrar-me para frente. Enquanto eu caía pra frente, me contorcendo de dor, ele ainda conseguiu acertar mais um soco em meu rosto.

- Vamos! Chutem! - gritou.

Eu sentia o gosto do sangue, junto dos pesados pés que chegavam com força, acertando meu queixo e a boca de minha barriga.

Eu já não sentia mais o ar entrando, e cada vez mais eles me acertavam com força. Eles cobriram todo meu corpo com chutes e porradas, me fazendo perder a visão e ficar jogado no chão sem poder reagir.

Minha cabeça doía, como da última vez em que eu havia sido espancado na escola. Eu tinha 13 anos, e nem era nesse mesmo colégio em que eu estudava. Um garoto encrenqueiro havia me batido, e logo uma roda se formou a nossa volta, com gritarias e assobios altos. Tudo por causa da maneira como eu andava, e por ser o garoto mais introvertido da sala. Como ele gostava de chamar atenção e sabia que de mim ele não iria perder, concluiu o início daquela briga que eu nem estava realmente disposto a começá-la; chamaram nossos pais, e fui levado ao hospital depois de ter ficado inconsciente. Me diagnosticaram mais tarde com bipolaridade.

Agora eu sentia tudo aquilo de novo, mas eram bem mais pés e mãos. Meu corpo estava totalmente dolorido, sentia o sangue quente escorrer pela boca e pelo nariz, e já não podia ver nada e muito menos ouvir.

Eu achava que naquele momento eu iria morrer.

Sim. Eu iria.

Mas eles pararam.

Depois de muitos instantes, tossindo e tentando puxar um mínimo de ar que fosse, eu abri um dos olhos, e observei três pares de pernas a minha frente. Eles ainda me observavam, e ainda queriam alguma coisa de mim.

Meu corpo todo ainda transportava dor. Latejava e ardia. Meus olhos estavam irritados, e minha língua havia sumido no fundo da garganta.

Um deles se abaixou, e meteu a cara na minha frente cobrindo grande parte de minha visão embaçada pelas lágrimas.

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now