Capítulo 3

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Partindo do princípio de que minha mãe tem um certo delírio quando eu saio de casa em relação à minha doença, e até das pessoas que podem estar em contato comigo, se eu realmente quiser estar presente hoje à noite no Seleiro, eu devo planejar muito bem minha fuga. Minha mãe também é o motivo para eu não ir em festas, pois ela acabou colocando em minha cabeça coisas do tipo que acabaram me assustando, e me recuso a achar que estar perto de Mathew me traga algum perigo, pois ele sempre cuidou de mim quase tanto quanto meus próprios pais. Ele ainda deve me agradecer pela aquela simples boa ação de ajudá-lo a se recuperar do tombo, tenho certeza que não foi nada tão grave, mas parece que Mat ficou realmente grato.

- Para não levantar muita suspeita eu vou embora daqui, às sete horas... - dizia Mat em baixo tom. Sua franja cobria seus olhos parcialmente.

- Certo! Temos duas horas e meia. Como faremos para eu sair de casa? - indaguei.

- Seu pai vai chegar do trabalho às oito e quinze da noite, e sua mãe vai permanecer aqui.

- Eles vão se deitar no máximo às uma da manhã. Então devo permanecer dentro de casa até esse horário. - completei observando que ele confirmava minha ideia com o olhar.

- Você ainda tem aquele walk talk? - perguntou Mat, e nesse momento me assustei de leve mas deixei um sorriso no ar quando me levantei e retirei uma caixa de papelão de baixo de minha cama, dela eu puxei o brinquedo, que ganhamos quando eu tinha oito anos de idade, e Mathew tinha nove.

- Que maravilha. - riu Mat pegando o objeto e o tocando com as duas mãos - O meu ainda está guardado, mas eu o encontrarei quando chegar em casa e nos falaremos por ele.

- Por quê não usamos o telefone?

- Por que não seria uma aventura secreta se não usássemos um walk talk - rimos. - E não pretendemos deixar vestígios de nossas chamadas...

- Ok. Entendi. - ficamos calados e logo o silêncio fez voltar o raciocínio.

Depois de alguns demorados e cansativos minutos pensando sobre todo o plano, o ponto de encontro, Mathew se levanta e se despede, sempre do mesmo jeito: um forte e indescritível abraço.

Acompanho ele até a porta e fico vendo ele partir, algumas vezes se voltando para ver se ainda permaneço vigiando-o, e então continua caminhando, para nosso novo rumo.

Corri desesperado até meu quarto subindo as escadas de maneira frenética, pois eu tenho uma vontade imensa de organizar minhas ações e eventos sempre que posso, então eu entrei em meu quarto e tranquei a porta (uma escolha que meus pais já aceitaram, pois antes eles eram mais vigilantes), joguei meus All Star's para detrás da porta e me joguei na cama, me cobri com meu cobertor favorito, e apanhei um bloco de notas em cima da escrivaninha ao lado da cama. Fui escrevendo todos os passos de minha fuga, tão ansioso e nervoso, apenas tentando saber o quê faríamos esta noite que nem percebi o tempo passar, quando vi já era mais de dez horas; eu devia ter me perdido em pensamentos enquanto a chuva batia levemente na janela, o delicioso e calmo som da chuva. E nesse momento eu esperava que Mat viesse me ver, agora não podia, então peguei o walk talk e tentei fazer ligação com o dele, já devia ter dado tempo o suficiente de encontrar o walk talk. Chamei pelo seu nome, "Câmbio, Shawn chamando por Mathew...", chamei novamente e esperei.

- Câmbio! Estou aqui... Achei ele há quase uma hora, pensei que não fosse me chamar.

O som não estava perfeitamente audível, porém dava para saber que era ele, e dava para entender a frase mesmo que cortasse uma palavra ou outra.

- Incrível como ainda pega tão bem depois de tanto tempo em desuso... - riu e o chiado do aparelho respondeu por mim.

- Estou ansioso demais - ri de maneira sem graça, com uma das mãos eu enrolava os cachos de meu cabelo. - Você não vai contar o que vamos fazer lá? O quê pode ter de tão interessante hoje à noite?

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now