Capítulo 39

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Quase perdi a cabeça durante aquela noite depois do jantar, mesmo tentando não demonstrar aos meus pais meu ódio e frustração, mas adiar a minha volta só estaria sendo pior para mim. Contei aos meus amigos e pedi um pouco de suporte a eles, mas logo ficou tarde, e tanto eles quanto Mathew tiveram que se deitar para a aula no dia seguinte, e optei por falar com Doug.

"Odeio meu pai!", escrevi.

"Pra quê o ódio?", perguntava.

"Voltarei para a escola onde sofri agressão. Por escolha dele".

"Calma! Como assim? Foi agredido por quê? E como ninguém parou isso na hora?"

"Não sei ao certo", menti, "Mas não foi dentro da escola, foi próximo dela, em uma rua deserta."

Nossa conversa não durou muito mais que uma hora, pois decidi que seria melhor pra mim se eu acostumasse a dormir cedo desde já, e concordando com isso ele fez com que eu me deitasse. Com a mente conturbada e totalmente bagunçada foi difícil me concentrar em dormir, fixando o olhar para o nada obscuro.

Me virava para um lado. Apertava as pálpebras. Me virava para o outro lado. Me descobria. Acendia a luminária. Abria os olhos. Me cobria. Me virava de bruços. Apagava a luminária.

Quando percebi, uma voz calma me chamava, na manhã seca e fria, enquanto minha cabeça palpitava levemente de dor. Minha mãe estava em pé ao lado da cama e ainda me chamava, dizendo que meu pai queria que eu despertasse logo cedo, e vendo que eram 6:20, soltei um murmúrio de desgosto e me virei de costas para ela.

- Ainda não sumi. Não finja que não escutou, Shawn.

- Tá bom, mãe. - grunhi.

Vendo que uma pequena e suave nevasca caía lá fora, decidiu abrir a janela com cuidado, deixando o vento gélido percorrer o quarto, e voltando a mim, retirou com força o cobertou de cima de mim, apenas aguardando que eu levantasse.

Sentindo o frio intenso, sem nada próximo que me pudesse esquentar, comecei a tremer, e fui obrigado a me virar para ela, levantando da cama e correndo atrás do cobertor em suas mãos. Ela por sua vez jogou a manta por cima dos ombros como uma capa enorme, e passou pela porta aos saltos, descendo apressada as escadas, enquanto eu corria em sua direção gritando injúrias.

Naquele dia recebi algumas tarefas de casa que deveria realizar, sendo uma delas arrumar todo o material escolar na mochila para o dia seguinte.

Mathew e Doug conversaram comigo aquela tarde, e me senti mais seguro para enfrentar o que viria em seguida.

******

Quando tocou o despertador, com o toque estressante da qual já havia esquecido, me movimentei vagarosamente até a porta do banheiro, arrastando minhas pantufas azuis. Escovei os dentes com desdém, me arrumei sem animação alguma e fora da mesma forma que me apresentei para a figura borrada no aquário parado na prateleira do corredor, descendo até a cozinha para comer e logo depois ser levado até a escola pelo meu pai.

O mesmo cheiro de café fresco no ar me deu uma sensação de nostalgia da qual não me agradou, junto com o odor das cinzas do cigarro do meu pai que caíam pela janela do Volvo preto.

- Boa aula. Até mais. - surgiu a voz grossa de dentro do carro, assim que eu me afastei dele.

Acenei com a mão livre, e continuei a caminhada.

Mesmo portão cinza, mesma pintura retrô, mesma secretaria, mesmas pessoas. Entrei na sala e me sentei na última cadeira da última fileira, vendo que de uma delas se levantara Amy, vindo falar comigo.

S.L.M (Romance Gay)Where stories live. Discover now