Capítulo 2

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- Olá, Mathew. Pode entrar - dizia minha mãe carinhosamente - Shawn está em seu quarto.

- Ah, obrigado. Com licença... - passou pelo corredor mas parou em frente a prateleira de livros que se suspendia nela a televisão, e ao seu lado o aquário mais irregular possível, que continha um peixinho alaranjado. Mathew sempre passava por lá e o olhava com cuidado e apreciação, algumas vezes até dizia um "oi, Johnny".

Ouvi os passos no chão de madeira, mas só fui perceber mesmo quando bateu à porta, eu me levantei um pouco, estava deitado em minha cama com o notebook sobre o colo e arrumei a postura antes de responder.

- Entra! - deixei um sorriso tímido escapar.

- Já criou raízes aí? - disse Mathew rindo desajeitadamente.

Ri junto dele e dei espaço pra que ele sentasse ao meu lado na cama, deixando as pernas jogadas para fora e apoiando os braços sobre o joelho ele começou a me encarar.

- O quê foi? - ri e voltei o olhar para o notebook.

- Nada... Estou apenas pensando no que dizer.

- Dizer sobre o quê? - deixei de prestar atenção no que eu mexia mas continuei disfarçando fingindo estar ocupado.

- Queria que você fosse à uma festa comigo... - dizia ele, quando atrapalhei seu racionamento.

- Ah, não! Eu já disse que não vou em festas, sinto muito, mas isso é uma escolha. - respondi com certo desgosto.

- Poxa, eu só queria curtir algo assim com você pelo menos uma vez...

- Eu vou, uma vez, mas ainda não estou pronto. Você sabe as pessoas que frequentam essas festas, e é algo totalmente diferenciado dos meus gostos, fora que eu posso ter uma recaída.

Ficou então um doloroso silêncio sobre o recinto, senti a tristeza de minhas palavras sobre ele, eu queria muito aceitar esse convite e ir pra onde fosse com ele, mas devo perceber quando eu devo me limitar. Baixei o notebook e deixei-o de lado, cruzei as pernas e me aproximei dele.

- Me perdoe, Mat. - ele estava de cabeça baixa.

- Estou brincando! Eu não estou tão triste, pois consigo captar seus pensamentos.

- Consegue mesmo? - sorri pra ele desafiando-o.

- Aham.

- Então no que estou pensando? - falei um pouco mais alto me inclinando pra frente.

Ele parou por alguns instantes colocando a mão sobre o queixo mexendo em sua barbicha com olhar pensativo, algo que me fazia rir por dentro. Aguardei uma resposta, até que ele se levantou e se aproximou da minha caixa de som e ligou ela numa das nossas músicas favoritas.

De súbito veio a melhor e animada vontade de se jogar da cama e gritar o quanto eu gosto de estar com ele, mas apenas levantei-me de maneira associada a batida da música e comecei a seguir o ritmo que tocava do teclado. Ele se manifestou também, mexendo freneticamente as pernas para frente e para trás, de maneira que chegava a ser engraçado, junto dos braços que se erguiam acima de sua cabeça.

- Acertei? - perguntou ele enquanto continuava com sua coreografia esquisita, sem tirar o sorriso do rosto.

- Bem na mosca! - ri animadamente mexendo os braços semelhante aos dele.

Na verdade, eu só pensava nele...

Depois de uns quinze minutos cansado de criar passos aleatórios dentro de um local tão pequeno, que às vezes fazia Mathew bater o calcanhar na beirada da cama, nos sentamos no chão e falamos sobre exercícios físicos que deveríamos praticar.

- Shawn, olha o seu estado! - ria ele - Como você vai conseguir alguém sem nenhum músculo?

- Digo o mesmo de você! - ri junto dele, pois ambos parecemos ter a mesma massa corporal, mudando apenas por ele ser alguns centímetros maior do que eu.

Riamos e enxugávamos o suor que escorria sobre nossa testa, e sentados de frente um para o outro. Eu parei mais uma vez para notar os lisos fios de cabelo dele que se alinhavam e se moviam perfeitamente, acompanhando a mesma cor de seus olhos, que se queixavam de estarem fechados, pois queriam viver abertos para a beleza. Eu encontrava toda a beleza que precisava nele, nos finos lábios rosados, do queixo comprido, do maxilar quadrado, das orelhas pequenas e ovais; pequenos e estranhos detalhes que só eu ousaria perceber em alguém.

- Pensando no quê? - perguntou Mat ainda com o rosto caído e avermelhado de calor.

- Você não captava meus pensamentos? - falei e observei sua súbita reação.

- Não vê que estou exausto? - riu e continuou de cabeça baixa. Estava mesmo cansado.

- Vou buscar água gelada pra gente.

Levantei e percebi que o silêncio dele foi nada mais que um "sim" e um agradecimento, isso eu compreendi, e desci as escadas até a cozinha pra pegar da geladeira uma garrafa com água, e dois copos. Vi minha mãe entrando na cozinha também, ela estava com as roupas normais que ela usava em casa, o que significava que ela não sairia para vender suas tortas e guloseimas.

- Vocês não vão comer nada? - perguntou minha mãe abrindo a geladeira e retirando dela um pote de geléia para colocar sobre o balcão.

- Talvez depois, precisamos antes de água. - ela sorriu - Você não vai sair hoje?

- Não, querido. Estou preparando um outro sabor de torta que vai outros ingredientes. Ainda não estará pronto para esta tarde, então vou aproveitar pra descansar.

Confirmei com um movimento de cabeça e subi para meu quarto com a garrafa de água e os copos. Entrei e nos servimos, e depois de estarmos renovados e cheios de assunto, ficamos em minha cama vendo alguma série qualquer e discutindo assuntos aleatórios.

- Bem, já que você não quer ir na festa comigo, que tal irmos eu, você, a Amy e o Tony no Seleiro hoje? - perguntou ele pouco mais entusiasmado do que quando falou sobre a festa.

- Claro. Vou avisar minha mãe... - dizia, e já estava me levantando quando ele me puxou pelo braço fazendo-me sentar novamente.

- Não pode contar aos seus pais. Vai ser de madrugada... - pronunciou a última palavra num tom muito baixo que quase fui obrigado a pedir que repetisse.

- À noite? O quê vamos fazer lá de madrugada?

- Você vai ver. Mas deve confiar em mim... Topa? - enquanto ele dizia eu só podia notar os movimentos de sua boca, que me enlouquecia lentamente fazendo pensar como seria ela em contato com a minha. Imaginei que fosse algo que pudéssemos fazer nós dois sozinhos, mas lembrei que meus outros amigos estariam também.

- Tudo bem, Mat. - ele sorriu fazendo com que seus olhos se fechassem da maneira mais fofa.

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now