Capítulo 31

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É fácil manter-se deitado numa cama de hospital por um longo tempo, recebendo séries de medicamentos, quando não se tem que preocupar com pessoas tentando te atingir pelo o que você é. Mas quando você tem que se preocupar com isso, e ainda é monitorado a todo instante, sem ter o apoio de ninguém, viver desta maneira acaba se tornando um inferno.

Após eu ter sido apagado e colocado numa sala, da qual as paredes eram de um tom azul muito forte que não chegava a combinar com o branco tranquilizador dos objetos dentro dela, e eu ter acordado um tempo depois, a primeira pessoa que veio me ver foi meu pai.

Com certeza minha mãe estava fragilizada demais com a situação, e meu pai resolveu certificar-se de que meus sentimentos estavam seguros guardados bem fundo dentro de mim, e ao passar por aquela porta, com o rosto de quem estava arrependido ou muito decepcionado de si mesmo por não perceber que o problema estava tão perto de se agravar, eu senti mais raiva deles, por terem escolhido fazerem isso comigo, e de que, com certeza meu pai ainda se deitava na cama com o pensamento de que eu deveria voltar logo para a escola.

- Como vai? - brotou sua voz no recinto.

Não respondi.

- Olha, eu sei que era o que você não queria...

- Diferente de você. - respondi.

- Shawn! Eu não queria que ficasse aqui. Mas olha o que você fez. Isso é grave.

Grave. Grave. Grave. Grave.

- Cadê a mamãe? - exclamei.

Ele havia se aproximado e sentado na beirada da "cama" - ou você pode trocar facilmente a ordem das duas sílabas.

- Está lá fora. Ela quer pensar um pouco no que aconteceu hoje, antes de vir aqui.

- Onde está meu celular? Eu quero ele de volta!

- Calma! - gritou ele - Shawn! Está com o Doutor Jerry. Ele logo vai devolver para mim, mas por enquanto ele está ocupado.

- Droga. - balbuciei.

- O que houve?

- Preciso falar com Mathew. - respondi. - E Amy.

- Não se preocupe com isso. - dizia meu pai com a voz calma. - Eles já sabem que está aqui e que está bem. Logo eles poderão vir te visitar.

Eu não estava bem.

Será que eu realmente estava precisando de tratamentos? Eu estive me negando a isso o tempo todo? O ocorrido anteriormente foi uma consequência óbvia de que eu não estou bem psicologicamente?

Eu não sei o que eu quero.

Eu quero estar com Mathew. Mas não quero machucá-lo. Olha os problemas que eu causo.

Talvez eu deva tentar me comportar pelo menos um pouco como um cidadão capacitado de melhorias psíquicas, de que ainda possa haver sanidade em mim, de que eu sou alguém seguro.

- Pode chamar a mãe aqui?

- É claro. - respondeu ele. E então se afastou, saindo pela porta ao meu lado direito, e deixando que outra figura aparecesse.

Ela estava com pequenas olheiras, e sua leve maquiagem havia borrado e escorrido sobre as bochechas, seus cachos negros desarrumados sobre os ombros, a boca clara e seca procurando palavras para dizer. Foi se aproximando devagar, quase chegando a chorar novamente - pois creio que já havia chorado bastante após a notícia até ali - ao olhar para meu rosto, e puxando uma cadeira para perto da cama, me olhando ainda mais de perto, eu pude dizer.

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now